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DEFESA DA DITADURA AGRAVA CRISE DO GOVERNO JAIR BOLSONARO

ERNESTO ARAÚJO E JAIR BOLSONARO - PARA ESSES DOIS, A DITADURA MILITAR "NUNCA EXISTIU".

Jair Bolsonaro realizou ontem mais um episódio de sua infindável coleção de crises.

Ele determinou que as Forças Armadas cumprissem as "devidas comemorações" daquilo que seus partidários chamam de "Revolução de 1964" e atribuem o fato a 31 de março e não o Primeiro de Abril, para evitar trocadilhos.

Acompanhando a postura do seu chefe governamental, o ministro das Relações Exteriores, o olavete Ernesto Araújo, também afirmou que "não houve ditadura no Brasil", mas um "movimento necessário para que o Brasil evitasse virar uma ditadura".

Ou seja, o depoimento, dado ontem na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados, atribui a "ditadura" não a de 1964-1985, mas a que ele atribuiu a João Goulart.

O mais estranho é que essa opinião é bem vira-casaca.

Segundo a revista Época, Ernesto Araújo, em 2011, havia elogiado Dilma Rousseff, então presidenta em começo do primeiro mandato, e exaltou sua luta contra a ditadura militar.

"Especialmente entre os jovens não havia esperança de ver a democracia restabelecida por meios pacíficos. A impressão era que o governo militar ia ficar para sempre. Então muitas pessoas, a despeito das instituições, decidiram pegar em armas. Ela [Dilma] foi parte disso", disse Araújo, então.

Pode ser um vira-casaquismo circunstancial, por conta do governo em vigência. Mas não deixa de ser estranho.

Insólito é o que ocorreu na Universidade Mackenzie, em São Paulo, reduto de estudantes reaças do Comando de Caça aos Comunistas (CCC), que lutaram contra estudantes esquerdistas da vizinha Universidade de São Paulo, em 02 de outubro de 1968.

Era a famosa batalha da Rua Maria Antônia, onde ficavam as instituições, durante a qual uma bala perdida matou um estudante, José Guimarães, secundarista que nada tinha a ver com o conflito.

Pois as atuais gerações de estudantes da Mackenzie envergonhariam os titios do CCC, porque ontem fizeram um baita protesto contra Jair Bolsonaro.

Ele estava na capital paulista e ia visitar a Universidade Mackenzie para realizar uma palestra (se é que ele sabe fazer palestra, cá entre nós).

Um grande protesto estudantil foi feito contra Bolsonaro e ele teve que cancelar sua visita.

A coisa está feia no governo Bolsonaro, em que um rumor lançado por Eliane Cantanhede na Globo News indicava a demissão do ministro da Educação, Ricardo Velez Rodriguez, fato não confirmado até ontem à noite.

O rumor veio pouco após a saída da secretaria de Educação Básica, Tânia Almeida, indignada com uma portaria que decidia não avaliar as crianças em fase de alfabetização, e depois foi substituída por um ex-aluno de Rodriguez, Alexandro Ferreira de Souza.

E isso quando o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, em mais uma crítica a Jair Bolsonaro, disse que o "mito" está "brincando de presidir o Brasil".

"Não existe brincadeira da minha parte, muito pelo contrário. Lamento palavras nesse sentido e quero acreditar que ele não tenha falado isso", rebateu Jair, após um encontro com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), na União Brasileiro-Israelita do Bem Estar Social (Unibes), na capital paulista.

Voltando à questão da ditadura militar, a Justiça ficou em polvorosa.

A Defensoria Pública, em ação civil pública protocolada, pede para que a União proíba comemorações do golpe de 1964.

O Ministério Público Federal alertou que celebrar a ditadura militar merece repúdio, por representar a apologia à violação dos direitos humanos.

A posição do MPF sinalizou que qualquer comemoração neste sentido, se vinda de uma autoridade, constituirá crime de responsabilidade.

Isso significa que, se Jair Bolsonaro, ao menos de maneira enfática e explícita, comemorar o golpe civil-militar de 1964, ele pode ser enquadrado nesse crime e poderá perder o mandato.

Os familiares das vítimas da ditadura militar também pedem ao Supremo Tribunal Federal para proibir tais comemorações.

O golpe civil-militar de 1964 fará 55 anos no próximo dia Primeiro de Abril.

Como se trata do Dia da Mentira, os partidários da ditadura evitam celebrar esse dia e atribuem o ato, que durante muitos anos foi conhecido como "revolução democrática", ao dia anterior.

E olha que a ditadura militar mentiu, pelo menos até o AI-5, alegando que estava promovendo uma "democracia".

Mas agora foi revelado que o tenente-coronel da Aeronáutica, o gaúcho Alfeu de Alcântara Monteiro, foi o primeiro militar assassinado pela ditadura, quatro dias após o golpe de 1964.

Alfeu havia completado 42 anos no 31 de março daquele ano. Ele foi assassinado dentro do quartel por questões ideológicas, já que se opunha energicamente ao poder então instaurado.

Monteiro havia se recusado a bombardear o Palácio Piratini, em 1961, onde o então governador gaúcho, Leonel Brizola, se entrincheirou para lançar, pelo rádio, a Campanha pela Legalidade em favor de João Goulart.

E aí se observa que a ditadura militar nada tinha de ditabranda, pois era repressiva do começo ao fim, seja já em 1964, seja na "abertura" de 1974-1985.

O problema é que as ações foram mais explícitas durante a vigência do AI-5, principalmente entre 1969 e 1974, mas a ditadura sempre foi durona, conforme o receituário dos EUA.

E não será bom comemorar esse pesadelo como se tivesse sido uma coisa boa. O medo é sair um novo golpe a partir disso. Espera-se que os festejos sejam realmente banidos.

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