Ouvimos o "movimento brega liberado" dos intelectuais "bacanas" e, aí, pronto. A MPB foi esfacelada.
O que se resta da MPB autêntica são revivais de artistas veteranos ou artistas emergentes fazendo sub-Jovem Guarda ou Rock Brasil.
No âmbito da cultura musical como um todo, o discurso pró-bregalização de jornalistas, antropólogos, historiadores etc, vários fazendo proselitismo às esquerdas, causou sérios estragos.
Com sua promessa de "romper o preconceito", criaram preconceitos piores, forçando o povo a, através do brega (definido pelo eufemismo bonapartista do "popular demais"), ficar feliz com sua pobreza.
Abriram caminho para as propostas amargas do governo Michel Temer.
A "periferia legal" do "funk", do brega dos anos 1970, a "prostituição bacana", a "erotização triunfante", a "embriaguez consoladora", tudo isso vinha a cargo de uma cultura pseudo-popular que vendia a falsa imagem de "progressista".
Tinha até o "comércio clandestino legal", a "pirataria revolucionária", o "contrabando desafiador", tudo isso "guevarizado" pelo discurso da intelligentzia "mais legal do país".
Ou seja, os intelectuais que defendiam o brega, até nas páginas da imprensa de esquerda (Caros Amigos, Carta Capital, Revista Fórum), pediam para o povo aceitar as reformas degradantes de trabalho defendidas pelo presidente Michel Temer.
Faziam isso ainda com Lula no poder. Diziam para o povo pobre que o trabalho informal "era lindo" e vender produtos contrabandeados e piratas "era o máximo".
E aí, de um Waldick Soriano, produziu-se um Roberto Freire. Não o falecido fundador de Caros Amigos, mas o ministro da Cultura do governo temeroso.
Quiseram "guevarizar" Waldick Soriano, mas ele era, ideologicamente, um Lobão de seu tempo, defendendo valores machistas, elogiando a ditadura e esculhambando as esquerdas.
Quiseram "guevarizar" Zezé di Camargo & Luciano, para depois a dupla, que já apoiava Ronaldo Caiado, apoiar de vez Aécio Neves.
A intelectualidade "bacana", que queria ser "atraente" e "simpática" num contexto de anti-intelectualismo, queria nos fazer crer que, apoiando o "popular demais" do brega-popularesco, a diversidade cultural brasileira estava salva.
Fomos enganados.
O que se viu foi que, com o recreio brega, o povo foi deixado de fora do debate público.
Abriu-se o caminho para "coxinhas" e sociopatas para derrubar Dilma Rousseff.
Não por acaso, os sociopatas blindavam a "cultura" brega que causava estranheza a suposta reputação "progressista" dos bregalhões.
A farsa retórica de "diversidade cultural", "combate ao preconceito" e "cultura das periferias" só fez o povo ficar distraído e abrir caminho para a classe média golpista.
Feito o estrago, a intelectualidade "bacana" até mudou de assunto. Alguns ainda entrincheirados no campo adversário, a mídia esquerdista.
O dirigente funqueiro agora fala de comunidade, insegurança e até dá seu pitaco sobre a morte de Teori Zavaschi.
O jornalista "bacana" que falava da "luta do 'funk' contra o preconceito" agora fala da Dona Maria da Cocada, cantora regionalista apoiada pelo Maneco da Farinha.
De que adianta isso, tardiamente? Porque, em outros tempos, a Dona Maria da Cocada só tinha vez se ela pegasse carona numa funqueira da moda.
Agora, a MPB foi desmontada, se supervalorizou a lateralidade comportamental da "cultura popular", e aí tudo se resultou na derrubada de Dilma Rousseff, tão "admirada" pelos intelectuais "bacanas".
Enquanto isso, o "popular demais" está ocupado, no establishment da grande mídia.
No âmbito musical, funqueiros e "sertanejos" que se pensava salvarem a Música Popular Brasileira estão agora firmando o esquemão da Música Comercial Brasileira.
Anitta, Luan Santana, Wesley Safadão, Nego do Borel, Simone & Simaria, e por aí vai.
Eles estão na Globo, na Jovem Pan, no Estadão, na Folha de São Paulo, e em Caras, erroneamente definida como "mausoléu da Bossa Nova".
Eles cresceram tanto no sucesso que agora estão fazendo permuta com ídolos do show business estadunidense.
Quiseram "guevarizar" uma piadinha de William Waack sobre a música de Anitta e criaram, sem necessidade, uma falsa "Anitta Garibaldi" a guerrear com o baronato midiático.
Depois Anitta foi fazer dueto com Iggy Azalea, ícone do pop comercial australiano-estadunidense.
E o "popular demais" segue adiante, enquanto a diversidade cultural corre risco.
Tanto orquestras eruditas quanto artistas de rua estão ameaçados de pararem.
Os patrocínios públicos se escasseiam, isso quando existem. E a burocracia das secretarias e ministérios culturais "enxuga" os patrocínios culturais visando apenas o mainstream das demandas culturais, historiográficas, acadêmicas e turísticas.
Fora desses âmbitos, mesmo com toda a relevância e valor cultural indiscutíveis, não haverá verba.
E agora a classe intelectual reclama da mercantilização da cultura.
Foram priorizar o jabaculê radiofônico e os pastiches de povo pobre da TV aberta como salvação para a cultura popular e deu nisso que vemos hoje.
Agora tentam chorar o leite derramado (não, não tem a ver com o livro de Chico Buarque).
A "diversidade cultural" que defendiam está segura, nas mãos dos barões da mídia.
A diversidade cultural que se prometia estar a salvo com a bregalização cultural é que está ameaçada.
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