Pular para o conteúdo principal

MARI MOON SE INCOMODA COM QUALIDADE DE YOUTUBERS


Em entrevista recente ao portal UOL, a vlogueira pioneira e ex-vj da MTV, Mariana de Souza Alves Lima, a Mari Moon, fez duras críticas aos youtubers.

"As pessoas criam esses conteúdos horrorosos de alguma maneira porque faltou ter um bom pai, uma boa mãe. Essa geração foi criada pela Internet, pela empregada, pela televisão e o pior é que essas 'crianças' estão sendo os pais de outras crianças", disse a apresentadora.

Ela ainda complementa: "É uma geração em looping. Ao mesmo tempo, a gente tem que pensar como sociedade, tem que pensar o que estamos fazendo pelas nossas crianças. Na nossa época tinha 'Castelo Rá-Tim-Bum'".

Realmente, o fenômeno youtuber já começa a entrar nas gerações mais degradantes.

Depois de um breve período com pessoas do nível de Kéfera Buchmann, a promessa de que os vlogues (vídeos de diários falados) tivessem alguma inteligência, mesmo nos limites do mainstream, caiu por terra.

Hoje as pessoas "filosofam" sobre caretas nas fotos. É aquela coisa do tipo analisar em cinco minutos sobre como alguém se sentiria se tivesse um focinho de cachorro.

Vídeos que primam mais pelos efeitos de edição, com o youtuber usando algum adereço ridículo para ilustrar um comentário, se multiplicam mais e mais.

E olha que a geração de Mari Moon não foi tão feliz assim.

A título de comparação, eu, que tenho 46 anos, vi Vila Sésamo na Rede Globo. A franquia do programa estadunidense, que teve uma adaptação bem brasileira entre 1972 e 1975, passava tanto na TV Cultura quanto na TV Globo.

O Castelo Rá-Tim-Bum só passava na TV Cultura, meio "escondido".

Mari Moon é exceção à regra, porque a maioria das pessoas de sua geração via mesmo era o Xou da Xuxa, o Domingo Legal, o Sabadão do Gugu Liberato.

Isso para não dizer Aqui Agora, Cidade Alerta e similares.

A geração de Mari Moon também foi criada pela empregada e a maioria dos pais, em vez de lhes dar atenção, só lhes dava presentes e festinhas todo fim de semana.

Resultado: é uma geração que dificilmente ouviu um "Não" e que, viciada em festinhas, passou a ter um apetite descomunal por noitadas.

A geração de Mari Moon também não teve Fluminense FM. Teve "rádios rock" que não passavam apenas de genéricos da Jovem Pan 2 que de rock só tinha o toca-CD.

Também teve a MPB perdendo espaços nos rádios e a literatura desestimulada a ponto dos novos escritores se preocuparem mais com um dicionário de gírias do que uma boa narrativa.

Quem nasceu entre 1978 e 1983 já penava o naufrágio cultural imposto pela grande mídia.

Sem a educação dos pais, sem a bússola dos bons valores culturais, só havia apenas bosques culturais na erosão que devastou florestas culturais inteiras: Castelo Rá-Tim-Bum, Musical FM, mangue beat, Marisa Monte, Midsummer Madness, International Magazine, e parte da programação da MTV.

Ou então os desenhos Doug, Simpsons, Daria, O Rei do Pedaço, ou bandas como Gin Blossoms, Jamiroquai e Belle and Sebastian.

Mas isso era apenas exceção, diante da avalanche de Gugus, Faustões, Tchans, Chitões, Chicletões, Zezés, Datenas etc.

Certamente Mari Moon é uma das poucas com algum esclarecimento, pois a própria geração que nasceu com ela é que criou condições para as baixarias dos youtubers hoje.

Mas até a minha geração contribuiu para isso.

Que contribuições podem dar uma geração em que se destacam Luciano Huck, Ivete Sangalo, Pedro Alexandre Sanches, Alexandre de Moraes e Sérgio Moro?

Uma geração em que, para cada um Selton Mello, existem cem Luciano Huck?

Ou para cada gente como eu, há centenas como Sérgio Moro?

Eles também influíram os youtubers, os coxinhas, os viciados em noitadas, os fanáticos por brega-popularesco.

Os youtubers da quarta geração, cada vez pior, são o reflexo do deslizamento de lixo cultural que soterrou o Brasil a partir dos anos 90.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

INFANTILIZAÇÃO E ADULTIZAÇÃO

A sociedade brasileira vive uma situação estranha, sob todos os aspectos. Temos uma elite infantilizada, com pessoas de 18 a 25 anos mostrando um forte semblante infantil, diferente do que eu via há cerca de 45 anos, quando via pessoas de 22 anos que me pareciam “plenamente adultas”. É um cenário em que a infantilizada sociedade woke brasileira, que chega a definir os inócuos e tolos sucessos “Ilariê” e “Xibom Bom Bom” cono canções de protesto e define como “Bob Dylan da Central” o Odair José, na verdade o “Pat Boone dos Jardins”, apostar num idoso doente de 80 anos para conduzir o futuro do Brasil. A denúncia recente do influenciador e humorista Felca sobre a adultização de menores do ídolo do brega-funk Hytalo Santos, que foi preso enquanto planejava fugir do Brasil, é apenas uma pequena parte de um contexto muito complexo de um colapso etário muito grande. Isso inclui até mesmo uma geração de empresários e profissionais liberais que, cerca de duas décadas atrás, viraram os queridões...

LULISMO MESCLA CONTOS DE FADAS E POSITIVIDADE TÓXICA

A pressa de Lula e seus seguidores em transformar o Brasil em uma potência mundial, sem haver condições socioculturais para tanto, pode não ser compreendida devidamente por muitos que, apegados às narrativas lineares das redes sociais, ignoram que nossa realidade é bastante complexa. A tendência de Lula arrefecer seu brilho momentâneo na queda de braço fiscal com Donald Trump é provável. Até a edição deste texto, há a negociação para tentar aliviar os tributos a produtos brasileiros no mercado dos EUA. Mas isso será mais um pequeno alívio diante da situação degradante em que vove nosso país. As redes sociais mostram que muita gente, apegada ao consumo frenético de reels - espécie de menu de postagens existente no Instagram e no Tik Tok - e vendo também seriados de TV, simplesmente não consegue entender os reais problemas do governo Lula. Além disso, devemos também considerar que a base social de apoio a Lula mudou totalmente. Embora a narrativa lulista renegue essa realidade, é certo, ...

A FRENTE AMPLA QUE VAI DA MÍDIA HIDROFÓBA À MÍDIA ALTERNATIVA

O espectro político do Lulismo 3.0 reflete também no círculo midiático. Se Lula cerca em torno de si setores que vão da ala mais moderada dos golpistas de 2016 até uma parcela próspera da esquerda raiz, na mídia o clube se configura de maneira semelhante. Assim como a elite do bom atraso é uma frente social que vai da alta burguesia descolada ao chamado “pobre de novela”, a mídia já começa a montar um padrão que envolve vários veiculos antes considerados antagônicos entre si. Temos desde veículos “insentos” da mídia patronal, como Folha/UOL e O Globo/Rede Globo, até veículos como a Revista Fórum. Recentemente, veículos como O Antagonista e O Estado de São Paulo sinalizam um apoio condicionado ao Lulismo 3.0, em que pese as divergências conhecidas. A questão não é apenas diversificar as pautas jornalísticas nem de desenvolver um “jornalismo do contra”, mas a de criar um padrão de jornalismo parcialmente crítico, com críticas ao bolsonarismo mas ao mesmo tempo tornando-se chapa branca em...

“FUNK” DEIXA A MÁSCARA CAIR COM CASO DA MÃE OMISSA

O discurso vitimista do “funk”, que durante anos usou o coitadismo como estratégia de marketing, anda sendo desmascarado por vários episódios. O machismo e a objetificação da mulher, que derrubaram a tese do suposto feminismo, o enriquecimento abusivo dos funqueiros e as alianças com a mídia patronal mostram o quanto a choradeira intelectual em prol do gênero nunca passou de conversa para boi dormir. Um caso recente que revela a hipocrisia do “funk”, que agora tem o DJ Marlboro transformado em magnata e queridinho da burguesia ilustrada, é o de uma jovem que, em nome do seu hedonismo funqueiro, deixou uma filha morrer em casa, na companhia de apenas seu irmão de conco anos de idade  A jovem Vanusa Moura Ferreira, moradora do bairro de Realengo, Zona Oeste do Rio de Janeiro, deixou as duas crianças sozinhas em casa para ela sair à noite para curtir um “baile funk”. A filha de oito meses acabou morrendo por possível engasgo com a mamadeira. A mãe foi presa acusada de abandono de inca...

UMA RELIGIÃO QUE ENVELHECE MAL

PADRES JESUÍTAS JOSÉ DE ANCHIETA (DE JOELHOS) E, PRINCIPALMENTE, MANUEL DA NÓBREGA, AQUI RETRATADOS PELO PINTOR BENEDITO CALIXTO EM OBRA DE 1927, FORAM ADOTADOS PELO ESPIRITISMO BRASILEIRO, CONFIRMANDO SER UMA RELIGIÃO FUNDAMENTADA PELO CATOLICISMO DA IDADE MÉDIA. Por muita sorte, o Brasil é um país atrasado e que, por isso, vê em fenômenos como a bregalização cultural como “vanguarda”, uma ideia sem um pingo de lógica e só serve para atestar a ignorância sistêmica e solipsista do brasileiro médio. Por sorte é que o desconhecimento geral das coisas faz com que tudo que é, na verdade, velho, soa “novo”, desde o bolsonarismo até a pintura padronizada nos ônibus. Não é porque tais coisas são novidades, elas é que não são conhecidas pelo público médio. Uma religião que envelhece mal é, por incrível que pareça, o Espiritismo brasileiro. Na verdade, a forma que o dito “kardecismo” surgiu no Brasil, com traições doutrinárias graves contra Allan Kardec, revela que essa religião nunca passou de...

A MIRAGEM DO PROTAGONISMO MUNDIAL BRASILEIRO

A BURGUESIA ILUSTRADA BRASILEIRA ACHA QUE JÁ CONQUISTOU O MUNDO. Podem anotar. Isso parece bastante impossível de ocorrer, mas toda a chance do Brasil virar protagonista mundial, e hoje o país tenta essa façanha testando a coadjuvância no antagonismo político a Donald Trump, será uma grande miragem. Sei que muita gente achará este aviso um “terrível absurdo”, me acusando de fazer fake news ou “ter falta de amor a Deus”, mas eu penso nos fatos. Não faço jornalismo Cinderela, não estou aqui para escrever coisas agradáveis. Jornalismo não é a arte de noticiar o desejado, mas o que está acontecendo. O Brasil não tem condições de virar um país desenvolvido. Conforme foi lembrado aqui, o nosso país passou por retrocessos socioculturais extremos durante seis décadas. Não serão os milagres dos investimentos, a prosperidade e a sustentabilidade na Economia que irão trazer uma cultura melhor e, num estalo, fazer nosso país ter padrões mais elevados do que os países escandinavos, por exemplo....

O DECLÍNIO DO DESPREZÍVEL E ABJETO JAIR BOLSONARO

A prisão domiciliar de Jair Bolsonaro, o desastrado e nocivo ex-presidente da República, sem dúvida alguma é uma página a ser virada na História do Brasil. Parecia ontem, mas eram há sete anos quando, num supermercado de Niterói, via uma senhora defender a eleição de Bolsonaro, sob a desculpa de "experimentá-lo" como presidente da República. Jair Bolsonaro não é o mentor do golpe político de 2016. Ele foi um ator, mas estava cumprindo um roteiro alheio, e se destacou apenas na performance. Difícil dizer isso quando o público médio das redes sociais confunde ator com roteirista e apresentador de telejornal com jornalista. São funções diferentes, nem todo performático é autor daquilo que interpreta. Sim, Bolsonaro é uma figura abominável. Se bem que o filho Eduardo Bolsonaro demonstra ser mais perigoso. Em todo caso, a família Bolsonaro, seus amigos, parentes e aliados, são uma grande escória política, ridículos e patéticos que não trouxeram uma única contribuição positiva para...

RADIALISMO ROCK: FOMOS ENGANADOS DURANTE 35 ANOS!!

LOCUTORES MAURICINHOS, SEM VIVÊNCIA COM ROCK, DOMINAVAM A PROGRAMAÇÃO DAS DITAS "RÁDIOS ROCK" A PARTIR DOS ANOS 1990. Como o público jovem foi enganado durante três décadas e meia. A onda das “rádios rock” lançada no fim dos anos 1980 e fortalecida nos anos 1990 e 2000, não passou de um grande blefe, de uma grande conversa para búfalos e cavalos doidos dormirem. O que se vendeu durante muito tempo como “rádios rock” não passavam de rádios pop comuns e convencionais, que apenas selecionavam o que havia de rock nas paradas de sucesso e jogavam na programação diária. O estilo de locução, a linguagem e a mentalidade eram iguaizinhos a qualquer rádio que tocasse o mais tolo pop adolescente e o mais gosmento pop dançante. Só mudava o som que era tocado. Não adiantava boa parte dos locutores pop que atuavam nas “rádios rock” ficarem presos aos textos, como era inútil eles terem uma boa pronúncia de inglês. O ranço pop era notório e eles continuavam anunciando bandas como Pearl Jam e...

MICHAEL JACKSON: O “NOVO ÍDOLO” DA FARIA LIMA?

MICHAEL JACKSON EM SUA DERRADEIRA APARIÇÃO, EM 24 DE JUNHO DE 2009. O viralatismo cultural enrustido, aquele que ultrapassa os limites do noticiário político que carateriza o “jornalismo da OTAN” - corrente de compreensão político-cultural, fundamentada num “culturalismo sem cultura”, que contamina as esquerdas médias abduzidas pela mídia patronal - , tem desses milagres.  O que a Faria Lima planeja em seus escritórios em Pinheiros e Itaim Bibi (nada contra esses bairros, eu particularmente gosto deles em si, só não curto as ricas elites da grana farta) acaba, com uma logística publicitária engenhosa, fazendo valer não só nas areias do Recreio dos Bandeirantes, mas também nos redutos descolados de Recife, Fortaleza e até Macapá. Vide, por exemplo, a gíria “balada”, jargão de jovens ricos da Faria Lima para uma rodada de drogas alucinógenas. Pois a “novidade” trazida pelos farialimeiros que moldam o comportamento da sociedade brasileira através da burguesia ilustrada, é a “ressurrei...

NINGUÉM PODE SABER O QUE A ELITE DO BOM ATRASO FEZ NO VERÃO PASSADO

Vivemos um dado preocupante. Sabe aquele ditado popular que diz que “apressado come cru”? Pois é. O que vemos nessa obsessão do lulismo em dominar o mundo, com a exploração espetacularizada do caso do tarifaço de Donald Trump, é essa pressa. E também vemos a intolerância ao pensamento crítico por parte da burguesia ilustrada que, só ela, se acha a “espécie humana mais legal do planeta”. Com um sistema de valores herdado da Era Geisel, mas “ressignifcado” para a apreciação das esquerdas médias, nosso Brasil precarizado tende a ser lançado cru ou mal passado no concerto das nações desenvolvidas, depois de tantos retrocessos ocorridos desde 1964, que criaram um “novo normal” que, em muitos aspectos, deixaria Franz Kafka e Luís Bunuel abismados. A discriminação ao senso crítico revela a obsessão de uma classe privilegiada em querer que o Brasil fique calado para chegar ao Primeiro Mundo com facilidade. A ideia é transformar o Brasil num parque de diversões para distrair a juventude woke e ...