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EM OUTROS TEMPOS, O MOVIMENTO ESTUDANTIL DEFENDIA CULTURA DE VERDADE

O ATOR E DRAMATURGO ODUVALDO VIANNA FILHO, O VIANINHA, DEFENDIA QUE A CULTURA DEVERIA "SUBIR AO POVO" E NÃO "DESCER".

É muito triste que o movimento estudantil, principalmente a União Nacional dos Estudantes, venha a passar pano na mediocridde idiotizante do "funk", a precarização por excelência da música brasileira.

Nas redes sociais, a UNE, ao comemorar o pré-lançamento da vacina do Instituto Butantã, que entrará em fase de testes, tocou a infame música do "Bumbum Tantã" do MC Fioti.

A defesa da sociedade ao sucesso do MC Fioti foi o momento mais vergonha alheia que houve na chamada opinião pública no nosso Brasil.

Já tivemos o papelão que o Levante Popular da Juventude fez, se desviando dos demais movimentos sociais - que atuavam na Av. Pres. Vargas, on Rio de Janeiro - para fazer uma manifestação na frente da sede da Rede Globo.

Usavam um "funk" para protestar contra a Rede Globo, mas se esqueceram de um detalhe: as Organizações Globo APOIAM o "funk". 

Sem essa de apropriação do "funk" pela Rede Globo ou o enfrentamento dos funqueiros nos palcos da emsisora. Essa relação apropriação versus enfrentamento só existe se há uma tensão, um conflito, coisa que nunca houve entre os funqueiros e a corporação da famiglia Marinho.

E tivemos também uma pegadinha que o Movimento Brasil Livre (aka Movimento Me Livre do Brasil) fez que enganou até o pessoal do Partido da Causa Operária.

Um vídeo de um suposto conflito entre o MBL e o PCO, com uma montagem (feita pelo Bonde do Rolê, do membro do MBL Pedro D'Eyrot?), forçando a barra com o hino da Internacional Comunista em ritmo de "funk", é um atestado de armação grotesca, uma grande farsa.

Nela, supostos membros do PCO "expulsavam" membros do MBL com um conflito que mais parece coreográfico. Um sujeito robusto que representava o MBL se afastava fazendo coreografia que mais parecia a de um dançarino de rumba.

Era tudo forçamento (não existe "forçação") de barra, tão grosseiro e caricato que não dava para crer que era verídico. 

Ainda mais quando o suposto "encontro" entre PCO e MBL era na Embaixada de Cuba, em São Paulo, quando a Venezuela era o foco do discurso anti-esquerdista. Uma coisa completamente fora de contexto.

E agora vemos o quanto os nossos jovens precisam aprender melhor as coisas.

Nossos estudantes parecem ver Malhação demais, dentro do hábito de nossos identitaristas de esquerda verem demais a Rede Globo, mas acharem que culturalismo conservador só existe no Jornal Nacional.

Os filhinhos vendo Malhação e aquela visão estereotipada de jovens identitaristas ingênuos, que acham que valorizar a cultura popular é dançar o "funk" ou o "pagode romântico". Os pais vendo novelas das nove com estereótipos de "velhinhos caridosos" e "favelados felizes".

Depois dizem que culturalismo conservador é só William Bonner fazendo cara feia ao noticiar alguma coisa sobre Lula.

Nossos estudantes "de esquerda" cortejam o "funk" e esbarram no Luciano Huck. O "bumbum tantã" que não incomoda as elites ganhou um tom falsamente libertário.

É preciso lembrar de um papel histórico da União Nacional dos Estudantes, há mais de seis décadas, num tempo em que Renato Russo e Ayrton Senna mal saíram da maternidade.

Trata-se do Centro Popular de Cultura que a UNE concebeu, entre 1959 e 1961, quando lançou a iniciativa, regulamentada em 1962.

O CPC da UNE que, duas décadas depois, era demonizado pela intelectualidade tucana (Francisco Weffort, Fernando Henrique Cardoso), mestra da intelectualidade pró-brega (ver o instigante livro Esses Intelectuais Pertinentes...), como "excessivamente ideológico".

Extinto em 1964 por imposição da ditadura militar - que declarou a UNE ilegal e propôs uma entidade de fachada no lugar - , o CPC da UNE era um grande fórum de debates cultural, dos mais importantes.

Um dos membros dessa entidade era o dramaturgo Oduvaldo Vianna Filho, o Vianinha, falecido aos 38 anos em 1974.

Vianinha é conhecido por ser um dos idealizadores do texto original do seriado A Grande Família, cuja primeira versão foi lançada em 1972 e durou até 1975.

O CPC da UNE propôs não só desenvolver uma cultura popular engajada politicamente, mas também o resgate das raízes culturais brasileiras.

A partir daí, sambistas, violeiros e outros cancioneiros esquecidos passaram a ser lembrados. Sambistas como Cartola e Nelson Cavaquinho foram beneficiados por essa iniciativa.

E hoje ver que a UNE cumpre um papel humilhante de se baixar a cabeça para um mercado hipócrita e demagógico como o "funk", uma farsa comercial montada por empresários gananciosos para impor a suposta "cultura das periferias", é triste.

Sim, porque essa narrativa do "funk" como "livre expressão das periferias", com todo o papo-cabeça dessa verborragia pseudo-etnográfica e pretensamente ativista, nunca passou de conversa para boi dormir.

Era só tocar o CD de "funk" e ouvir com atenção que desmoronam as mil maravilhas que se fala do gênero.

O "funk" fez a cultura "descer ao povo". E descer até o chão.

Vianinha queria que a cultura "subisse ao povo" e não descesse, como os próprios teóricos da Comunicação alertavam, quando a chamada indústria cultural apostava na degradação dos bens culturais para atingir um maior número de receptores.

Já dá para perceber como o neoliberalismo intelectual do tucanato acadêmico, em 1985, criou uma narrativa deturpando as questões lançadas por Vianinha e outro líder cepecista, Carlos Estevam Martins.

Por essa narrativa, o CPC da UNE não prestava, porque era "ideológico demais".

Desculpa sem sentido. Afinal, o que interessava para o tucanato intelectual era que a cultura popular fosse privatizada e virasse um mercado como o da bregalização, enriquecendo empresários do entretenimento, barões da mídia, multinacionais e até o latifúndio.

Daí que, depois que desqualificaram os CPCs da UNE, criaram o que eu apelido de "CPC do IPES", em alusão ao "instituto" que defendeu a queda de João Goulart.

Esse "CPC do IPES" é o que me refiro aos intelectuais que defendem a bregalização cultural.

É uma linhagem que vai do antropólogo baiano Milton Moura ao musicólogo paulitsta Thiagson, este ausente de Esses Intelectuais Pertinentes... porque meu livro foi lançado antes.

Ela passa pela "santíssima trindade" de pensadores pelos quais muita gente adora passar pano: Paulo César de Araújo, Pedro Alexandre Sanches e Hermano Vianna.

Gente que usou o discurso do "combate ao preconceito" para defender a degradação da cultura popular, que reduzia o povo pobre a uma imagem caricatural e inofensiva, fato crucial para o golpe político de 2016.

Daí que a UNE de hoje deveria perceber o erro que comete ao defender o "funk". E deveria rever sua história, escrita por gente que não passa pano na idiotização cultural como a que ocorre hoje sob o rótulo pretensioso do "popular".

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