Um dos mais sérios incidentes envolvendo o machismo foi um constrangedor assédio sexual.
Na verdade, assédio sexual é sempre constrangedor e humilhante, por ser algo mais radical que um galanteio, e algo também ameaçador.
A prática é muito comum, sobretudo na sociedade machista em que vivemos.
A diferença é que o caso envolveu um ator de grande prestígio de uma poderosa rede de televisão.
José Mayer, até então no ar na novela A Lei do Amor, foi denunciado pela figurinista Susllem Tonani, vítima dessa prática infeliz.
A moça, que havia realizado o sonho de conquistar sua profissão há pouco tempo, contou que sofria assédio do ator de 67 anos, que é casado desde 1975 com a também atriz Vera Fajardo.
No começo, Mayer fazia elogios entusiasmados a Susllem, aparentemente elegantes: "como você é bonita", "como você se veste bem".
Os galanteios estavam ficando mais frequentes e maliciosos.
Certa vez, Susllem disse ao ator: "Você é mais velho que meu pai. Você tem uma filha da minha idade. Você gostaria que alguém tratasse assim a sua filha?".
A filha em questão é Júlia Fajardo, já com um considerável currículo como atriz.
O momento mais humilhante veio em fevereiro último, quando, diante de outras mulheres, José Mayer tocou na genitália com a mão esquerda.
As duas mulheres não ficaram constrangidas e ainda vieram com uma ironia, depois que o ator foi embora: "Diz (Susllem) que era seu desejo antigo".
Depois desse incidente, Susllem rezava para não reencontrar o ator, mas também pensava que nada pior do que a apalpada na genitália fosse acontecer.
Porém, num trabalho de filmagem, com uma equipe de 30 pessoas, Mayer e Susllem se reencontraram e ele tentou repetir o ato obsceno. Como a moça fez cara de incômodo, Mayer teria dito, irritado: "Vaca!".
Consta-se que existem muitos casos similares, envolvendo "peixes grandes" da emissora, e não só de âmbito heterossexual, mas homossexual também.
O caso repercutiu negativamente e abalou a reputação de Mayer, considerado de grande talento.
Várias atrizes reagiram em protesto, e divulgaram o lema "Mexeu com uma, mexeu com todas".
Foi criado um ambiente desagradável a José Mayer, antes visto como um companheiro por seus colegas de profissão.
Ele foi suspenso por tempo indeterminado e pensou-se em cortar as cenas do ator na reprise de Senhora do Destino, mas a Globo decidiu não fazê-lo.
A Globo até tentou protegê-lo, mas enviou comunicado informando da suspensão. Mayer - marcado por papéis de garanhão em novelas de grande audiência - admitiu o assédio e disse que errou.
Mas isso foi insuficiente para evitar a "explosão" do escândalo.
E mostra mais um incidente que põe em xeque a supremacia machista, e José Mayer nem é o pior dos casos, porque há coisas bem mais violentas.
Mayer apenas parecia seguir o "roteiro" de um mundo machista e hiper-sexualizado.
Pode ter feito um ato cruel, e sofre os efeitos nefastos de uma atitude infeliz.
O "roteiro" sempre impõe ao macho o papel do garanhão galanteador, que se impõe como um objeto sexual a ser cultuado pelas mulheres.
Ele também expõe a hiper-sexualização, mais explícita nos homens que nas mulheres.
Não há diferença essencial entre o ator que assedia uma mulher e se deixa valer por seu carisma para forçar alguém a aceitar seus galanteios, e a mulher que só vive de mostrar o corpo e, se autoprocla "dona do corpo", mas se "oferece", ainda que virtualmente, aos internautas homens.
Até pouco tempo atrás, se "rachava" a imagem machista da mulher em um falso maniqueísmo.
A mulher submissa e dona-de-casa e a mulher-objeto.
A mulher-objeto, por não estar associada formalmente a um homem, foi durante muito tempo vendida sob a falsa imagem de um "feminismo popular e provocativo".
Mas não passava de um "machismo de rua", como há o "machismo de casa" da "bela, recatada e do lar".
Dois lados da mesma moeda: a esposa que vira escrava do lar e a "mulher livre" que serve de recreio para os machos pervertidos.
A grande mídia, principalmente a "popular", estimula esse culto a atores garanhões e mulheres siliconadas.
A mídia sensacionalista está se divertindo com isso, ela que diariamente despeja as páginas de seus "divertidos" tabloides com fotos de mulheres siliconadas "esbanjando sensualidade".
É um mercado machista que dava a falsa impressão do "possível".
Seja o galã assediando figurinista, seja a funqueira que os sociopatas "empurravam" para os losers, seja a "garota da banheira" de 43 anos se reduzindo a um objeto sexual.
Em Salvador, havia as "periguetes" que iam na rua com roupas sumárias que mais pareciam pijamas de tão velhos e assediavam rapazes de classe média, numa atitude também constrangedora e incômoda.
Casos assim mostram o quanto o Brasil ainda é conservador e precisa rever seus valores.
Evidentemente, os assédios sofrerão um debate e uma séria revisão.
Agora só falta discutir a questão das paqueras nas boates, porque muitos dos feminicídios envolvendo casais resultaram de relações amorosas iniciadas nas noitadas.
O caso José Mayer não será o último capítulo dos incidentes machistas. Essa triste novela ainda tem muitos novos capítulos a mostrar, principalmente num Brasil da retomada do reacionarismo.
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