Pular para o conteúdo principal

A PRISÃO DE MICHEL TEMER NÃO É PARA COMEMORAR, É PARA REFLETIR


A manhã de ontem foi tomada, no noticiário político brasileiro, pela prisão do ex-presidente Michel Temer.

Evidentemente, o brasileiro médio que acompanha as notícias na mídia hegemônica saiu comemorando, sem saber do que ocorre na realidade.

Até porque, quando lhe convinha, esse brasileiro torceu timidamente pelo sucesso do governo Michel Temer e estabeleceu contra ele uma tímida aversão.

Falava mal de Temer pelas costas mas nunca estava disposto para lutar pelo "Fora Temer" pra valer.

Dentro dessa indignação artificialmente produzida, o brasileiro médio se revolta mais ou se revolta menos conforme as conveniências dos noticiários.

Vamos à prisão de Michel Temer.

Ele foi preso por acusação de envolvimento em possível esquema de propinas envolvendo as obras de Angra 3.

Junto com ele, seu ex-ministro Wellington Moreira Franco, o ex-tesoureiro e policial reformado João Baptista Lima Filho, o Coronel Lima, e mais sete pessoas.

Não podemos fazer festa com isso. Não se trata da "justiça ser igual para todos", porque as prisões de Temer e Moreira Franco, além de tendenciosas, não rompem com a parcialidade e a seletividade da Operação Lava Jato.

Não é uma prisão a comemorar, pelos seguintes motivos.

Primeiro, se tratam de não-petistas que haviam colaborado com governos do Partido dos Trabalhadores, num passado recente.

Michel Temer foi vice de Dilma Rousseff, como sabemos.

Além disso, Michel Temer não foi preso quando era presidente, e pelo menos houve três denúncias contra ele.

Há várias condenações contra ele, com mais indícios de provas, entre as quais um esquema comandado por ele no Porto de Santos.

Quando permitiam as conveniências, a Operação Lava Jato deixava Temer livre, leve e solto para fazer o que quiser com os brasileiros.

Até o protesto do Carnaval não se deve ser superestimado: se surtisse efeito o protesto da Paraíso do Tuiuti, Temer teria sido preso na quarta-feira de Cinzas de 2018.

Outro ponto a considerar: a prisão é uma "cortina de fumaça" diante dos retrocessos em marcha no governo de Jair Bolsonaro, que tem no ex-líder da Lava Jato, Sérgio Moro, como ministro e um dos artífices dessas medidas.

Era um meio de desviar a atenção do povo com a prisão de um nome político forte, enquanto Jair Bolsonaro, de volta dos EUA, vai realizando seu "pacote de maldades" negociado com as autoridades dos EUA.

Mas há também um ingrediente que envolve interesses mais particulares.

Notemos que, com Michel Temer, Wellington Moreira Franco foi preso.

Ele é sogro de Rodrigo Maia, que andou espinafrando o ministro Sérgio Moro, em uma entrevista dada anteontem.

Disse o presidente da Câmara dos Deputados e que, depois do general Antônio Hamilton Mourão, é suplente no comando da República:

"Eu acho que ele conhece pouco a política. Eu sou presidente da Câmara, ele é ministro, funcionário do presidente Bolsonaro. O presidente Bolsonaro é que tem que dialogar comigo. Ele está confundindo as bolas. Ele não é presidente da República. Ele não foi eleito para isso. Está ficando uma situação ruim para ele, porque ele tá passando daquilo que é a responsabilidade dele".

Rodrigo ainda acrescentou, em outra parte da entrevista, citando o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes:

"O projeto é importante. Aliás ele tá copiando o projeto do ministro Alexandre de Moraes. Copia e cola. Então, não tem nenhuma novidade. Poucas novidades no projeto dele. Nós vamos apensar um ao outro. O projeto prioritário é o do ministro Alexandre de Moraes".

Embora aparentemente não haja revanchismo na prisão de Temer, do qual Rodrigo Maia era um dos seus maiores apoiadores, e do sogro deste, Moreira Franco, nota-se uma coisa.

A Operação Lava Jato quer recuperar o protagonismo, com tais prisões, decididas pelo juiz carioca Marcelo Bretas.

A ideia é salvar a operação queridinha dos reaças da Internet, desmoralizada por duas derrotas.

Uma foi o escândalo da Fundação Lava Jato e outra, a perda da atribuição à Justiça Federal para julgar crimes de corrupção como caixa dois, que passaram para a Justiça Eleitoral.

Muita coisa vai acontecer e essa tendenciosa prisão, dizem, poderá ser o caminho para Dilma Rousseff ser também presa.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

"ANIMAIS CONSUMISTAS"AJUDAM A ENCARECER PRODUTOS

O consumismo voraz dos "bem de vida" mostra o quanto o impulso de comprar, sem ver o preço, ajuda a tornar os produtos ainda mais caros. Mesmo no Brasil de Lula, que promete melhorias no poder aquisitivo da população, a carestia é um perigo constante e ameaçador. A "boa" sociedade dos que se acham "melhores do que todo mundo", que sonha com um protagonismo mundial quase totalitário, entrou no auge no período do declínio da pandemia e do bolsonarismo, agora como uma elite pretensamente esclarecida pronta a realizar seu desejo de "substituir" o povo brasileiro traçado desde o golpe de 1964. Vemos também que a “boa” sociedade brasileira tem um apetite voraz pelo consumo. São animais consumistas porque sua primeira razão é ter dinheiro e consumir, atendendo ao que seus instintos e impulsos, que estão no lugar de emoções e razões, ordenam.  Para eles, ter vale mais do que ser. Eles só “são” quando têm. Preferem acumular dinheiro sem motivo e fazer de ...

DOUTORADO SOBRE "FUNK" É CHEIO DE EQUÍVOCOS

Não ia escrever mais um texto consecutivo sobre "funk", ocupado com tantas coisas - estou começando a vida em São Paulo - , mas uma matéria me obrigou a comentar mais o assunto. Uma reportagem do Splash , portal de entretenimento do UOL, narrou a iniciativa de Thiago de Souza, o Thiagson, músico formado pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) que resolveu estudar o "funk". Thiagson é autor de uma tese de doutorado sobre o gênero para a Universidade de São Paulo (USP) e já começa com um erro: o de dizer que o "funk" é o ritmo menos aceito pelos meios acadêmicos. Relaxe, rapaz: a USP, nos anos 1990, mostrou que se formou uma intelectualidade bem "bacaninha", que é a que mais defende o "funk", vide a campanha "contra o preconceito" que eu escrevi no meu livro Esses Intelectuais Pertinentes... . O meu livro, paciência, foi desenvolvido combinando pesquisa e senso crítico que se tornam raros nas teses de pós-graduação que, em s...

EDITORAS MUSICAIS EXERCEM PODER SOBRE ARTISTAS VETERANOS E NO GOSTO POPULAR DAS PESSOAS

    ROBERTO CARLOS E HERDEIROS DE ERASMO CARLOS PERDERAM A BATALHA CONTRA A EDITORA FERMATA, NOS DIREITOS AUTORAIS DE MÚSICAS DOS ANOS 1960 E 1970. O poderio das editoras musicais pode estar por trás de muita coisa que parece natural e normal no cotidiano das pessoas. Ela determina as músicas estrangeiras que devem pegar no gosto musical das pessoas, até mesmo no aparentemente exigente segmento rock, filtra o que pode ser tocado nas emissoras de rádio, promove a mediocrização da cultura popular musical e, além disso, controla as obras de compositores que deixam de ser responsáveis pelas próprias canções. A recente decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) de dar ganho de causa à editora Fermata (que um dia também foi gravadora, responsável pelos "tapa-buracos" nas trilhas sonoras de novelas da Rede Globo, com intérpretes "estrangeiros" de baixa categoria e regravações de sucessos estrangeiros), em detrimento de uma ação movida por Roberto Carlos e Erasmo Carlos,...

A PROIBIÇÃO DO "FUNK" E DO USO DOS CELULARES NAS ESCOLAS

Nos dois lados da polarização, há iniciativas que, embora bastante polêmicas, pretendem diminuir a fuga de foco dos alunos dos ensinos fundamental e médio no cotidiano escolar. Do lado lulista, temos a aprovação de uma lei que limita o uso de telefones celulares para fins pedagógicos, proibindo o uso recreativo nos ambientes escolares. Do lado bolsonarista, várias propostas proíbem projetos que proíbem o "funk" e outras músicas maliciosas a serem tocados nas escolas. Lula sancionou a lei surgida a partir da aprovação do Projeto de Lei 104, de 03 de fevereiro de 2015, do deputado Alceu Moreira (MDB-RS), que estabelece a proibição do uso informal dos telefones celulares pelos alunos das escolas públicas e privadas. A lei só autoriza o uso dos celulares para fins pedagógicos, como pesquisar textos indicados pelos professores para exercícios em salas de aula. ""Essa sanção aqui significa o reconhecimento do trabalho de todas as pessoas sérias que cuidam da educação, de ...

DESGASTADA, AXÉ-MUSIC TENTA SE VENDER COMO "MÚSICA DE PROTESTO"

Com 40 anos de existência mas cheirando a mofo tóxico de mais de 100 anos, a axé-music aproveita os ventos tendenciosos do brega-vintage - a nostalgia de resultados que busca gourmetizar a mediocridade musical do passado - para se vender como algo que nunca foi, "música de protesto". Até hoje fico abismado quando uma parcela das esquerdas tenta creditar a música "Xibom Bom Bom" como "hino marxista" - algo comparável a definir "Atirei o Pau no Gato" como hino oficial das guerrilhas guevaristas e bolivarianas - , mesmo sendo ela composta por um empresário (as cantoras de As Meninas nunca compuseram uma vírgula no repertório que cantam). Confesso que eu tentei perguntar, para mim mesmo, se a classificação de "Xibom Bom Bom" como música "baseada" na trilogia O Capital  de Karl Marx não seria uma daquelas piadas do antigo Planeta Diário (um dos embriões do Casseta & Planeta). Infelizmente, não, a tese é levada a sério, mesmo co...

A HUMILHAÇÃO QUE MILTON NASCIMENTO SOFREU NO GRAMMY

Foi humilhante e constrangedor o tratamento degradante que o icônico cantor, músico e compositor Milton Nascimento, um dos maiores da MPB autêntica, recebeu no Grammy 2025. Concorrendo, ao lado da cantora Esperanza Spalding, na categoria Melhor Álbum de Jazz com Vocal, através do disco Milton + Esperanza , Milton não teve um assento especial junto com a cantora e compositora e foi obrigado a se sentar na arquibancada. A dupla perdeu, na categoria, para Samara Joy. É certo que a equipe do cantor do Clube da Esquina tentou minimizar o episódio, com uma mensagem publicada nas redes sociais com os seguintes termos: "Esclarecimento: O cantor e compositor Milton Nascimento não foi barrado e nem privado de ter um assento na cerimônia principal do Grammy. Um dia antes, quando observamos os convites, constatamos que a Academia havia destinado um lugar para Esperanza, artista com quem Milton divide o disco indicado, nas mesas, entre os artistas principais ali presentes, enquanto destinaram ...

BOLSONARISTAS CAUSAM PÂNICO COM MENTIRAS SOBRE PIX

Os últimos dias foram marcados, na Economia brasileira, por um escândalo provocado por uma onda de mentiras transmitidas por bolsonaristas, a partir de um vídeo do deputado Nikolas Ferreira (PL-MG). Assim que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou que pretende aumentar a fiscalização para movimentações financeiras, as mentiras se voltaram para a hipotética taxação do Pix. Trata-se de uma interpretação leviana do que a equipe econômica cogitava fazer, que seria o aumento da fiscalização sobre transferências em valores superiores a R$ 5 mil através do Pix de pessoas físicas e acima de R$ 15 mil de pessoas jurídicas (empresas). A interpretação supunha que o Governo Federal iria aumentar os impostos de pessoas físicas que utilizassem pagamentos através do Pix, sistema de pagamento criado pelo Banco Central. Várias pessoas ligadas a grupos bolsonaristas espalharam a mentira e estarão sob investigação pela Polícia Federal, a pedido da Advocacia-Geral da União. A medida causou pânic...

A ONDA DO "CAFÉ FAKE": QUANDO SE CRIAM "GENÉRICOS" BARATOS DE PRODUTOS CAROS

CAFÉ FAKE? PREFIRA OS ORIGINAIS! Quando u produto aumenta drasticamente de preço, surgem "genéricos" que fogem da composição original ou apresentam misturas que comprometem a essência do produto que ficou caro. Daí que surgem produtos fake , num contexto em que, no nosso país, temos até uma "mulher fake ", o cantor popularesco Pabblo Vittar. E temos a "MPB fake " dos bregas dos anos 1970, 1980 e 1990. Em 2008, quando eu bebia bastante guaraná em pó, eu via o produto subir drasticamente de preços. Ficou difícil encontrar um guaraná em pó mais em conta. Mas o que eu vi é que, enquanto o guaraná em pó ficou caro, um composto que inclui guaraná, açaí, ginseng, catuaba e hortelã era vendido com preços mais baratos, provavelmente um produto gerado de "restos" desses componentes. Durante o governo Jair Bolsonaro, o leite atingiu preços caríssimos. Com isso, o mercado criou um composto lácteo que misturou restos de leite desnatado, leite de cabra, açúcar...

"AI-SIMCO" E O DISCURSO REPAGINADO DO "MILAGRE BRASILEIRO"

"NINGUÉM SEGURA ESSE PAÍS": GENERAL EMÍLIO GARRASTAZU MÉDICI, NO AUGE DA DITADURA, VISITANDO UM EVENTO PROMOVIDO PELO SESI, EM BRASÍLIA, EM 1972. A preocupação com o otimismo exagerado do governo Lula não se dá por acaso. Não há lógica que permita que um país considerado devastado pelo bolsolavajatismo se transforme da noite para o dia, em um país prestes a se tornar desenvolvido. Há muitas estranhezas em torno dessa narrativa festeira. Uma dessas estranhezas é ver que os próprios neoliberais, incluindo economistas dos EUA e o próprio FMI estão torcendo para ver o Brasil se tornar uma das cinco ou dez maiores economias do mundo. Gente que, até pouco tempo atrás, era radical defensora de golpes contra a nação brasileira, de repente apoiar, em tese, a emancipação político-econômica do nosso país? Temos que avisar aos aloprados do deslumbramento com o momento de Lula 3.0 que não se pode confundir um convalescente com uma pessoa saudável. Da mesma forma, não podemos confiar quand...

A NECESSIDADE DE HAVER CARA NOVA NA POLÍTICA BRASILEIRA

O governo Lula, em seu mandato atual, apelidado de Lula 3.0, tornou-se decepcionante por conta do contraste entre seu jogo de aparências e os fatos concretos. Por mais que os lulistas insistam em fazer crer que o que dizem e mostram corresponde à realidade vivida pelos brasileiros, isso não encontra respaldo no cotidiano do povo da vida real. Daí a irritação dos pobres, dos sub-escolarizados e dos nordestinos com o governo Lula, que tardiamente teve que reconhecer essa dolorosa situação através de supostas pesquisas de opinião. Mesmo assim, Lula não aceita sua queda de popularidade e atribuiu esse quadro somente as notícias falsas envolvendo cobranças de impostos sobre o Pix. Há uma necessidade de uma renovação da vida política, e o golpismo político de 2016, assim como o bolsonarismo, de um lado, e o narcisismo político de Lula, de outro, travam essa urgência de mudança, na medida em que as pautas progressistas se tornaram reféns da mística pessoal de Lula, cujo principal ponto contrá...