Só no Brasil é que a mediocridade cultural é gourmetizada até o extremo.
Combinando vitimismo, pretensiosismo e oportunismo, nosso viralatismo cultural passa a ganhar passagem de pano até de gente gabaritada que, no seu espiral do silêncio, precisa ter complacência para tudo, de "médiuns de peruca" a mulheres-frutas.
Daí que vemos jornalistas musicais sérios dando só elogios à vergonhosa canastrice "roqueira" em FM da Rádio Cidade, do Rio de Janeiro, uma rádio pop cuja maior frustração foi nunca ter sido uma Fluminense FM.
No "funk", então, a passagem de pano é maior do que a que se faz em quarto abandonado cheio de poeira. Com direito a uma choradeira vitimista tão chorosa que é capaz de lotar, no mínimo, dez represas a serviço de hidrelétricas.
Não bastasse a passagem de pano que se deu para o Negro do Borel, denunciado por assédio e até agressão sexual - a "carteirada" de ser funqueiro fez setores das esquerdas serem "cautelosas" nas críticas - , agora temos um "funk" tendenciosamente usado para "utilidade pública".
É o relançamento do sucesso de MC Fioti, ícone do "funk ostentação" (derivado paulista do "funk carioca"), com um título sonoro sem qualquer serventia semântica: "Bum Bum Tan Tan".
O relançamento se deu porque se "descobriu" que o som coincide com o nome de um instituto em São Paulo que está produzindo uma das vacinas contra a Covid-19, o sério e conceituado Instituto Butantã.
Musicalmente ruim, o "Bum Bum Tan Tan", sucesso no canal Kondzilla, um dos Olimpos do ultracomercialismo musical brasileiro, agora virou o "hino da vacina", com MC Fioti lançando clipe em frente à instituição científica.
O assunto virou matéria no Jornal da Band.
O xará do DJ e empresário funqueiro Rômulo Costa - que as esquerdas (não) conhecem por ter sido quinta-coluna na festa "a favor" de Dilma, para depois comemorar o sucesso abraçado aos golpistas - , escreveu no Twitter um comentário que o próprio homônimo da Furacão 2000 assinaria ebaixo:
"O MC Fioti e o Kondzilla fizeram mais pela ciência do que o Bolsonaro".
Até concordo, porque Jair Bolsonaro, de fato, nada fez pela ciência, e, pelo menos, os funqueiros em geral só fazem falar. Se bem que, na prática, dá no mesmo.
Uma declaração de MC Fioti segue os clichês do identitarismo festivo ao dar uma declaração para a Folha de São Paulo (sim, esquerdas médias, o "funk" aparece, e muito, na mídia venal):
"Virar jacaré? Tá de brincadeira? Me dá superpoder, então?".
A "cloroquina" (no sentido da retórica bolsomínion) musical de MC Fioti, pelo jeito, promete curar não só a Covid-19 mas a briga dos integrantes da banda Boca Livre, que se rachou em três contra um (o integrante Maurício Maestro age como bolsomínion anti-vacina).
É claro que o "funk" pode salvar vidas.
Tem uma estória na Internet, provavelmente fictícia, de uma garota que estava em coma num quarto e, de repente, quando o rádio tocou um "funk", ela acordou, se levantou e foi desligar o aparelho. Podemos dizer que, neste caso, a garota foi salva pelo "funk", sim.
Vamos combinar. Os funcionários e cientistas do Instituto Butantã mereceriam um hino melhor. Mas o Flávio Venturini e o Marcus Viana estão ocupados louvando o "médium de peruca" e seu mentor jesuíta medieval...
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