Pular para o conteúdo principal

EXCLUSIVO: FAROFAFEIROS ATACAM INTELECTUAL DE ESQUERDA


Tive que parar brevemente o descanso de meu blogue por causa de uma polêmica bastante surreal, puxada pelos blogueiros do Farofafá, aquele fã-clube enrustido de Francis Fukuyama que arranca dinheiro de Mino Carta. O alvo é um texto do intelectual Vladimir Safatle, intelectual de esquerda dos mais conceituados do Brasil.

É uma coisa bastante surreal. Vladimir Safatle é um intelectual de esquerda autêntica, mas publicou seu texto num periódico de direita, a Folha de São Paulo, que o contratou para dar a impressão de que o periódico acolhe a diversidade ideológica. Além disso, Safatle é um dos poucos intelectuais de esquerda de nível internacional, que não se prendem apenas à agenda política.

Já o Farofafá, comandado pelo discípulo envergonhado de Fernando Henrique Cardoso, Pedro Alexandre Sanches - curiosamente o aluno-modelo de Otávio Frias Filho que empurra preconceitos da Folha de São Paulo para a mídia esquerdista - , é uma ilha de centro-direitismo no portal da Carta Capital, que pensa a cultura popular sob a perspectiva do livre mercado.

Certamente o texto "Resposta a Vlad, o Moderno" não foi escrito por Sanches mas por um colaborador, Acauam Oliveira, e ele apela pelos mesmos enjoados clichês da apologia à bregalização cultural e à "ditabranda do mau gosto" que ninguém aguenta mais.

Acauam certamente abraça a causa do editor Sanches - que por sua vez escreve como se fosse uma mistureba pós-tropicalista de Reinaldo Azevedo e Caetano Veloso com a fome de mercado de Rodrigo Constantino, apesar da pose pseudo-esquerdista do "filho da Folha" - e apela para o disco riscado de dizer que o "funk" e o "sertanejo" é que "incomodam mais" do que a "boa música".

Vamos explicar. Vladimir Safatle, que lembra Mauro Dias de 16 anos atrás quando falava do "massacre cultural" do brega-popularesco, define como o "fim da música" a onda de ritmos "populares" que refletem o conformismo das classes populares com a supremacia das elites.

"A música brasileira foi paulatinamente perdendo sua relevância, para se transformar apenas na trilha de fundo da literalização de nossos horizontes" escreve Safatle, Ele define a mediocridade musical pelo nome de "estereotipia formal" e, se ele atribui o "sertanejo universitário" e o "funk" ao lulismo é porque ele faz parte de uma esquerda que critica o PT e sabe que o brega-popularesco usou a Era Lula para o parasitismo das verbas da Lei Rouanet.

Sem querer querendo, Acauam tenta "reconhecer" a diferença de contextos entre o samba urbano de 1930 e o "funk", mas ele tenta puxar a brasa funqueira para a sua sardinha bregófila, como se quisesse dizer que os funqueiros de hoje são tão ou mais "injustiçados" que os sambistas de ontem:

"Mas eu não concordo integralmente com o paralelismo funk perseguido/samba perseguido por diversas razões, dentre elas o fato de que as comunidades possíveis de se imaginar a partir do funk são muito diferentes daquelas imagináveis pelo samba, e as relações descontínuas entre o samba incorporado pela tradição que o Safatle gosta e o pancadão não podem ser tratadas apenas a partir de suas continuidades. Uma imanenciazinha às vezes cai bem…".

Evidentemente Acauam tenta estar acima do bem e do mal na análise cultural. Claro, ele sonha ver funqueiros e "sertanejos" reconhecidos como "vanguarda cultural" como o cara que sonha ver o Big Mac valorizado na dieta vegetariana (apesar do hambúrguer) só por causa de um alface e tomate inseridos no sanduíche.

Acauam faz uma longa divagação ideológica, tentando puxar critérios ao mesmo tempo sociológicos e um metodologia anti-metodológica, criticando tanto os "anti-intelectuais", os "neo-indies", a crítica de uns e a crítica de outros, numa "viagem prolixa" que cita um intelectual, José Calixto, que atribuiu "consistência" na batida do "funk".

É evidente que a sombra de Rodrigo Constantino percorre as páginas do Farofafá, só afetando com menos intensidade o Jotabê Medeiros, que pela lucidez é o "Roberto Pompeu de Toledo" daquela Veja pós-tropicalista que é o Farofafá, que parece não ver diferença essencial entre o comercialismo do brega-popularesco e a criatividade da MPB de vanguarda.

O grande problema é que os espaços de divulgação estão sendo mais escassos. Quando entra na grande mídia, a MPB autêntica vira refém de trilhas de novela da Globo e se vicia em tributos saudosistas. Existe nova e vibrante MPB por aí, mas ela se resigna aos poucos espaços que lhe resta, e ninguém parece mais querer desafiar o establishment.

Por outro lado, a música dita "popular demais" só é tida como "vanguardista" pela imaginação dos farofafeiros em sua altíssima visibilidade e seu apetite rodrigoconstantiniano pelo "deus mercado". Afinal, para eles não há a diferença de um Chico Science que vira a música nordestina de cabeça para baixo e o "forró eletrônico" patrocinado por latifundiários que mandam matar agricultores.

O que os intelectuais "bacaninhas" fazem é deixar como está o quadro em que o povo pobre está sujeito a se "expressar" por um tipo de estereotipação cultural e musical trazida pelo poder midiático, ignorando que muito do sucesso "explosivo" do "funk carioca" se deve à mesma Rede Globo de Ali Kamel e companhia, que os farofafeiros fingem sentir "ódio mortal".

E mais: um dos que mais patrocinaram e difundiram o "funk" foi Luciano Huck, abertamente afiliado do PSDB, e tão amigo de Aécio Neves que este passou a falar igualzinho ao apresentador, o que sugere que o marido de Angélica tenha servido de fonoaudiólogo pessoal do neto de Tancredo Neves.

Por outro lado, a Veja se rendendo a MC Guimê e a TV O Liberal (afiliada paraense da Globo) ter abraçado a causa do tecnobrega não são mera coincidência. Não se faz ocupação quando os algozes a serem "dominados" reagem felizes da vida. Quando a Banda Calypso, hoje em colapso devido ao divórcio de Joelma e Chimbinha, apareceu no Domingão do Faustão, aquilo não foi um ato de ocupação subversiva, mas uma aliança entre o grupo e o poderio midiático que o apoia.

O Brasil está mergulhado no mais escancarado comercialismo musical. A bregalização já previa esse comercialismo desde os tempos de Orlando Dias, contemporâneo de Waldick Soriano, trabalhado como um ídolo abertamente comercial no começo dos anos 1960. É lamentável que uma parcela de intelectuais influentes ache que o futuro do folclore está nas mãos dos empresários do entretenimento que financiam o brega-popularesco.

Só que hoje tudo virou um beco-sem-saída, e, numa época em que Fernando Brant já está morto, perdemos emepebistas que morrem sem deixar herdeiros e o grupo instrumenal Uakti decide encerrar suas atividades, a arte musical brasileira morre aos poucos com o avanço totalitário do brega-popularesco e seu jeito McDonalds-Disneylândia de abordar as classes populares.

Enquanto isso, mais uma vez a indústria de entretenimento posa de "vanguardista" repetindo fórmulas de 15, 20 anos atrás. Acham que Anitta descobriu o Big Bang com seu Bang!, mas ela só faz o que Britney Spears já fez muito, muito antes...

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PESQUISISMO E RELATORISMO

As mais recentes queixas a respeito do governo Lula ficam por conta do “pesquisismo”, a mania de fazer avaliações precipitadas do atual mandato do presidente brasileiro, toda quinzena, por vários institutos amigos do petista. O pesquisismo são avaliações constantes, frequentes e que servem mais de propaganda do governo do que de diagnóstico. Pesquisas de avaliação a todo momento, em muitos casos antecipando prematuramente a reeleição de Lula, com projeções de concorrentes aqui e ali, indo de Michelle Bolsonaro a Ciro Gomes. Somente de um mês para cá, as supostas pesquisas de opinião apontavam queda de popularidade de Lula, e isso se deu porque os próprios institutos foram criticados por serem “chapa branca” e deles se foi cobrada alguma objetividade na abordagem, mesmo diante de métodos e processos de pesquisa bastante duvidosos. Mas temos também outro vício do governo Lula, que ninguém fala: o “relatorismo”. Chama-se de relatorismo essa mania de divulgar relatórios fantásticos sobre s...

SIMBOLOGIA IRÔNICA

  ACIMA, A REVOLTA DE OITO DE JANEIRO EM 2023, E, ABAIXO, O MOVIMENTO DIRETAS JÁ EM 1984. Nos últimos tempos, o Brasil vive um período surreal. Uma democracia nas mãos de um único homem, o futuro de nosso país nas mãos de um idoso de 80 anos. Uma reconstrução em que se festeja antes de trabalhar. Muita gente dormindo tranquila com isso tudo e os negacionistas factuais pedindo boicote ao pensamento crítico. Duas simbologias irônicas vêm à tona para ilustraresse país surrealista onde a pobreza deixou de ser vista como um problema para ser vista como identidade sociocultural. Uma dessas simbologias está no governo Lula, que representa o ideal do “milagre brasileiro” de 1969-1974, mas em um contexto formalmente democrático, no sentido de ninguém ser punido por discordar do governo, em que pese a pressão dos negacionistas factuais nas redes sociais. Outra é a simbologia do vandalismo do Oito de Janeiro, em 2023, em que a presença de uma multidão nos edifícios da Praça dos Três Poderes, ...

A PRISÃO DE MC POZE E O VELHO VITIMISMO DO “FUNK”

A prisão do funqueiro e um dos precursores do trap brasileiro, o carioca MC Poze do Rodo, na madrugada de ontem no Rio de Janeiro, reativou mais uma vez o discurso vitimista que o “funk” utiliza para se promover. O funqueiro, cujo nome de batismo é Marlon Brandon Coelho Couto Silva, e que já deixou a Delegacia de Repressão a Entorpecentes para ir a um presídio no bairro carioca de Benfica, tem entre o público da Geração Z e das esquerdas identitárias a reputação que Renato Russo teve entre o público de rock dos anos 1980, embora o MC não tenha 0,000001% do talento, pois se envolve em um ritmo marcado pela mais profunda precarização artístico-cultural. No entanto, MC Poze do Rodo foi detido por acusações de apologia ao crime organizado, ao porte ilegal de armas e à violência. Em várias vezes, Poze aparecia com armas nas fotos das redes sociais, o que poderia sugerir um funqueiro bolsonarista em potencial. A polícia do Rio de Janeiro enviou o seguinte comunicado:: “De acordo com as inves...

O ATRASO CULTURAL OCULTO DA GERAÇÃO Z

Fico pasmo quando leio pessoas passando pano no culturalismo pós-1989, em maioria confuso e extremamente pragmático, como se alguém pudesse ver uma espessa cabeleira em uma casca de um ovo. Não me considero careta e, apesar dos meus 54 anos de idade, prefiro ir a um Lollapalooza do que a um baile de gala. Tenho uma bagagem cultural maior do que mimha idade sugere, pelas visões de mundo que tenho, até parece que sou um cidadão mediano de 66 anos. Mas minha jovialidade, por incrível que pareça, está mais para um rapazinho de 26 anos. Dito isso, me preocupa a existência de ídolos musicais confusos, que atiram para todos os lados, entre um roquinho mais pop e um som dançante mais eroticamente provocativo, e no meio do caminho entre guitarras elétricas e sintetizadores, há momentos pretensamente acústicos. Nem preciso dizer nomes, mas a atual cena pop é confusa, pois é feita por uma geração que ouviu ao mesmo tempo Madonna e AC/DC, Britney Spears e Nirvana, Backstreet Boys e Soundgarden. Da...

LÉO LINS E A DECADÊNCIA DE HUMORISTAS E INFLUENCIADORES

LÉO LINS, CONDENADO A OITO ANOS DE PRISÃO E MULTA DE MAIS DE R$ 300 MIL POR CONTA DE PIADAS OFENSIVAS. Na semana passada, a Justiça Federal, através da 3ª Vara Criminal Federal de São Paulo, condenou o humorista Léo Lins a oito anos de prisão, três deles em regime inicialmente fechado, e multa no valor de R$ 306 mil por fazer piadas ofensivas contra grupos minoritários.  Só para sentir a gravidade do caso, uma das piadas sugere uma sutil apologia ao feminicídio: "Feminista boa é feminista calada. Ou morta". Em outra piada machista, Léo disse: "Às vezes, a mulher só entende no tapa. E se não entender, é porque apanhou pouco". Léo também fez piadas agredindo negros, a comunidade LGBTQIA+, pessoas com HIV, indígenas, evangélicos, pessoas com deficiência, obesos e nordestinos, entre outros. O vídeo que inspirou a elaboração da sentença foi o espetáculo Perturbador, um vídeo gravado em 2022 no qual Léo faz uma série de comentários ofensivos. Os defensores de Léo dizem qu...

ELITE DO BOM ATRASO PIROU NAS REDES SOCIAIS

A BURGUESIA DE CHINELOS NÃO QUER OUTRO CANDIDATO EM 2026. SÓ QUER LULA. A elite do bom atraso, a “frente ampla” social que vai do “pobre de novela” - tipo que explicaremos em outra postagem - ao famoso muito rico, mas que inclui também a pequena burguesia e a parcela “legal” da alta burguesia, enlouqueceu nas redes sociais, exaltando o medíocre governo Lula e somente desejando ele para a Presidência da República na próxima eleição. Preso a estereótipos que deixaram de fazer sentido na realidade, como governar para os pobres e deixar a classe média abastada em segundo plano, Lula na prática expressa um peleguismo que é facilmente reconhecido por proletários, camponeses, sem-teto e servidores públicos, que veem o quanto o presidente “quer, mas não quer muito” trabalhar para o bem-estar dos brasileiros. Lula tem como o maior de seus inúmeros erros o de tratar a reconstrução do Brasil como se fosse uma festa. Esse problema, é claro, não é percebido pela delirante elite do bom atraso que, h...

GOVERNO LULA AGRAVA SUA CRISE

INDICADO POR LULA PARA O BANCO CENTRAL, GABRIEL GALÍPOLO PREFERIU MANTER OS JUROS ALTOS "POR MUITO TEMPO". Enquanto o governo Lula limita gastos mensais com universidades federais, a farra das ONGs nas ditas “emendas parlamentares” é de R$ 274 milhões. Na viagem para a China, Lula é acusado de gastar café com valor equivalente a R$ 56 e de conprar um terno no valor equivalente a R$ 850. Quanto às universidades públicas, a renomada Academia Brasileira de Ciências acusa o governo Lula de desmontar as instituições de ensino superior público através desses cortes financeiros. Lulistas blindam Janja quando ela quebrou o protocolo da conversa entre o marido e o presidente chinês Xi Jinping, para falar de sua preocupação com o Tik Tok. Em compensação, Lula não cumpriu a promessa de implantar o Plano Nacional de Transição Energética, que iria tirar o Brasil da dependência de combustível fóssil. Mas o presidente ainda quer devastar a Amazônia Equatorial para extrair mais petróleo. Lul...

QUANDO A CAPRICHO QUER PARECER A ROCK BRIGADE

Até se admite que o departamento de Jornalismo das rádios comerciais ditas “de rock” é esforçado e tenta mostrar serviço. Mas nem de longe isso pode representar um diferencial para as tais “rádios rock”, por mais que haja alguma competência no trabalho de seus repórteres. A gente vê o contraste que existe nessas rádios. Na programação diária, que ocupa a manhã, a tarde e o começo da noite, elas operam como rádios pop convencionais, por mais que a vinheta estilo “voz de sapo” tente coaxar a palavra “rock”. O repertório é hit-parade, com medalhões ou nomes comerciais, e nem de longe oferecem o básico para o público iniciante de rock. Para piorar, tem aquele papo furado de que as “rádios rock” não tocam só os “clássicos”, mas também as “novidades”. Papo puramente imbecil. É aquela coisa da padaria dizer que não vende somente salgados, mas também os doces. Que diferença isso faz? O endeusamento, ou mesmo as passagens de pano, da imprensa especializada às rádios comerciais “de rock” se deve...

A ILUSÃO DE QUERER PARECER O “MAIS LEGAL DO PLANETA”

Um dos legados do Brasil de Lula 3.0 está na felicidade tóxica de uma parcela de privilegiados. A obsessão de uns poucos bem-nascidos em parecer “gente legal”, em atrair apoio social, os faz até manipular a carteirada para cima e para baixo, entre um sentimento de orgulho aqui e uma falsa modéstia ali, sempre procurando mascarar a hipocrisia que não consegue se ocultar nas mentes dessas pessoas. Com a patrulha dos negacionistas factuais, “isentões” designados para promover o boicote ao pensamento crítico nas redes sociais, a “boa” sociedade que é a elite do bom atraso precisa parecer, aos olhos dos outros, as mais positivas possíveis, daí o esforço desesperado para criar um ambiente de conformidade e até de conformismo, sobretudo pela perigosa ilusão de acreditar que o futuro do Brasil será conduzido por um idoso de 80 anos. Quando ouvimos falar de períodos de supostas regeneração e glorificação do “povo brasileiro”, nos animamos no primeiro momento, achando que agora o Brasil será a n...

APOIO DAS ESQUERDAS AO "FUNK" ABRIU CAMINHO PARA O GOLPE DE 2016

MC POZE DO RODO, COM SEU CARRO LAMBORGHINI AVALIADO EM TRÊS MILHÕES DE REAIS. A choradeira das esquerdas médias diante da prisão de MC Poze do Rodo tenta reviver um hábito contraído há 20 anos, quando o esquerdismo passou a endossar o discurso fabricado pela Rede Globo e pela Folha de São Paulo para "socializar" o "funk", um dos ritmos do comercialismo brega-popularesco que passou a blindar por uma elite de intelectuais sob inspiração do antigo IPES-IBAD, só que sob uma retórica "pós-tropicalista". A revolta contra a prisão do funqueiro e alegações clichês como "criminalização da cultura" e "realidade da favela" feita por parlamentares e jornalistas da mídia esquerdista se tornam bastante vergonhosas e, em muitos casos, descontextualizada com a real preocupação com as classes pobres da vida real, que em nenhum momento são representadas ou se identificam com o "funk" ou o trap. O "funk" e o trap apenas falam sobre o ...