MC FIOTI, MULHER TATUADA E BIG BROTHER BRASIL - CULTURA PSEUDO-ALTERNATIVA MONITORADA PELA MÍDIA HEGEMÔNICA.
É extremamente preocupante o cenário cultural em que vivemos.
A sociedade movida pelo contexto de lacrações e isolada nas verdadeiras bolhas que são as redes sociais andam sucumbindo a um culturalismo cada vez mais degradante.
As pessoas se sujeitam a um establishment cuja narrativa invertida tenta criar um falso contexto de vanguardas e culturas alternativas.
Lança-se uma ideia de "liberdade" que mais parece a manutenção de zonas de conforto e a promoção de debilidades pessoais a pretensos empoderamentos de auto-afirmação e aceitação humana.
Misturando cultura trash com politicamente correto e politicamente incorreto, essa cultura hegemônica da lacração tenta se passar por contra-hegemônica, o que é um contrassenso.
Mas nós temos que passar pano nesse contrassenso sob a ameaça de linchamento digital.
A supremacia de um pseudo-cult, de vanguardas postiças, é preocupante.
Cria-se um status pretensamente "vanguardista" para uma canção patética do bolsonarista José Augusto, "Evidências", na voz dos canastrões Chitãozinho & Xororó.
A cantora brega Gretchen tornou-se uma "musa" desse pseudo-vanguardismo lacrador.
É esse establishment enrustido da lacração que faz com que, supostamente contra Jair Bolsonaro, se falasse mais em cobras naja, emas e jacarés, mais interagindo do que combatendo o terrível presidente.
Agora é o tal de "Bum Bum Tan Tan" de MC Fioti, uma pretensa unanimidade lacradora que faz com que até jornalistas sérios e progressistas passarem pano. Aliás, virou moda passar pano em qualquer coisa nem tão grandiosa assim, não é verdade?
E vemos jornalistas e produtores sérios de MPB autêntica passando pano em Michael Sullivan e na geração neo-brega de 1990-1995, como Daniel, Alexandre Pires, os citados Chitãozinho & Xororó...
E o próprio "funk" agora virou coisa de "gente legal"... Tanta gente tomando no cool, esse "suco de Brasil" dos identotários festivos.
É uma "liberdade" tão estranha que há caso de mulher com um calombo no rosto que não fazem cirurgia, deixam tudo como está por causa de supostos empoderamento, auto-aceitação e combate aos padrões de perfeição física.
Esquece ela que o calombo pode ser um câncer terrível que poderá matá-la em breve. No país em que muitos se enganam pensando que Covid-19 é "gripezinha", não podemos deixar levar pela obsessão pelo identitarismo festivo.
Esse "mundo" identitário-festivo se acha livre dentro de uma sociedade hipermercantilizada e hipermidiatizada em que se vive.
É tudo tão hegemônico que as pessoas pensam que é tudo natural. Vivem numa bolha gigante que pensam ser o universo infinito.
Daí que aceitam qualquer modismo, qualquer caneta azul ou bumbum tantã da vida, como se fossem a salvação da lavoura.
E os mais velhos, que sobrevivem nesse mar de senso acrítico, e que ainda não morreram junto com antigos portadores de senso crítico afiado, passaram a passar pano em tudo.
No rock, a canastrice eletrônica das rádios 89 FM (SP) e Rádio Cidade (RJ) recebe a flanela complacente dos órfãos da Fluminense FM, que já elegeram farofeiros como Guns N'Roses como "clássicos do rock".
Na religião, o Espiritismo brasileiro, neo-medieval e fraudulento, recebe uma coleção de panos bem macios de quem não devia passar nele: ateus, esquerdistas, jornalistas investigativos, semiólogos com senso mais afiado.
A estadunidense radicada no Brasil, Kate Lyra, do bordão humorístico "brasileiro é tão bonzinho", foi boazinha com as funqueiras ao dizer que elas "faziam feminismo".
Desde os tempos do Orkut, berço dessa onda de lacração e passagem de pano no establishment enrustido da bregalização e outras desventuras culturalistas, se vem fingindo que tudo é "vanguardista" e "alternativo".
Isso é assustador, porque se tratam de fenômenos hegemônicos, da mídia hegemônica, do mercado hegemônico, que se passam por contra-hegemônicos, como se servissem de alternativa para si mesmos.
Isso lembra um dos aspectos da novilíngua de 1984, de George Orwell, cuja gravidade teórica, para os estudos de Comunicação, foi complementada, num passado recente, pelo "vocabulário de poder" do há pouco falecido Robert Fisk.
A novilíngua brasileira, que impôs a gíria "balada" (©Jovem Pan) como uma "não-gíria", acima dos tempos e das tribos, também faz como os tiranos da fictícia Oceânia, invertendo o sentido das palavras (o que fazia, por exemplo, que o Ministério da Verdade tivesse como compromisso a mentira).
E aí vemos pessoas nas redes sociais seguindo tudo o que Luciano Huck, Fernando Henrique Cardoso, Otávio Frias Filho, Jair Bolsonaro, Marcelo de Carvalho, Galvão Bueno e William Bonner disseram ou dizem.
Detalhe: dizendo odiar todos eles. É a lógica do fundamentalista acidental, fiel aos ensinamentos daquele que diz odiar.
O establishment lacrador se proclama anti-establishment, vemos transgressões que não transgridem, o comercialismo é "não-comercial" e o anti-comercialismo, "comercial".
Demoniza-se a inteligência, glorificam-se os instintos, porque estes são vistos como "a verdadeira inteligência".
Cria-se falsos esquerdismos que ocupam as agendas das esquerdas que, sem querer, acabam sendo anti-trabalhistas, anti-petistas, de tão perdidas em fenômenos lacradores da Internet.
Atribui-se ao "Bum Bum Tan Tan" de MC Fioti um suposto Modernismo, enquanto se demoniza a Bossa Nova que, à maneira da (antiga e clássica) Zona Sul carioca, transformou em brisa praiana os ventos antigos da Semana de 1922.
Tudo discurso lacrador, provocatividade gratuita, que não provoca, em termos de debates, mas causa, sim, uma manifestação de pasmo diante da gourmetização da mediocridade sócio-cultural em todos os sentidos.
Isso tudo é cruel e essa crueldade virá à tona depois que as esquerdas se cansarem em passar tanto pano nos bumbuns tantãs da vida.
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