Vi o vídeo do Gustavo Conde, aquele que fala sobre a reunião das esquerdas com Baleia Rossi, deputado federal escolhido pelo grupo de Rodrigo Maia para sucedê-lo na presidência da Câmara Federal.
Numa época em que um dos "brinquedos culturais" das esquerdas, o craque Neymar, fez o "Neymarx" sair de campo e virar "vidraça" por conta do apetite em realizar "festas da Covid", devemos pensar na crise do esquerdismo.
À sua maneira, vemos analistas de esquerda que andam criticando as esquerdas, não como pessoas querendo desembarcar do esquerdismo e migrarem para a direita, mas como gente preocupada com o próprio fato das esquerdas fugirem de sua própria essência.
Temos as esquerdas se esquecendo das classes trabalhadoras. Até a reforma trabalhista do governo Temer passou a ser aceita, com resignação, por nossas forças progressistas. Um e outro até reclamam por curtos parágrafos, mas isso é muito pouco.
Temos esquerdas elegendo como "heróis" gente vinda da centro-direita: "médiuns espíritas" (inclusive um que usava peruca e era um reaça da pesada), funqueiros, "sertanejos", mulheres-objetos mais atrevidas, ídolos cafonas do passado.
Já nem falo tanto dos craques de futebol, porque, para cada um artilheiro que faz as esquerdas lacrarem por algum comentário anti-reacionário, existem nove acusados de assédio sexual, enriquecimento ilícito e realização de festas de arromba clandestinas em tempos de pandemia.
Mas, de resto, as esquerdas, quando muito, ficam em silêncio. Esperam que o "médium de peruca", falecido em 2002, "reveja" seus valores e alguém invente uma daquelas "lindas estórias" alegando (ficcionalmente) que o "médium" via no hoje ex-presidente Lula um "irmão muito querido".
Mentir por amor pode, né? Ainda mais quando se produz a "masturbação pelos olhos" da comoção humana reduzida a mero divertimento, feito para lotar "casas espíritas" e vender livros de auto-ajuda, o que faz as lágrimas humanas serem rebaixadas a uma mera mercadoria de consumo.
Se a viúva do grande Humberto de Campos virou vidraça e os herdeiros do escritor foram enganados pelo "médium", que bolou um grande assédio moral-religioso ao filho do mesmo nome (que foi produtor e diretor de TV), então estamos em uma catástrofe existencial.
Larguei o Espiritismo brasileiro porque vi que Allan Kardec estava sendo traído e interpretado de forma leviana e fútil por farsantes que fizeram o pedagogo francês de gato e sapato e, depois, vinham a público fazer falsos juramentos de fidelidade aqui e ali.
Kardec dizia: "O que a Lógica e o Bom Senso reprovam, deve-se rejeitar corajosamente". O "médium de peruca", em sua trajetória, é uma vergonhosa e infinita coleção de violações à Lógica e o Bom Senso. Descrever todas elas dá um livro de, no mínimo, 250 páginas (e isso resumindo muito).
O "médium" não é ainda criticado pelas esquerdas. É porque mesmo o esquerdista mais lúdico e corajoso tem titia, avó, pai e mãe etc seguindo essa religião macabra.
Por enquanto, só bons samaritanos como Dora Incontri, Sérgio Aleixo e Lair Amaro denunciam os "espiritualistas" que transformaram o legado de Kardec num chiqueiro.
De resto, até o semiólogo mais empenhado em decifrar bombas semióticas parece ainda passar pano no "médium de peruca".
E aí vemos que, sem citar nomes, Gustavo Conde fala em muitos intelectuais que se autoproclamam "de esquerda".
Culturalmente, já identifiquei muitos deles. E, quinze anos atrás, o elenco de pretensos esquerdistas ainda era maior. Em 2005, os bolsomínions de então bajulavam Lula e Che Guevara e "falavam mal" do Imperialismo.
Mas passavam pano em Fernando Collor, não se incomodavam em ser marionetes da mídia e muitos defendiam o livre porte de armas. Esquerdistas?
Felizmente muita gente saiu do armário mas há sempre aqueles que colocam falsas capas de O Capital para cobrir os livros de Ludwig von Mises que leem com muita paixão.
No âmbito cultural, identifiquei muitos intelectuais autoproclamados "de esquerda". É no livro que muita gente tem medo de ler: Esses Intelectuais Pertinentes.
Muito pior do que dizer para a criançada que Papai Noel não existe, é falar que os "três reis magos", Paulo César de Araújo, Pedro Alexandre Sanches e Hermano Vianna não vão trazer o "folclore do futuro" para a nação brasileira.
Tanta carteirada desfeita. Tantos "gurus visionários" desmentidos num livro de duzentas e tantas páginas.
Coitada, uma intelectual atribuindo até à bunda um poder mobilizador! E eu, em vez de me preocupar com "coisas importantes" como escrever sobre cavaleiro medieval em busca do mistério do Livro do Nhem-Nhem-Nhem ou da Espada de Piroca, vou escrever sobre intelectuais pró-brega.
E aí vemos o quanto as esquerdas estão perdidas nas florestas para colorir e nos parques de diversões de Minecraft.
Os trabalhadores penaram neste 2020. Camponeses foram exterminados a sangue frio, e poucos esquerdistas se solidarizaram. O resto estava ocupado com cobras naja, emas e jacarés em postagens lacradoras nas redes sociais.
E os funcionários de aplicativos. Eu passava perto, em Icaraí, aqui em Niterói, e vi um jovem sentado no chão com seu celular.
Eu pensei para mim mesmo: "Por incrível que pareça, esse sujeito está trabalhando duro".
Sem ironias. Ele está se entretendo no celular porque espera um freguês para lhe chamar para distribuir aquela refeição solicitada numa padaria-restaurante situado na Rua Presidente Backer.
É um drama ficar sem freguês. Quando um liga para o celular, esse sujeito se anima, pega sua moto ou bicicleta (deixemos a bike para os anglófonos) e vai para a casa do freguês para lhe dar o alimento pedido.
É uma micharia, mas, mesmo assim, os trabalhadores ficam com certo alento. E se recebem gorjeta, ficando com o troco e tudo o mais, isso é muito pouca coisa, mas lhes faz ter algum sorriso na face.
E eles são uma nova categoria que as esquerdas-lacração nem ligam. Elas compram o alimento, os funcionários de aplicativos chegam em casa para lhes dar a mercadoria pedida, e as esquerdas-lacração pagam e fica nisso mesmo.
Depois vão se preocupar com Jair Bolsonaro fazendo palhaçada no zoológico e no cercadinho de Brasília, diante da imprensa amiga dele.
E é esse problema todo que fez muito esquerdista bom debandar das mídias esquerdistas, que, em nome do profissionalismo, sacrificam parte do seu idealismo e até passam a passar (olha a redundância) pano até na mídia corporativa.
E aí entram Gustavo Conde e Leonardo Stoppa, que anda criticando o otimismo-lacração das esquerdas que haviam garantido que Michel Temer ia cair antes do fim do mandato e agora insistem que Bolsonaro vai deixar o poder amanhã. Nunca hoje, não é mesmo?
Será que temos gente demais nas esquerdas? Não creio que possa pensar nesse sentido. O problema não é isso, é porque tem gente "de esquerda" cujas ideias não são tão de esquerda assim.
Uns querem a degradação da cultura popular, defendendo valores difundidos até mesmo pelo conservador Sílvio Santos.
Outros, um "espiritualismo" conservador e até cruelmente castrador: pedem para quem os sofredores extremos não reclamem da vida e aceitem sua desgraça orando calados para Deus.
Outros, ainda, que criem brechas "privatistas" para empresas estatais. Outros, que apenas maquiem a reforma trabalhista com pequenas concessões, de preferência supervalorizando o Auxílio Emergencial, como algo "não-emergencial".
Tem muita gente puxando para trás dentro das esquerdas que até os Galãs Feios andam reclamando. Marco Bezzi e Helder Maldonado chegaram a mencionar um chefe de jornalismo bolsonarista que tratava seus empregados de maneira mais humana que outro chefe, de esquerda.
As esquerdas sofrem uma crise tão grande que chegamos a esse ponto. E ainda tem gente que acredita que o Judiciário, ao cancelar várias investigações da Lava Jato contra Lula, irá devolver o Governo Federal para o PT.
Nada disso. Com esquerdas-lacração, o Brasil tende a ser apenas um grande Caldeirão. O Caldeirão do marido da Angélica.
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