Ainda haverá muitos domingos para ver o Fausto Silva falando "galera" umas 20 vezes por minuto, mas seu Domingão do Faustão já tem seu fim anunciado para dezembro de 2021.
Isso reflete a crise da Rede Globo de Televisão, mas não podemos subestimar a ciranda midiática. Aparentemente, Luciano Huck cogitou desistir da corrida presidencial para substituir Faustão nas tardes de domingo.
Em todo caso, o Brasil tende a ter um presidente neoliberal, ainda que seja um indicado por Huck, e isso quando as trapalhadas das esquerdas de glúteos ensandecidos (os "bumbum tantãs") não ajudarem a reeleger Jair Bolsonaro.
O PT não vai voltar ao poder. Nem o PSOL. Infelizmente nossas esquerdas perderam o protagonismo, até pelos seus próprios erros. Deixam o povo morrer desempregado, para não dizer vítima da violência, principalmente no campo, e vão exaltar uma tolice como o sucesso do MC Fioti.
Vivemos uma onda de imbecilização que se reflete até no mercado literário, com pessoas botando na lista de mais vendidos o suprassumo da literatura descartável, aquela que não traz Saber nem Conhecimento, mas apenas anestesiam as mentes já dopadas do público médio.
E os "donos" da "nossa liberdade" deitam e rolam, até mesmo no além. Otávio Frias Filho virou "deus" a guiar o identitarismo festivo que manipula setores das esquerdas brasileiras.
O Tavinho Golpes Finos enviou seu "único filho", Pedro Alexandre Sanches, para doutrinar as esquerdas sobre a necessidade de acreditar no culturalismo neoliberal e brega-chique que espetaculariza a pobreza e reduz o povo pobre a uma mitologia de pessoas ao mesmo tempo ignorantes e ingênuas.
Sanches integra a "santíssima trindade" que tem destaque no meu instigante livro jornalístico, Esses Intelectuais Pertinentes..., que seria best seller se nosso Brasil fosse um país menos alienado.
Nosso culturalismo têm seus "donos", que decidem qual a "liberdade" que o público deve ter, como o aparato "diferentão" dos corpos tatuados que só servem para camuflar a mesmice alienante que seduz muitas pessoas.
Além de Frias, nossa "liberdade plena" tem outros "donos" e "senhores", num Brasil de tradição escravocrata onde o culturalismo conservador moldava as Senzalas conforme a vontade da Casa Grande, e essas Senzalas eram vendidas como falsos Quilombos.
Temos o Sílvio Santos, que foi um dos maiores arquitetos desse imaginário "popular demais" que faz as esquerdas abobalhadas acharem que MC Fioti, Odair José e Tati Quebra-Barraco são as salvações da humanidade.
Gente que mora nos condomínios do Morumbi e do Recreio dos Bandeirantes mas que se acha na moral de julgar o que é o povo pobre.
Bancam os "socialistas de zap-zap" e se aborrecem quando bons samaritanos da sensatez humana revelam que o "funk" é um subproduto do culturalismo conservador da Globo/Folha para criar um falso ativismo popular para sufocar os verdadeiros ativismos.
Isso porque, enquanto o pessoal todo está "combatendo o preconceito" dançando o "bumbum tantã" nos "bailes funk" da moda (sejam eles em Paraisópolis ou em Jurerê Internacional), aumenta a fome, a miséria, o desemprego e o número de gente desabrigada em nosso país.
Ah, mas aí não tem problema. As esquerdas "bumbum tantã" recorrerão à "profecia data-limite" do "médium de peruca" que foi o pioneiro na literatura fake.
Aí, em nome do finado ilusionista da "fé raciocinada", criam-se caravanas ostensivas "da solidariedade", que distribuem, dentro de donativos em geral, alguns remédios com validade vencida, alimentos de marcas ruins e roupas rasgadas, mofadas e consideradas fora de moda.
Tudo para exaltar uma "caridade" que soa um espetáculo, produzindo a masturbação pelos olhos das lágrimas fáceis, mas sem mexer um dedo na pobreza estrutural que permanece inalterada.
É um culturalismo conservador que alterna "médiuns" e funqueiros no espetáculo sensacionalista do falso ativismo, iludindo as esquerdas infantilizadas nas redes sociais.
E aí, entre outros "donos" da liberdade brasileira, junto a executivos da Rede TV! e Jovem Pan, do jornalismo bonapartista da Band e do populismo coronelista das FMs "populares demais", aparece também o Fausto Silva como pregador desse culturalismo pseudo-progressista.
Fausto Silva, que, como cronista político, é um terrível pedante, e brinda o público com a humilhação eletrônica das "vídeocassetadas", também molda o gosto musical do público médio, sobretudo no seu filtro para decidir o que o "povão" deve ou não ouvir de música brasileira.
Alternando entre a supremacia dos sucessos popularescos e os hits mais manjados dos medalhões da MPB - de preferência aqueles que apareceram em trilhas da novela da Rede Globo - , o culturalismo musical de Fausto Silva é sob medida para o público médio das churrascarias.
É um público que até ouve músicas com temáticas duras como "Como Nossos Pais", de Belchior, na voz de Elis Regina, "Disparada", de Geraldo Vandré, na voz de Jair Rodrigues, e "Admirável Gado Novo", de Zé Ramalho, na voz dele mesmo.
No entanto, essas músicas são ouvidas sem que suas letras fossem devidamente compreendidas. É como se Belchior, Geraldo Vandré e Zé Ramalho tivessem escrito essas letras em alemão.
Esquecem essas pessoas que adoram "MPB de churrascaria" - o que facilita a aceitação de canastrões como Alexandre Pires, Daniel e Chitãozinho & Xororó como supostos emepebistas - que os temas das letras são de uma contundência crítica que incomoda a sociedade.
"Como Nossos Pais" é uma letra que reclama da acomodação da juventude brasileira diante das mobilizações contra a ditadura militar de 1966-1968, que, fracassadas, abriram caminho para o AI-5.
"Disparada" é contra o coronelismo dos latifundiários que explora, cruelmente, as populações camponesas.
"Admirável Gado Novo" é uma crítica à alienação social, como se as críticas de Belchior e Vandré nas músicas acima citadas exercessem algum diálogo, mesmo numa diferença de contexto.
E o pessoal que vai aos shows de Maria Bethânia como quem vai a um evento natalino não percebe isso e, na sua vida normal, cotidiana, as músicas que realmente ouve são aquelas pasmaceiras popularescas que tocam nas rádios.
Agora como é que fica tudo isso sem o Faustão comandando as tardes de domingo?
Entre um pedantismo de Alexandre Pires e o triunfalismo de um Gusttavo Lima, Faustão pelo menos permitia que algum nome da tão menosprezada MPB autêntica seja apresentado ao grande público, ainda que sob as bajulações gosmentas do apresentador.
Sem ele, como é que fica? Num cenário em que até a Kuarup Discos passa pano para nomes popularescos, a situação é de fazer careca arrancar os cabelos que não tem.
Mas é claro que Faustão, em si, não faria falta na televisão, porque seu Domingão do Faustão era ruim e, nos bastidores, o apresentador se desentendia muito com a produção, e humilhou o falecido operador de câmera Ivalino Raimundo da Silva, o Gaúcho, vítima da Covid-19.
Gaúcho era humilhado acusado de ser "corno" e, depois de deixar o programa, ele chegou a processar Faustão e a Rede Globo por danos morais.
E, vamos combinar, o Domingão do Faustão é uma versão invertida do Perdidos da Noite, programa anterior de Faustão na Record e na Band (eu vi alguns programas desta fase).
O Perdidos da Noite era um programa bom que fingia ser ruim. O Domingão do Faustão teve a proeza de ser um programa ruim fingindo ser bom.
Os bregas apareciam no Perdidos da Noite como ídolos pitorescos, dentro daquele clima tosco do programa. Não eram anunciados como a "salvação da MPB", como reivindicava, de forma chorosa, a intelectualidade "bacana" presente no meu livro Esses Intelectuais Pertinentes....
Mas como Faustão mudou e virou até "coxinha" e amigo de Michel Temer, dificilmente ele voltará à sua performance divertida daqueles tempos.
O fim do Domingão do Faustão será o fim de um ciclo. O que virá não será melhor nem pior, mas de acordo com os interesses comerciais em jogo de nossa mídia corporativa.
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