MÁRIO KERTÈSZ, EM SALVADOR, É O "ASTRO-REI" DA RÁDIO METRÓPOLE E DESTRUIDOR DO JORNAL DA BAHIA, ÍCONE DA MÍDIA PROGRESSISTA LOCAL.
Não é de hoje que as forças progressistas estão inclinadas a passar pano em muita gente sem confiabilidade.
E não só forças progressistas, mas também antigos focos de rebeldia e vanguarda cultural, como a cultura rock.
Vemos, no Rio de Janeiro, a cultura rock passando o pano todo na canastrice radiofônica da Rádio Cidade, tudo em troca de programas alternativos de fim de noite.
Gente ligada ao projeto Maldita 3.0, Cult FM, ou mesmo a combalida Kiss FM Rio, e isso quando a Kiss FM matriz, de São Paulo, anda passando pano na rival 89 FM, saudando a emissora pelos 35 anos.
E isso quando a Kiss FM está preocupada em tocar o farofeiro Guns N'Roses e em programas de talk show dos mais bobocas.
No caso da Rádio Cidade, ver os órfãos da Fluminense FM passando pano na emissora dos 102,9 mhz, é constrangedor.
A Rádio Cidade nunca foi aliada da Flu FM. Ela sentia ciúmes do sucesso da emissora roqueira. A Cidade transformou o rádio FM, mas nunca aceitou ser passada para trás por uma emissora de Niterói que foi uma das mais importantes rádios alternativas do mundo (sério).
A Cidade ajudou a criar uma "sub-Fluminense" chamada 89 FM, em São Paulo, rádio de origem malufista que se fortaleceu apoiando Fernando Collor e que, em 1994, mexeu os pauzinhos para indicar rádios originais de rock para serem compradas por emissoras de pop dançante ou noticiosas.
Em outras palavras, a Cidade FM "matou" a Fluminense FM e o principal locutor da dublê de rádio rock, Demmy Morales, veio da mesma turma de DJs do DJ Saddam, que descobriu Kelly Key, e Marcelo Arar, hoje político bolsonarista.
Neste sentido, ver órfãos da Fluminense FM passando pano na Cidade soa mais ou menos como se os fãs de Daniella Perez virassem beatos do hoje pastor Guilherme de Pádua.
O Brasil virou um país de flanelinhas, de tanta gente passando pano aqui e ali.
Diz até uma piada na qual um órfão da Flu FM ganhou um novo emprego.
"E aí, órfão da Maldita, você está aí cuidando de carro? É seu novo emprego?", diz alguém.
E aí o flanelinha responde. "Sim, esse é meu novo emprego. Sou flanelinha. Eu passo pano na Cidade toda", diz ele.
E aí me lembra de um episódio bastante vergonhoso, que é o do fim do Jornal da Bahia.
O Jornal da Bahia foi um periódico que marcou a imprensa baiana, ele lançou intelectuais de renome, como João Ubaldo Ribeiro e Gláuber Rocha, cineasta que antes havia sido jornalista policial e também era um ensaísta de cinema dos mais importantes, vide suas "estéticas" da fome e do sonho.
O jornal surgiu em 1958 e era um dos símbolos da imprensa de esquerda em Salvador. Enfrentava o arbítrio da ditadura militar, e, sobretudo, de um dos apoiadores locais do regime ditatorial, Antônio Carlos Magalhães.
Magalhães, então, decidiu intervir no jornal, minando, aos poucos, sua linha editorial até ele perder toda a sua alma progressista e culturalmente relevante.
Um dos últimos jornalistas do JBa, Marcos Uzel, foi colega meu e de Rosana Jatobá em várias matérias da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia, em 1990. Eu falava muito com Uzel.
E aí, nessa época, o Jornal da Bahia se transformou em um jornaleco policialesco e popularesco dos mais medonhos, só para esculhambar a trajetória do periódico.
E quem foi o interventor no jornal? Mário Kertèsz, que havia sido prefeito de Salvador e montou um esquema de corrupção dos mais deploráveis, desviando uma grande soma de dinheiro público que seria para grandes obras urbanas.
Kertèsz é um dos "malas" que, juntamente com Jair Bolsonaro e Ronaldinho Gaúcho, fazem aniversário em 21 de março, que neste ano marcará meus 50 anos de idade. Terei prazer de não cortar uma fatia do meu bolo de aniversário para esses caras.
A corrupção deu origem ao patrimônio financeiro e midiático do hoje dublê de radiojornalista, que também armou outro oportunismo justamente com a afiliada baiana da carioca Rádio Cidade.
Fico até perguntando se o nome "Rádio Cidade" passou a ser sinônimo de "rádio-mentira".
E aí, passaram-se os anos, Kertèsz - que já tentava dominar e manipular as esquerdas baianas na sua segunda gestão para prefeito de Salvador, pelo atual MDB - virou, em 2000, o "astro-rei" da antiga Rádio Cidade, que foi renomeada pelo nome oportunista de Rádio Metrópole.
Eu costumava, nas conversas informais, apelidar a Rádio Metrópole fazendo trocadilho com um palavrão, trocando as letras "tr" de Metrópole por "rd".
Apesar do nome moderno, a Rádio Metrópole mais parecia uma rádio-província, uma AM de terceira categoria (ou talvez uma categoria bastante inferior) transmitida em FM.
A programação, no conjunto da obra, é um horror. E Mário Kertèsz desenvolvia para si o culto à personalidade, esbanjando pedantismo, pretensiosismo e opinionismo dos mais pretensiosos.
Péssimo locutor e intelectual medíocre, Kertèsz só tem a seu favor, neste sentido, o fato de ser um sósia canastrão do saudoso poeta beat Allen Ginsberg, sem um milionésimo do talento do ianque.
A Rádio Metrópole criou um grande lobby, mas sua audiência nunca foi grande coisa, se alimentando pelas sintonias compradas em estabelecimentos comerciais - o que garante um aumento fake de audiência, com o cálculo do número de fregueses - , sobretudo durante transmissões de futebol.
Kertèsz é aliado de dirigentes esportivos do Esporte Clube Vitória, além de ser amigo de latifundiários baianos e membros da chamada alta sociedade de Salvador.
A Rádio Metrópole tem como contratado um "médium espírita" que não passa de um falsificador de quadros, sem o menor escrúpulo de criar quadros que só tem o seu estilo e caligrafia pessoal, mas são atribuídos a diferentes nomes de grandes pintores.
Esse "médium", que faz piada contra gordinhos e louras falsas, é integrante da alta sociedade baiana e dá para perceber por que ele aparece posando em fotos amigáveis ao lado de juízes e advogados.
Kertèsz, direitista convicto - dentro dos padrões da centro-direita hoje representada por partidos como PSDB e DEM (em que pese este ter ministério no governo Bolsonaro) - , tenta dar a impressão de que é um "intelectual de esquerda", já que na Bahia ele tenta ser dono das esquerdas baianas.
Em várias vezes, ele buscou protagonismo nacional entre as esquerdas entrevistando o ex-presidente Lula.
Como todo arrivista, Kertèsz atraiu para si dois fundadores do jornal que destruiu, o Jornal da Bahia.
João Carlos Teixeira Gomes, o Joca, e João Falcão, ambos falecidos, respectivamente através dos livros Memórias das Trevas e Não Deixe Esta Chama se Apagar, acabaram passando pano para Kertèsz, que foi o "pistoleiro" que ACM havia designado para liquidar com o "espírito" do Jornal da Bahia.
Joca se limitou a dizer que Kertèsz era "desafeto" de ACM, que o xingou de "judeu fedorento" certa vez. Mas, quando o Jornal da Bahia virou jornal popularesco, Kertèsz e ACM andavam de mãos dadas.
Já João Falcão alegou que Kertèsz "mudou a orientação do jornal" com o "inocente" objetivo de mantê-lo em circulação.
Essa passagem de pano teve com objetivo os dois narrarem a história do jornal nos programas comandados pelo algoz do jornal, que hoje é dono da marca "Jornal da Bahia", usada em um dos programas opinionistas do "astro-rei" na Rádio Metrópole.
Imagine dois galos de briga falando para uma raposa sobra a história do galinheiro que ela mesma destruiu? Pois é.
A passagem de pano se deu entre 2001, época do livro de Joca, e 2006, época do livro de Falcão.
Joca e Falcão até estavam idosos, nessa época, para ficar brigando o tempo todo. Mas não teria sido melhor manter os princípios do que se entregarem para o inimigo?
Essa história toda é uma amostra de quanto as forças progressistas são de passar pano, urgente num tempo em que o PT se deixou apoiar os mesmos golpistas que tiraram o partido do Governo Federal, em 2016.
O que mostra que o Brasil precisa aprender muito a ser progressista.
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