Pior do que as baixarias do "chuveiro de ouro" divulgadas pelo presidente Jair Bolsonaro, os recentes incidentes da prisão dos assassinos de Marielle Franco e da chacina de Suzano, no interior paulista, agravam o desgaste do governo.
Embora, oficialmente, Jair Bolsonaro, seus filhos, ministros e aliados afirmem não ter qualquer relação com os criminosos, manifestando "profunda tristeza" pela sua ocorrência, o bolsonarismo, pelo menos indiretamente, contribuiu para tais crimes.
As homenagens parlamentares a policiais que depois se tornariam milicianos e a campanha moralista sem moral pelo rearmamento da população indicam que Jair, sim, tem alguma responsabilidade por tais tragédias.
A ideia de facilitar o porte de armas para a população foi a senha para que dois jovens, Luiz Henrique de Castro e Guilherme Monteiro, cometerem o massacre contra várias pessoas numa escola em Suzano.
A homenagem a futuros milicianos consagra o poderio desse tipo criminoso, que, se achando "dono" do Rio de Janeiro, é capaz de perseguir e atirar contra ativistas como Marielle Franco.
Ontem Marielle e seu motorista, Anderson Gomes, também morto no atentado, foram homenageados em vários protestos ocorridos em várias partes do país, lembrando um ano do crime.
A lembrança da tragédia acabou interagindo com o luto pelos mortos de Suzano, como se a Escola Estadual Raul Brasil estivesse próxima do bairro do Estácio.
Sim, estão simbolicamente próximas. O contexto é o mesmo, pois a facilitação do porte de armas produz tanto jovens vingativos como Luiz Henrique e Guilherme quanto brutamontes como Ronnie Lessa.
Os dois falecidos atiradores de Suzano, ex-estudantes da escola onde cometeram o crime, são confirmadamente bolsonaristas entusiasmados.
Eles, que agiram usando máscaras, eram adoradores de armas e posavam de "justiceiros" contra uma sociedade que odiavam de forma gratuita.
Um dos jovens teria sofrido valentonismo na escola, mas isso não é razão para cometer a atrocidade que cometeu.
E o pior é que o crime em Suzano foi planejado há pouco mais de um ano, com suspeitas de consultas com internautas anônimos em páginas fascistas acessíveis no Deep Web (Internet oculta, só disponível por aplicativos como o Tor).
Se Jair Bolsonaro diz não compartilhar desse moralismo todo hoje, em tese, parece tudo bem.
Mas em sua campanha ele estimulou a violência, em várias ocasiões. Numa delas, ele ensinou uma menina pequena a fazer o gesto do tiro.
No Acre, Bolsonaro falava em "atirar contra a petralhada" e fez um gesto de atirador, sob aplausos de seus seguidores.
Jair Bolsonaro afirmou recentemente que dorme com um revólver colocado perto dele.
Já o policial aposentado e senador pelo PSL paulista, Sérgio Olímpio Gomes, o Major Olímpio, disse que, para combater atentados como o de Suzano, é preciso mais armamento.
Só que isso significa produzir mais atentados e mais guerra civil. Aumentar armas, além disso, com os eventuais assaltos, podem fazer aumentar os arsenais dos milicianos.
Encerramos o texto reproduzindo, abaixo, uma charge de Aroeira, desta vez nada engraçada, por tocar na ferida da tragédia humana.
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