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LEONEL BRIZOLA RECOMENDOU AS ESQUERDAS EVITAREM "BRINQUEDOS CULTURAIS" DA CENTRO-DIREITA

LEONEL BRIZOLA, COM JOÃO GOULART E COM LULA.

Morto em 2004, Leonel Brizola seria uma importante voz para as forças progressistas hoje em dia.

Desfeito dos erros dos anos 1990, Brizola havia retomado, no fim da vida, o tom prudente que o fez enfrentar os golpistas de 1961, tentando garantir a posse de João Goulart na Presidência do Brasil, mas só conseguindo o feito pela metade, atropelado pelo projeto parlamentarista de Raul Pilla.

Brizola seria um sujeito que não só botaria ordem na casa do Partido Democrático Trabalhista (PDT), prestes a seguir o caminho direitista do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), hoje o extremo oposto do que havia sido no seu esplendor histórico.

Lembremos que hoje o PTB é presidido pelo bolsonarista Roberto Jefferson, que botou na boca do partido expressões pejorativas que antes atingiram o outrora presidente do partido, João Goulart, expulso do poder acusado de formar uma "república sindical". É esta a tal expressão pejorativa.

O PDT, que acolheu até ruralistas - como, na Bahia, o populista de direita Marcos Medrado, que, dizem, é primo de um "médium espírita" local - , chegou mesmo a ter parte de seus quadros apoiando a campanha de Bolsonaro em 2018.

Brizola, se vivo continuasse, com 99 anos de idade e, se possível, com lucidez, iria manifestar seu ceticismo com os tempos atuais, porque veria que o golpe de 2016 não veio de graça para depois se reduzir a nada.

Brizola teria vergonha do que estão fazendo com a Petrobras. Ele nos lembraria que a empresa era uma reivindicação histórica do Trabalhismo, a indignação de Brizola, no alto de sua velhice, não estaria adormecida.

Ele, que eventualmente criticava as esquerdas quando estas adotavam atitudes complacentes, seria um progressista clássico, e lembraria dos legados de João Goulart e Getúlio Vargas.

Há um comentário dele clássico, sobre a Rede Globo. Ele disse o seguinte:

"Quando vocês tiverem dúvidas quanto a que posição tomar diante de qualquer situação, que atentem: Se a Rede Globo for a favor, somos contra! Se for contra, somos a favor!".

Esse recado deveria ser sobretudo para os esquerdistas mais novos, que se iludem com os "brinquedos culturais" da centro-direita, trazidos pela Rede Globo (e, no reboque, pela Folha, Estadão, Veja, SBT e Jovem Pan).

São geralmente referencias culturais estranhos, muito difundidos pela mídia venal e por esta apoiados com gosto e sem escrúpulos.

A Rede Globo apoia o "funk" e desenhou, em parte, a imagem glorificada que o gênero recebe hoje e que é trabalhada agora no caso da polêmica causada pelo produtor Rick Bonadio.

Não tem como fazer vista grossa nisso e fingir que o "funk" não está no mainstream e é boicotado pela grande mídia. 

É até simbólica a metáfora que tiramos quando o personagem de Renato Aragão, Didi Mocó, falava, em suas tiradas metalinguísticas: "Rede Globo... Funk!".

A Globo formatou o discurso populista que alimenta os funqueiros e vende uma falsa imagem de "cultura verdadeiramente popular". A Folha completou o discurso "global" dando um verniz intelectual nessa retórica.

Ninguém percebeu quando a Globo despejou em tudo quanto era veículo e em tudo quanto era atração a defesa do "funk", encomendando até a humorísticos e novelas a criação de personagens feitos para fazer propaganda do ritmo.

A Rede Globo apoiou o "médium de peruca", um charlatão que transformou o Espiritismo, no Brasil, num chiqueiro, e que, em ação desde 1932, havia colaborado com a ditadura militar, daí as condecorações pela Escola Superior de Guerra, "cérebro" do golpe e do poder ditatorial.

Mas as esquerdas, iludidas, veem nesse "médium" um "símbolo de paz e fraternidade", enganados pelos memes adocicados lançados nas redes sociais, com fotos dele carregando crianças pobres no colo e tudo.

Não leram o "grosso" de sua obra doutrinária. Eu, que fui "kardecista" durante 28 anos, posso garantir, ele defendia até o trabalho precário e a renúncia ao prazer em tudo, sob a desculpa da tal "vida maior". 

Para ele, a vida material era um lixo e o que nos cumpria fazer era nos submetermos às adversidades da vida em silêncio e sem queixumes, esperando o sofrimento atingir o ponto máximo para aí Deus correr apressado para nos socorrer.

Os únicos prazeres admissíveis eram coisas como olhar o sol nascer e pôr, a chuva cair sobre flores, os passarinhos pousarem na janela de casa e a alimentação comedida de alguma carne, arroz, feijão e salada.

O solipsismo do "médium", que via o mundo como se fosse um quintal de uma pequena cidade de feições semi-rurais da Grande Belo Horizonte, irrita quem puder ter alguma faísca de consciência humana.

O cara era um direitista atroz e foi promovido pela Rede Globo a um "pacifista" e "filantropo", porque, antes, ele era apenas um pitoresco sujeito que se dizia "paranormal" e só rendia matéria para a imprensa sensacionalista e era uma espécie de Aécio Neves do Cristianismo, esperto e impune.

Ele fez com o legado de Humberto de Campos o que nem mesmo um inimigo mortal teria coragem de fazer. Virou réu em 1944, mas saiu impune nas mãos de um juiz com a mesma precisão (ou melhor, omissão) cirúrgica do hoje desmascarado Sérgio Moro.

E o espertalhão que, de sua terra natal, saiu covardemente "só com a roupa no corpo", para viver suas últimas décadas numa cidade do Triângulo Mineiro, ainda conseguiu seduzir e enganar um dos herdeiros de Humberto, justamente o que tinha o mesmo nome e havia sido um cético.

As esquerdas não perceberam o papel diversionista do "médium" e a farsa das "cartas mediúnicas", feitos para abafar a revolta popular na crise da ditadura militar - que não conseguiu melhorar o país com seu "milagre brasileiro" - e enfraquecer a Teologia da Libertação da Igreja Católica.

O Catolicismo, que virou uma força poderosa contra a ditadura militar, precisava ser enfraquecido. Daí que a ditadura lançou mão de "bispos neopenteques" e "médiuns espíritas" para desviar boa parte do rebanho de fiéis, sob a enganosa desculpa da "diversidade religiosa".

Até porque a verdadeira diversidade religiosa envolve bons católicos, bons protestantes, muçulmanos, candomblecistas, indianos e outros que não coloquem a fé acima da realidade, mas a serviço da assistência espiritual aos que ainda dependem da fé para viverem.

Esqueçamos tanto os neopenteques e os "kardecistas" que no Brasil achincalharam (ou "achicalharam") com o legado de Allan Kardec, que talvez, lá em Pére-Lachaise, possa dialogar melhor sobre Doutrina dos Espíritos com os fantasmas de Jim Morrison, Oscar Wilde e Edith Piaf.

Os neopenteques "passeavam" em programas arrendados pelas concorrentes da Globo. 

A Globo usava o "médium de peruca" (que era antipetista ferrenho) como opção falsamente "ecumênica" de idolatria religiosa, desviando as atenções que seriam dadas aos sacerdotes progressistas da Teologia da Libertação.

Não há como recorrer ao "médium de peruca" sequer para orar pelos doentes da Covid-19. Se orar, esses doentes morrem. O "médium" é azarento, mas deixemos de fora um conhecido roqueiro que muitos acreditam ser pé frio. Não cabe comparações. O inferno está em Nosso Lar.

Então, não há como recorrer ao "médium", como fizeram ingenuamente certos comentaristas de esquerda, para promover pacifismo e muito menos para garantir a vitória segura de Lula na campanha presidencial de 2022. Só vai dar no resultado contrário.

A marca da Rede Globo nesses "valores culturais" e em outros, ligados à bregalização cultural, ao fanatismo do futebol e outros "brinquedos culturais", é explícita. Não há como fazer vista grossa ou criar teorias para desmentir tudo isso.

Não tem esse negócio de relação de apropriação versus enfrentamento, porque isso envolveria tensões emocionais no contato desse culturalismo conservador pretensamente popular e o poder midiático das Organizações Globo.

"Médiuns" e funqueiros aparecem felizes abraçados aos irmãos Marinho. Todos cantando um "funk" fraternal, uns de mãos dadas em louvor a Deus, outros rebolando e descendo até o chão.

Onde está a apropriação do poder midiático, sob o consentimento dos culturalistas que atuam nos palcos da Rede Globo e na simbologia dramatúrgica das novelas das nove?

Onde está o enfrentamento desses culturalistas, sob o consentimento de uma poderosa e rica família empresarial que foi favorecida pela ditadura militar e influiu no golpe de 2016?

Apropriação pressupõe tensão entre quem se apropria de algo e quem se sente lesado com a apropriação.

Enfrentamento pressupõe tensão entre quem encara a trincheira do inimigo para difundir seu recado ou cobrar providências.

Essa tensão nunca existiu, quando "médiuns", funqueiros e outros culturalistas "populares" mas conservadores se abraçam, em mal disfarçada confraternização, aos barões da mídia, numa aliança feliz e com demonstrações de surpreendente cumplicidade.

É por isso que lembramos do grande Leonel Brizola, que deu um puxão de orelha nas esquerdinhas que foram educadas, desde a infância, pelo poder da Rede Globo e que ficam vendo a trilogia Jornal Nacional, novela das nove e alguma atração, como, em dada temporada, o Big Brother Brasil.

De que adianta ficar com raiva de William Bonner falando mal de Lula, se as esquerdinhas médias se derretem pela fauna culturalista das novelas das nove, que tratam o povo pobre como se fosse uma multidão de criancinhas ingênuas?

Pautam a realidade como se fosse a extensão do núcleo "pobre" das novelas das nove, incluindo o velho bonachão e frágil, identificado no "médium", e os populares caricatos e felizes, identificados nos funqueiros.

É por isso que o golpe político de 2016 ocorreu. As esquerdas, com os "brinquedos culturais", empoderaram a Rede Globo. Já não basta que boa parte da fortuna exorbitante de Jorge Paulo Lemann veio das cervejas que nossos esquerdistas compraram com muito gosto?

A Rede Globo, ao "exportar" seu culturalismo para as esquerdas, estas sequestradas pelas pautas da direita (e, hoje, elas passaram a interagir com o bolsonarismo, empoderando-o), se fortalecia juntamente com o restante da mídia venal, a constelação do poder televisivo "global".

Se as esquerdas falam a gíria "balada" (no sentido de vida noturna, festas noturnas etc), empoderam Luciano Huck e a Jovem Pan e, em parte, a Rede Globo, que difundiram essa gíria.

Se as esquerdas cortejam ídolos cafonas do passado, empoderam o SBT que brincou de cão e gato com a Rede Globo, numa polarização que não fazia um ser mais progressista que outro, ainda mais com Sílvio Santos virando bolsonarista.

As esquerdas precisam parar de assimilar o culturalismo conservador que as contamina por dentro.

É por isso que as forças progressistas deixaram seu protagonismo se perder, em 2016.

Os "brinquedos culturais", por mais que se ostentem em páginas como Carta Capital e, outrora, a Caros Amigos, eram o legado da Rede Globo e da mídia venal como um todo. 

Em todo caso, era uma legitimação do que a Globo veiculou como "cultura". Inútil dizer que foi mera coincidência, mil teorias e argumentações se tornam inválidas. Não dá para brigar com a realidade, mesmo sendo de esquerda.

E é aí que nos lembremos de Leonel Brizola que, com todas suas imperfeições, era uma pessoa de muita fibra e grandes ideias, e um esquerdista nem sempre agradável, mas excelente e fundamental conselheiro para nossos momentos mais difíceis.

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