Pular para o conteúdo principal

ANDRESSA URACH E SUA DECISÃO DE RETIRAR TATUAGENS


Em muitos casos, as pessoas que tomam atitude corajosa são justamente as que menos se espera tomarem.

Andressa Urach, que foi vice-Miss Bumbum, está removendo tatuagens, arrumou marido por afinidades pessoais e virou evangélica desiludida com os "neopenteques".

A remoção de tatuagens (ou "gaduagens") é gradual mas ela segue uma técnica feita a laser e cuja aplicação é feita depois de anestesia local para evitar a dor.

É uma grande façanha diante da ditadura estética-comportamental que é o pessoal torrar dinheiro com tatuagens aqui e ali.

Ver que Andressa Urach faz diferença diante de "descoladas" como Aline Riscado (por ironia, nascida exatamente um dia depois da Andressa) e Cléo Pires.

Ainda mais Cléo Pires, de grande potencial, vinda de uma família de atores, se rebaixando a uma subcelebridade hedonista dentro daquele discurso de suposta liberdade narcisista-coitadista.

Ela não merecia esse papel humilhante e constrangedor que está fazendo hoje da "tatuada convicta", adepta de um "ideal de liberdade" que parece ter sido outorgado pela Folha de São Paulo.

Esse identitarismo festivo, essa "Contracultura de resultados", de mulheres pulando raivosas dizendo "Eu sou livre! Eu sou livre!" se achando "donas do próprio nariz", quando, de seus narizes, elas são sócias apenas de 20% das ações.

Os 80% restantes são de propriedade de Luciano Huck, "especialista" em nariz e dono das "donas do seu próprio nariz".

Huck é um dos artífices desse "ideal de liberdade" num país em que "liberdade" virou motivo para pedir o golpe civil-militar, a ditadura e o AI-5. E o golpe político-jurídico-midiático de 2016.

São uns poucos privilegiados que decidem pela "liberdade livre" dos identitaristas festivos.

Tem o Sílvio Santos, o Luciano Huck, o Otávio Frias Filho (in memoriam), o Tutinha, a Rede TV!, o William Bonner e o Galvão Bueno.

A coisa chega a ser tão ridícula que tem esquerdistas falando portinglês (com jargões tipo pet, boy, game e o tal body que se descobre ser o "novo nome" do maiô). Falam mal da Jovem Pan mas acolheram em seu vocabulário a gíria patenteada pela rádio, "balada".

Depois vão chorar com o fim da Petrobras, entregue às corporações gringas do petróleo.

Não adianta os identitaristas festivos odiarem esse pessoal todo. Inútil odiar alguém se segue tudo o que esse alguém diz, acredita ou defende. Seguir, neste caso, é apoio prático, cumplicidade enrustida.

E vemos o quanto tatuar o corpo faz parte da ditadura estética, da obsessão em parecer diferente, sem realmente ter um diferencial.

Soa preguiçoso. Tatua-se o corpo para parecer rebelde, vanguardista e cool, mas as ideias, o capital cultural (ler Jessé Souza) continua sendo um dos mais miseráveis e cafonas.

Fácil a mulher que tatua o corpo todo não expressar suas ideias, e o absurdo é que ela se considera "livre" com um homem lhe tocando o corpo e dando ideias do "rabisco" que ele quer dar na sua cliente.

Que liberdade é essa? Ah, claro, é porque os programas do tipo "melhor da tarde" (que de "melhor" só têm o nome) transmitidos pela TV aberta é que disseram que tatuar o corpo todo "é o máximo".

E aí vem um monte de gente cafona se achando diferentona e tirando onda de parafrentex.

Esquecem que isso também é ditadura estética. Que diferença tem fazer as cirurgias plásticas "ditadas" por revistas tipo Marie Claire, Vogue, Cláudia e Capricho, e passar horas numa sessão de tatuagem?

O propósito é o mesmo: a pressão social para parecer "legal" e "diferentão", que acaba causando o efeito contrário.

Afinal, a maioria dos tatuados nada tem de vanguarda: subcelebridades, milicianos, cantores popularescos, musas decadentes.

Daí o diferencial de Andressa Urach, que não se sujeita sequer ao neopentecostalismo neurótico de Edir Macedo.

Enquanto isso, as tatuadas que se acham "livres" se sujeitam ao que Luciano Huck e Luís Frias (que se considera herdeiro por direito do irmão Otávio) definem como "ideal de vida livre".

Podem falar mal deles e xingá-los o tempo todo, mas se seguem o que eles defendem, acreditam e determinam, é como se estivesse manifestando a eles um apoio cego e fanático. Os maiores apoiadores são aqueles que, xingando seus mestres, seguem inteiramente seus ensinamentos.

Mas não há como provar que esse ideal de tatuagem é espontâneo como o ar que respiramos. Há a obsessão em se exibir para a sociedade, chamar a atenção pelos rabiscos amontoados no corpo.

Trata-se de um desespero processo de ascensão e autopromoção social, daí que não creio nessa alegação de "liberdade", de "corpo livre", porque, na prática, isso é uma escravidão da consciência, uma paranoia para tentar ser aquilo que não é.

Ficar horas na biblioteca lendo bons livros, ir para lojas de discos trocando os CDs popularescos por de MPB das antigas e rock alternativo e (realmente) clássico (sem essa de "puns'n'gases") é muito menos doloroso do que passar horas sendo tatuado, no desespero de "ser diferente" a qualquer preço.

Com algum esforço menor do que aguentar objetos pontiagudos "pintando" a pele, dá para pegar livros de Norman Mailer, Neil Simon e Sylvia Plath e discos de João Gilberto, Laura Nyro e XTC com um custo bem menor.

Ver que os "diferentaços" de corpos rabiscados foram passados para trás por uma evangélica ex-Miss Bumbum deveria ser motivo de vergonha e não orgulho. Mas o vitimismo tem essa utilidade, de transformar a vergonha alheia em motivo de orgulho. Fazer o quê?

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

FUNQUEIROS, POBRES?

As notícias recentes mostram o quanto vale o ditado "Quem nunca comeu doce, quando come se lambuza". Dois funqueiros, MC Daniel e MC Ryan, viraram notícias por conta de seus patrimônios de riqueza, contrariando a imagem de pobreza associada ao gênero brega-popularesco, tão alardeada pela intelectualidade "bacana". Mc Daniel recuperou um carrão Land Rover avaliado em nada menos que R$ 700 mil. É o terceiro assalto que o intérprete, conhecido como o Falcão do Funk, sofreu. O último assalto foi na Zona Sul do Rio de Janeiro. Antes de recuperar o carro, a recompensa prometida pelo funqueiro foi oferecida. Já em Mogi das Cruzes, interior de São Paulo, outro funqueiro, MC Ryan, teve seu condomínio de luxo observado por uma quadrilha de ladrões que queriam assaltar o famoso. Com isso, Ryan decidiu contratar seguranças armados para escoltá-lo. Não bastasse o fato de, na prática, o DJ Marlboro e o Rômulo Costa - que armou a festa "quinta coluna" que anestesiou e en

FIQUEMOS ESPERTOS!!!!

PESSOAS RICAS FANTASIADAS DE "GENTE SIMPLES". O momento atual é de muita cautela. Passamos pelo confuso cenário das "jornadas de junho", pela farsa punitivista da Operação Lava Jato, pelo golpe contra Dilma Rousseff, pelos retrocessos de Temer, pelo fascismo circense de Bolsonaro. Não vai ser agora que iremos atingir o paraíso com Lula nem iremos atingir o Primeiro Mundo em breve. Vamos combinar que o tempo atual nem é tão humanitário assim. Quem obteve o protagonismo é uma elite fantasiada de gente simples, mas é descendente das velhas elites da Casa Grande, dos velhos bandeirantes, dos velhos senhores de engenhos e das velhas oligarquias latifundiárias e empresariais. Só porque os tataranetos dos velhos exterminadores de índios e exploradores do trabalho escravo aceitam tomar pinga em birosca da Zona Norte não significa que nossas elites se despiram do seu elitismo e passaram a ser "povo" se misturando à multidão. Tudo isso é uma camuflagem para esconder

DEMOCRACIA OU LULOCRACIA?

  TUDO É FESTA - ANIMAÇÃO DE LULA ESTÁ EM DESACORDO COM A SOBRIEDADE COM QUE SE DEVE TER NA VERDADEIRA RECONSTRUÇÃO DO BRASIL. AQUI, O PRESIDENTE DURANTE EVENTO DA VOLKSWAGEN DO BRASIL. O que poucos conseguem entender é que, para reconstruir o Brasil, não há clima de festa. Mesmo quando, na Blumenau devastada pela trágica enchente de 1983, se realizou a primeira Oktoberfest, a festa era um meio de atrair recursos para a reconstrução da cidade catarinense. Imagine uma cirurgia cujo paciente é um doente em estado terminal. A equipe de cirurgiões não iria fazer clima de festa, ainda mais antes de realizar a operação. Mas o que se vê no Brasil é uma situação muito bizarra, que não dá para ser entendida na forma fácil e simplória das narrativas dominantes nas redes sociais. Tudo é festa neste lulismo espetaculoso que vemos. Durante evento ocorrido ontem, na sede da Volkswagen do Brasil, em São Bernardo do Campo, Lula, já longe do antigo líder sindical de outros tempos, mais parecia um showm

VIRALATISMO MUSICAL BRASILEIRO

  "DIZ QUE É VERDADE, QUE TEM SAUDADE .." O viralatismo cultural brasileiro não se limita ao bolsonarismo e ao lavajatismo. As guerras culturais não se limitam às propagandas ditatoriais ou de movimentos fascistas. Pensar o viralatismo cultural, ou culturalismo vira-lata, dessa maneira é ver a realidade de maneira limitada, simplista e com antolhos. O que não foi a campanha do suposto "combate ao preconceito", da "santíssima trindade" pró-brega Paulo César de Araújo, Pedro Alexandre Sanches e Hermano Vianna senão a guerra cultural contra a emancipação real do povo pobre? Sanches, o homem da Folha de São Paulo, invadindo a imprensa de esquerda para dizer que a pobreza é "linda" e que a precarização cultural é o máximo". Viralatismo cultural não é só Bolsonaro, Moro, Trump. É"médium de peruca", é Michael Sullivan, é o É O Tchan, é achar que "Evidências" com Chitãozinho e Xororó é um clássico, é subcelebridade se pavoneando

FOMOS TAPEADOS!!!!

Durante cerca de duas décadas, fomos bombardeados pelo discurso do tal "combate ao preconceito", cujo repertório intelectual já foi separado no volume Essa Elite Sem Preconceitos (Mas Muito Preconceituosa)... , para o pessoal conhecer pagando menos pelo livro. Essa retórica chorosa, que alternava entre o vitimismo e a arrogância de uma elite de intelectuais "bacanas", criou uma narrativa em que os fenômenos popularescos, em boa parte montados pela ditadura militar, eram a "verdadeira cultura popular". Vieram declarações de profunda falsidade, mas com um apelo de convencimento perigosamente eficaz: termos como "MPB com P maiúsculo", "cultura das periferias", "expressão cultural do povo pobre", "expressão da dor e dos desejos da população pobre", "a cultura popular sem corantes ou aromatizantes" vieram para convencer a opinião pública de que o caminho da cultura popular era através da bregalização, partindo d

ALEGRIA TÓXICA DO É O TCHAN É CONSTRANGEDORA

O saudoso Arnaldo Jabor, cineasta, jornalista e um dos fundadores do Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (CPC - UNE), era um dos críticos da deterioração da cultura popular nos últimos tempos. Ele acompanhava a lucidez de tanta gente, como Ruy Castro e o também saudoso Mauro Dias que falava do "massacre cultural" da música popularesca. Grandes tempos e últimos em que se destacava um pensamento crítico que, infelizmente, foi deixado para trás por uma geração de intelectuais tucanos que, usando a desculpa do "combate ao preconceito" para defender a deterioração da cultura popular.  O pretenso motivo era promover um "reconhecimento de grande valor" dos sucessos popularescos, com todo aquele papo furado de representar o "espírito de uma época" e "expressar desejos, hábitos e crenças de um povo". Para defender a música popularesca, no fundo visando interesses empresariais e políticos em jogo, vale até apelar para a fal

PUBLICADO 'ESSA ELITE SEM PRECONCEITOS (MAS MUITO PRECONCEITUOSA)'

Está disponível na Amazon o livro Essa Elite Sem Preconceitos (Mas Muito Preconceituosa)... , uma espécie de "versão de bolso" do livro Esses Intelectuais Pertinentes... , na verdade quase isso. Sem substituir o livro de cerca  de 300 páginas e análises aprofundadas sobre a cultura popularesca e outros problemas envolvendo a cultura do povo pobre, este livro reúne os capítulos dedicados à intelectualidade pró-brega e textos escritos após o fechamento deste livro. Portanto, os dois livros têm suas importâncias específicas, um não substitui o outro, podendo um deles ser uma opção de menor custo, por ter 134 páginas, que é o caso da obra aqui divulgada. É uma forma do público conhecer os intelectuais que se engajaram na degradação cultural brasileira, com um etnocentrismo mal disfarçado de intelectuais burgueses que se proclamavam "desprovidos de qualquer tipo de preconceito". Por trás dessa visão "sem preconceitos", sempre houve na verdade preconceitos de cl

LULA, O MAIOR PELEGO BRASILEIRO

  POR INCRÍVEL QUE PAREÇA, LULA DE 2022 ESTÁ MAIS PRÓXIMO DE FERNANDO COLLOR O QUE DO LULA DE 1989. A recente notícia de que o governo Lula decidiu cortar verbas para bolsas de estudo, educação básica e Farmácia Popular faz lembrar o governo Collor em 1991, que estava cortando salários e ameaçando privatizar universidades públicas. Lula, que permitiu privatização de estradas no Paraná, virou um grande pelego político. O Lula de 2022 está mais próximo do Fernando Collor de 1989 do que o próprio Lula naquela época. O Lula de hoje é espetaculoso, demagógico, midiático, marqueteiro e agrada com mais facilidade as elites do poder econômico. Sem falar que o atual presidente brasileiro está mais próximo de um político neoliberal do que um líder realmente popular. Eu estava conversando com um corretor colega de equipe, no meu recém-encerrado estágio de corretagem. Ele é bolsonarista, posição que não compartilho, vale lembrar. Ele havia sido petista na juventude, mas quando decidiu votar em Lul

MAIS DECEPÇÃO DO GOVERNO LULA

Governo Lula continua decepcionando. Três casos mostram isso e se tratam de fatos, não mentiras plantadas por bolsonaristas ou lavajatistas. E algo bastante vergonhoso, porque se trata de frustrações dos movimentos sociais com a indiferença do Governo Federal às suas necessidades e reivindicações. Além de ter havido um quarto caso, o dos protestos de professores contra os cortes de verbas para a Educação, descrito aqui em postagem anterior, o governo Lula enfrenta protestos dos movimentos indígenas, da comunidade científica e dos trabalhadores sem terra, lembrando que o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra) já manifestou insatisfação com o governo e afirmou que iria protestar contra ele. O presidente Lula, ao lado da ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, assinou, no último dia 18, a demarcação de apenas duas terras para se destinarem a ser reservas indígenas, quando era prometido um total de seis. Aldeia Velha (BA) e Cacique Fontoura (MT) foram beneficiadas pelo document

O ETARISTA E NADA DEMOCRÁTICO MERCADO DE TRABALHO

É RUIM O MERCADO DISCRIMINAR POR ETARISMO, AINDA MAIS QUANDO O BRASIL HOJE É GOVERNADO POR UM IDOSO. O mercado de trabalho, vamos combinar, é marcado pela estupidez, como se vê na equação maluca de combinar pouca idade e longa experiência, quando se exige experiência comprovada em carteira assinada até para coisas simples como fazer cafezinho. O drama também ocorre quando recrutadores de "oficinas de ideias" não conseguem discernir reportagem de stand up comedy  e contratam comediantes para cargos de Comunicação, enganados pelas lorotas contadas por esses humoristas sobre uma hipotética carreira jornalística, longa demais para suas idades e produtiva demais para permitir uma carreira paralela ou simultânea a gente que, com carreira na comédia, precisa criar e ensaiar esquetes de piadas. Também vemos, nos concursos públicos, questões truncadas e prolixas - que, muitas vezes mal elaboradas, nem as bancas organizadoras conseguem entender - , em provas com gabaritos com margem de