Diante da possibilidade de retorno do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva ao Palácio do Planalto, devemos manter os olhos atentos para todos os lados.
Devemos ser como um farol no litoral, olhando para áreas claras e para a penumbra, para o solo e para o mar.
O retorno de Lula não está apenas ameaçado pela mídia venal e pela plutocracia, mas por aproveitadores que sempre se passaram por solidários ao petista.
Esses aproveitadores batiam ponto já no começo do primeiro mandato presidencial.
Eles integraram a frente ampla que, em princípio, se aliou com Lula e cuja debandada foi lenta e gradual.
Essa debandada culminou na turma que traiu a sucessora Dilma Rousseff e criou as condições para o atual cenário político que temos.
Os mais perigosos são os que viajam na garoupa, que caíram na base do governo Lula de paraquedas e, diante desse hiato político do petismo, fazem o papel de "bons esquerdistas".
Em nome de um protagonismo tendencioso, eles querem "apoiar" Lula nos momentos mais difíceis.
Existem intelectuais "bacanas" que pregam a "ditabranda do mau gosto" na cultura popular e vão logo se passando por progressistas, em nome de uma grana da Lei Rouanet.
Existem supostos agentes culturais, como no caso do "funk", aliados orgânicos do baronato midiático, que também pegam carona no esquerdismo, visando lucrar com as conveniências do momento.
E há também gente arrivista de diversos tipos, a embarcar numa "solidariedade de resultados".
Há poucos dias, uma emissora de rádio da Bahia viveu seus quinze minutos de fama nacional.
A Rádio Metrópole, do ex-prefeito de Salvador Mário Kertèsz, deu uma entrevista exclusiva com o ex-presidente Lula, que repercutiu em todo o país.
Embora toda a mídia tivesse divulgado a entrevista, incluindo G1, Estadão e Folha/UOL, por exemplo, o oportunismo de Kertèsz teve um objetivo.
Bancar o "bonzinho" para as páginas progressistas e de esquerda da Internet.
Kertèsz poderia ter entrevistado um Geddel Vieira Lima, um Antônio Imbassahy, mas isso não traria a repercussão mais vantajosa ao "astro-rei" da Rádio Metrópole.
A de Lula, sim. E dá a Kertèsz uma postura de "bom moço" diante da truculência habitual da mídia patronal.
Filhote da ditadura militar, Kertèsz apenas reinventou suas formas de obter poder político.
Sem poder seguir formalmente a vida político-partidária, ele usa a mídia como seu próprio palanque pessoal, pois sabemos que o poder midiático é muitas vezes mais político do que a carreira política propriamente dita.
Vide a Rede Globo, ela mesma um "partido político", um "poder político", parecendo querer governar e legislar mais do que governantes e legisladores.
Mas Kertèsz parece querer repetir o protagonismo da Folha de São Paulo durante o movimento Diretas Já.
O periódico paulista que transportou presos políticos para as instalações do DOI-CODI, no auge da repressão, queria ter protagonismo no processo de redemocratização do Brasil.
Aproveitou a omissão da Rede Globo na cobertura do acontecimento e segurou a "bandeira" da redemocratização.
Folha de São Paulo, TV Bandeirantes e Isto É viraram o trio que passou a se contrapor ao radicalismo golpista da mídia patronal.
Claro que isso era um jogo de cena visando interesses comerciais.
Era apenas um relativo contraponto. E que parece se repetir com a Rádio Metrópole pegando carona com a situação controversa que envolve Lula.
Atualmente vítima de rumores ditos de maneira "taxativa", através do empreiteiro Léo Pinheiro da OAS - o Deltan Dalagnol da vez, no sentido do impacto da declaração - , Lula é o favorito para a campanha eleitoral de 2018.
Lula é ao mesmo tempo a esperança dos brasileiros e o derrotado da mídia venal.
Devemos desconfiar da "sincera solidariedade" da Metrópole nessa "entrevista exclusiva" de alguns dias atrás.
Mário Kertèsz quer ser o contraponto da família de seu ex-padrinho Antônio Carlos Magalhães, dona da Rede Bahia.
Evidentemente, ele está aproveitando uma lacuna que a grande imprensa do eixo Rio-São Paulo deixou, pelo ódio doentio ao ex-presidente.
A Rádio Metrópole, poucos imaginam, é o que há de mais tendencioso na mídia brasileira.
Nem sempre ser tendencioso é ser faccioso, vale lembrar bem.
O aparente ecumenismo ideológico da Rádio Metrópole, acolhendo os mais diferentes pontos de vista, tem um objetivo não muito generoso.
É o de vincular a pessoa de Mário Kertèsz à diversidade social que ele pretende dominar, como poderoso barão de mídia da Bahia.
A Rádio Metrópole se passa por "mídia progressista" para evitar que haja mídia progressista na Bahia.
Quer ser mais comunitária que as rádios comunitárias, quer ser mais regional que as rádios regionais.
Já foi uma FM que queria ser mais AM que as outras AMs, e agora quer ser mais TV que a TV Bahia.
Um poder midiático muito perigoso se desenha na Bahia e é bom ficar atento.
Até porque Kertèsz é do tipo que muda de posição, também. Tal qual a Isto É que ninguém imaginou agir com tanta ferocidade em relação a Lula.
Hoje Kertèsz é o generoso Dr. Jeckyll. Amanhã, poderá ser o Mr. Hyde.
Comentários
Postar um comentário