AS ELITES RELIGIOSAS PEDIRAM A DITADURA MILITAR COM SUAS "MARCHAS DA FAMÍLIA". ELAS TAMBÉM "ERAM LIVRES"?
Sou a favor da liberdade autêntica, e é por isso que eu manifesto preocupação com o discurso de "liberdade" num país não muito livre como o Brasil.
O conceito dominante de "liberdade" alterna entre um hedonismo em muitos casos masoquista e preguiçoso e um moralismo severo, autoritário e punitivista.
Tivemos a Marcha da Família Unida com Deus pela Liberdade, no Vale do Anhangabaú, São Paulo, em 18 de março de 1964, que pediu o golpe civil-militar que derrubou o governo progressista de João Goulart e instalou uma ditadura de duas décadas.
Tivemos, recentemente, o Movimento Brasil Livre (na prática, Movimento Me Livre do Brasil), que pediu a queda do governo progressista de Dilma Rousseff, há cinco anos.
Uma das obras do conservadorismo religioso neo-medieval é uma "psicografia espírita", intitulada Libertação, que nada tem de libertadora, sempre apelando para a apologia da desgraça humana, uma das bandeiras do "bondoso médium" que exaltou a ditadura e foi até premiado por isso.
Temos também atitudes "livres" como fumar muito cigarro e engordar demais. "Liberdades" que no entanto resultam em infartos, câncer e males fatais que tiram a liberdade da pessoa de ter uma vida menos curta.
E temos a tatuagem que, para a maioria das pessoas, é sinônimo de "liberdade plena", mas tudo isso é nada mais do que um subproduto da ditadura estética, da obsessão doentia em parecer "diferente de todo mundo".
Essas "liberdades" de uma forma ou de outra não surgem como o ar que respiramos, e deixam as esquerdas bastante confusas.
Elas se perdem entre o hedonismo do prazer identitário e o moralismo severo do Espiritismo brasileiro, tido como "progressista" mas inclinado a pautas nada progressistas que defendem o trabalho exaustivo, a redução dos salários e a rejeição radical do aborto, até no caso de menores vítimas de estupro.
Essa "liberdade" permitiu que o golpe político de 2016 se desse e Jair Bolsonaro quebrasse o Brasil.
As esquerdas ainda se calam no equivoco de suas escolhas, escondendo os "brinquedos culturais" da centro-direita, que lhes apresentaram "médiuns", funqueiros, mulheres-frutas e futebolistas fanfarrões que, supostamente, simbolizavam a felicidade do povo pobre.
Todos esses "brinquedos" eram somente artefatos de uma campanha de "glorificação do oprimido", uma farsa que só fez as Organizações Globo, a Folha de São Paulo e companhia parecerem "bem na fita" diante das esquerdas médias.
Imaginem vocês, que essas esquerdas ligadas ao "marxismo tendência Baleia Rossi" sigam o Efeito Forer e não vejam a semelhança arrepiante da máxima "espírita" "Brasil Coração do Mundo, Pátria do Evangelho" e o mantra bolsonarista "Brasil, Acima de Tudo, Deus Acima de Todos".
Para quem não sabe, o Efeito Forer é um fenômeno no qual há uma falta de discernimento às avessas, que é a mania eventual das pessoas de ver diferença onde ela não existe.
E é justamente a falta de discernimento, que vê semelhanças e diferenças onde não há, num clima de confusão generalizada, é que permite que o suposto "sonho de liberdade" traçado por Globo, Folha, Rede TV!, SBT, Jovem Pan etc resulte no pesadelo em que vivemos.
Esquerdas que chegam a falar jargões da Jovem Pan, como a gíria "balada", esquecendo da armadilha alertada pelo falecido Robert Fisk sobre o "vocabulário do poder", que legitima o poder de veículos e personalidades da mídia hegemônica até sobre uma parcela de detratores.
Sim, porque nesse ideal de falsa liberdade, temos pessoas que seguem o receituário da mídia venal, incluindo gírias e formas de ver o mundo, e se dizem contra essa mesma mídia e seus astros.
O que falta mesmo nessa "liberdade" toda, seja hedonista ou moralista, é um pouco de responsabilidade de consciência.
Afinal, de que adianta ficar dizendo "Eu sou livre! Eu sou livre!", dos neopenteques aos junkies, dos "kardecistas" aos funqueiros, se a consciência, em dado momento, acaba ficando pesada.
Com essa "liberdade" toda, as pessoas nunca terão um sono tranquilo, porque essa "liberdade" não é mais do que uma grande ilusão, que mascara a realidade nada livre em que vivem.
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