MICHAEL SULLIVAN QUIS DESTRUIR A MPB, MAS AGORA PEGA CARONA NA MESMA PARA RECUPERAR A CARREIRA.
Vida boa existe no Brasil.
Gente que boicota ou destrói uma causa, e depois se torna seu pretenso arauto, quando vê que pode capitalizar vantagens pessoais com tal empreitada.
Temos, por exemplo, lá em Salvador, o caso de Mário Kertèsz, que em 1990 desviou um monte de verbas financeiras para obras urbanas de grande envergadura para montar seu patrimônio midiático.
Paralelo a isso, Kertèsz destruiu o Jornal da Bahia, praticamente matando o jornal, porque pôs fim à linha progressista e intelectualizada que marcou história no periódico baiano.
Cerca de quinze anos depois, Kertèsz seduziu dois fundadores do JBa, Teixeira Gomes e João Falcão, que passaram a passar pano (não notem o trocadilho) naquele que matou o jornal dos dois.
Doce vida. Só no Brasil as raposas destroem o galinheiro e depois são ovacionadas pelas galinhas.
E aí temos o caso lamentável da Kuarup Discos, importante gravadora e produtora de MPB, que anda passando pano em nomes mais antigos da música brega-popularesca.
Tem um disco chamado Kuarup Ao Vivo que, dentro de um monte de trigo musical da MPB genuína, jogou-se um joio que é o cantor breganejo Daniel, hoje convertido em um crooner ultracomercial.
Entre os contratados, o ídolo brega Sílvio Brito, do sucesso "Está Todo Mundo Louco", concorrente de Odair José e Amado Batista.
Mas aí temos a passagem de pano da Kuarup ao suspeito Michael Sullivan, que, conforme denunciou Alceu Valença, queria destruir a MPB e impor a americanização da música brasileira, em regras rigidamente comerciais.
Sullivan apareceu no programa de Pedro Bial para manifestar apoio a um artista contratado pelo selo Kuarup.
Ultimamente, Michael Sullivan, capaz de criar falsas rimas como "contigo" e "motivo", anda querendo se promover às custas da MPB independente.
Só mesmo no Brasil para alguém de retaguarda tentar se relançar como pretensa vanguarda, dentro daquela choradeira de "combate ao preconceito".
Tem pessoas que mudam, mas não deve ser o caso de Sullivan, que sempre se orgulhou do seu tosco pop comercial e não tem remorsos por sua "brilhante trajetória".
Me preocupa esses flertes que a Kuarup está fazendo com a bregalização musical, de forma direta ou indireta. Ainda não sei de que forma Sullivan usaria o mercado de MPB independente ao seu favor.
O que se sabe é que a Kuarup, ao passar pano na bregalização musical, comete um terrível e drástico erro.
Afinal, existe uma luta para criarmos espaços alternativos ao establishment musical de toda forma, para sairmos do comercialismo reinante que já ocupa praticamente todos os espaços estratégicos.
Na cultura rock, por exemplo, praticamente não temos rádios FM de rock, porque o que se vende como "rádios rock" não são mais do que "Jovem Pan com guitarras" querendo passar a rasteira nas rádios pop oferecendo um produto supostamente diferente.
E na MPB? A música brega-popularesca ocupa todos os espaços imagináveis, exerce supremacia nas cidades do interior, aparece em tudo quanto é programa de rádio e TV, tem a mídia hegemônica aos seus pés, e ainda quer os espaços da MPB?
No dial FM, é vergonhoso haver, em cada região, apenas uma emissora de MPB autêntica enquanto há uma média de quatro emissoras transmitindo futebol.
O hiato entre o fim da MPB FM e a volta da Nova Brasil FM foi terrível, e as rádios de pop adulto nem se esforçaram para cobrir as lacunas. A JB FM, "Jornal do Brasil" só no nome, fica indiferente a tudo, tocando os mesmos flash backs gringos que de tão repetitivos já nem mais lembram o passado.
Quando temos espaços segmentados de MPB, temos que aguentar a invasão de ídolos popularescos considerados em baixa, que poderiam muito bem montar um espaço de brega-popularesco "vintage", em vez de usar a choradeira coitadista do "preconceito" para retomarem carreira.
A MPB autêntica luta para se manter e ter um mínimo de visibilidade possível, tentando com dificuldade furar a bolha social e atingir um pouco mais do que um público elitista-academicista, e aí vem a péssima ideia de acolher o já hegemônico som brega-popularesco.
"Emepebizar" os ídolos popularescos, como ocorreu com os "sertanejos" e "pagodeiros" dos anos 1990, não deu certo, porque tudo soou postiço, forçado, canastrão.
E o público não vai aprender a ouvir mais MPB forçando o vínculo desses ídolos popularescos. Assim como a MPB não sai favorecida com isso, até porque são os emepebistas que mendigam espaço em áreas inflexíveis no interior do Brasil.
Não são os ídolos popularescos os "coitadinhos", "vítimas de preconceito", que "sonham com um lugar ao Sol da MPB". Eles são os hegemônicos, os reis do pedaço, os donos do poder, os que mandam no negócio.
Vemos uma tradição de complacência - a mesma que, no âmbito religioso, passa pano nos farsantes "médiuns espíritas" e sua literatura fake - e todos viram flanelinhas a passar pano em qualquer oportunista fazendo pose de vítima, de coitadinho.
Ninguém sabe as armadilhas do negócio, e todos ficam felizes quando bregas e emepebistas fazem dueto, covers de hits da MPB são gravados por ídolos popularescos, como se isso ajudasse na valorização da Música Popular Brasileira com todas as letras maiúsculas.
Não vai. Pelo contrário, o que o "povão" consome de MPB é aquela que o sr. Fausto Silva autoriza que seja veiculado, junto às trilhas de novela da Rede Globo do passado remoto e menos distante.
Turíbio Santos, Teca Calazans e o finado Taiguara continuam nas suas bolhas, enquanto o público incauto, ao ver que Michael Sullivan e Daniel "também são MPB" (sic), não precisarão ouvir coisas diferentes.
Tudo fica na mesma e quem sai perdendo é a própria Kuarup, que deveria sair da bolha pelos seus próprios valores e não pelas concessões ao comercialismo que podem manchar sua reputação.
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