Neste Brasil extremamente confuso e tomado por elites reacionárias, há tantas bravatas apelativas, que tentam se vender como "austeridade".
Tentando "mostrar serviço", o vereador paulista e membro do Movimento Brasil Livre (ou "Movimento Me Livre do Brasil"), Fernando Holiday, anda fazendo visitas surpresa às escolas da cidade de São Paulo.
O objetivo é "verificar" se as escolas estão fazendo "doutrinação política" aos alunos.
A medida faz parte do projeto Escola Sem Partido, apoiado pelo vereador.
A Escola Sem Partido é uma grande farsa, um projeto de cunho medieval.
Mais parece "Escória Sem Partido", que se destina a proibir que escolas promovam debates com os alunos, a pretexto de "evitar a doutrinação política", ou seja, a transmissão de abordagens identificadas direta ou indiretamente com o esquerdismo.
Na Escola Sem Partido, é proibido debater, por exemplo, sobre a questão do aborto para mulheres que foram vítimas de estupro.
Ou informar aos alunos sobre as novas estruturas familiares, como por exemplo um casal de homens homoafetivos que adotam filhos.
Mas a ESP aceita que se transmita aos alunos fantasias religiosas das mais absurdas.
Se ensinar que a humanidade nasceu com Adão e Eva e esta nasceu de uma costela do seu marido, então pode.
Mas não pode, por exemplo, falar da brilhante trajetória do arquiteto Oscar Niemeyer.
Ironicamente, Fernando Holiday é negro e gay. Mas para ele tanto faz a Escola Sem Partido ignorar a luta dos negros na História do Brasil e a formação de casais homoafetivos de homens e mulheres.
Holiday quer abolir o Dia da Consciência Negra por achar que "consciência não tem cor".
Esquece que o 20 de novembro é um dia em que os negros informam à sociedade seu legado, sua luta, sua História, a partir da lembrança do lendário ativista Zumbi dos Palmares.
Será que também não será possível discutir, por exemplo, o abuso da violência policial nas grandes cidades?
Como a rotineira tragédia carioca que fez mais uma vítima, desta vez a adolescente Maria Eduarda, morta por balas perdidas?
Isso porque iria pôr em xeque a autoridade do poder político conservador, que treina mal os policiais militares, tornando-os mais ameaça do que proteção.
A ação de Fernando Holiday foi criticada até pelo secretário de Educação da Prefeitura de São Paulo, Alexandre Schneider.
Isso mesmo, um secretário do prefeito João Dória Jr., que tornou-se o novo cotado do MBL para a Presidência da República em 2018.
Schneider foi surpreendido por um vídeo postado por Holiday e acusou o vereador de querer intimidar os professores.
"Evidentemente o vereador exacerbou suas funções e não pode usar de seu mandato para intimidar professores", afirmou o secretário de Educação.
Ele ainda acrescentou: "A escola, como qualquer organização social, pública ou privada, não é nem nunca será um espaço neutro. A escola pública, laica, plural, não deve ser espaço de proselitismo de qualquer espécie".
Isso significa que nem mesmo a Escola Sem Partido - que no fundo é, sim, uma doutrinação política, das piores - pode ser imposta às escolas, que devem ser ambientes de debate e informação.
Fernando Holiday também não foi autorizado por lei a realizar as visitas e não cabe a um vereador adotar uma atitude destas, que mais parece um patrulhamento ideológico à direita.
O vereador mais parece estar fazendo proselitismo do que condenando o que entende ser o proselitismo dos outros.
A propósito, Fernando Holiday é acusado de ter sido beneficiado por esquema de caixa dois nas campanhas eleitorais do ano passado, das quais saiu vencedor.
Ele tenta se jogar para a plateia com essas visitas para observar os trabalhos escolares.
E realmente isso constrange os professores.
Portanto, o ato de Fernando Holiday é um grande abuso contra a natural liberdade de ensinar a realidade às pessoas, promovendo debates e transmitindo conhecimentos.
É isso que desagrada a direita, que prefere que as escolas formem analfabetos políticos e lunáticos religiosos.
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