IVETE SANGALO NO CARNAVAL DE SALVADOR DESTE ANO.
2019 é a consagração do ultracomercialismo musical brasileiro, quando a chamada música brasileira deixou a arte de lado e passou a ser mero entretenimento.
É claro que dizer isso irrita boa parte dos millenials, sobretudo os bolsomínions, assumidos ou não, que não veem diferença entre o que é comercial e o que é não-comercial na música.
Para eles, o não-comercial é "comercial" porque o coitado do artista que quer fazer algo diferente é acusado de fazer isso "por dinheiro", quando a renda é apenas uma ajuda de custo.
Em compensação, pensam que o comercial é que é "não-comercial", por uma mal-explicada alegação de que "estão conquistando seu espaço".
Mas essa geração é hipermidiatizada e hipermercantilizada, à qual questões envolvendo grande mídia e regras do mercado lhes parecem tão naturais que parecem inexistentes.
Perdemos, há poucos dias, Tavito, um grande compositor de MPB, e fico pensando em "Casa no Campo".
Ver que a cantora que popularizou a música, Elis Regina, e seus dois compositores, Tavito e Zé Rodrix, não estão entre nós, é desolador.
"Eu quero uma casa no campo / Do tamanho ideal, pau-a-pique e sapé / Onde eu possa plantar meus amigos / Meus discos e livros e nada mais", diz o refrão da música gravada pela cantora gaúcha em 1972.
A letra lembra mais um retiro de quem foge do Carnaval.
Eram tempos em que a música brasileira combinava humanismo, simplicidade e boas melodias. Digo uma MPB que ainda era influente.
Haviam os bregalhões naquele ano de 1972, mas eles eram o mainstream do Brasil ditatorial, nada nos diziam sobre a vida humana, a capacidade de ter esperança, se emocionar de verdade em vez de consolar débeis desilusões com bebedeira.
Hoje a catarse do "mau gosto popular" se tornou tão banal e a bregalização caminhou para um "pop à brasileira" que já não é apenas hegemônico, como havia desde 1990.
Tornou-se totalitário, graças à choradeira da intelectualidade "bacana" dos anos 2000 e seu papo de "combate ao preconceito" que não cola mais.
A conversa mole do "fim dos preconceitos" ao "popular demais" abriu caminho para Michel Temer e Jair Bolsonaro, mas como o estrago foi feito, virou um caminho sem volta.
Tudo ficou escancaradamente próximo do pop comercial estadunidense mais rasteiro, que fica difícil a intelligentzia "mais legal do Brasil" apelar para Oswald de Andrade morto há 65 anos.
Quando faleceu, em 1954, o poeta da "antropofagia cultural" via o Brasil cumprir seus ensinamentos com os primeiros vestígios da música bossanovista, inaugurada oficialmente em 1958 mas ressoando vários anos antes.
Hoje o que domina são o "funk", o "sertanejo" e, no Carnaval, a axé-music, ritmos que nada têm a ver com "antropofagia cultural".
A antropofagia modernista falava de influências musicais estrangeiras assimiladas de forma horizontal, conforme a livre vontade do ouvinte.
O que se vê na bregalização musical, dos brega-boleros de Waldick Soriano ao "funk" de MC Kevinho, são influências musicais estrangeiras assimiladas de forma vertical, conforme a vontade de uma meia-dúzia de executivos de gravadoras e emissoras de rádio e TV.
E tudo isso ficou totalitário, virou um beco sem saída, num contexto em que a MPB autêntica morre aos poucos, condenada, pela esnobe intelectualidade "bacana", a virar uma peça de museu, de preferência de um Museu Nacional devorado pelas chamas.
O comercialismo musical é bom no sentido econômico, porque rende muito dinheiro.
Rende tanto dinheiro que os estilos bregas e "populares demais", a música brega-popularesca, pode esconder suas irregularidades trabalhistas, como pejotização, corte de encargos etc, para ficar bem na fita em reportagens publicadas na mídia de esquerda.
O axézeiro ou funqueiro vai no palco dar seus ataques fingidos ao governo Bolsonaro e a intelectualidade "mais legal do Brasil" sai babando nas suas jabazeiras matérias em algum periódico de esquerda que ainda publica seus artigos.
É verdade que o ultracomercialismo musical é um fenômeno mundial, existindo focos até nos EUA e na Grã-Bretanha, principalmente com os astros pop que se apresentam com "trocentos" dançarinos.
Mas é no Brasil que a coisa chega às derradeiras consequências.
Isso quando a chamada nova MPB parece um rebanho de carneirinhos que eventualmente fazem dueto com ídolos do "sertanejo universitário", um negócio feito para que os emepebistas possam se apresentar no fechado mercado do interior do Brasil.
Voltando ao Carnaval, a música brega-popularesca só não teve espaço cativo nos desfiles das escolas de samba e nos bailes do Copacabana Palace.
É claro que os bailes do Copacabana Palace mudaram muito e ficaram modernos demais para os homens empresários e profissionais liberais que nasceram nos anos 1950 mas juram terem vivido os anos 1940, apesar de serem casados com moças bem mais novas que eles.
Mas, em que pese o apelo pop recente, o "baile do Copa" não pode escapar da tradição das marchinhas. Nem muito Jacintho de Thormes, nem muito Verão MTV.
E hoje nunca o Carnaval foi tão "obrigatório" como evento, com poucas pessoas fora por razões diversas.
E o chamado retiro dos não-foliões caiu no esquecimento, porque a grande mídia quer folia acima de qualquer coisa.
Neste Carnaval que se diz democrático, quem não está na folia acaba se sentindo um loser.
2019 é a consagração do ultracomercialismo musical brasileiro, quando a chamada música brasileira deixou a arte de lado e passou a ser mero entretenimento.
É claro que dizer isso irrita boa parte dos millenials, sobretudo os bolsomínions, assumidos ou não, que não veem diferença entre o que é comercial e o que é não-comercial na música.
Para eles, o não-comercial é "comercial" porque o coitado do artista que quer fazer algo diferente é acusado de fazer isso "por dinheiro", quando a renda é apenas uma ajuda de custo.
Em compensação, pensam que o comercial é que é "não-comercial", por uma mal-explicada alegação de que "estão conquistando seu espaço".
Mas essa geração é hipermidiatizada e hipermercantilizada, à qual questões envolvendo grande mídia e regras do mercado lhes parecem tão naturais que parecem inexistentes.
Perdemos, há poucos dias, Tavito, um grande compositor de MPB, e fico pensando em "Casa no Campo".
Ver que a cantora que popularizou a música, Elis Regina, e seus dois compositores, Tavito e Zé Rodrix, não estão entre nós, é desolador.
"Eu quero uma casa no campo / Do tamanho ideal, pau-a-pique e sapé / Onde eu possa plantar meus amigos / Meus discos e livros e nada mais", diz o refrão da música gravada pela cantora gaúcha em 1972.
A letra lembra mais um retiro de quem foge do Carnaval.
Eram tempos em que a música brasileira combinava humanismo, simplicidade e boas melodias. Digo uma MPB que ainda era influente.
Haviam os bregalhões naquele ano de 1972, mas eles eram o mainstream do Brasil ditatorial, nada nos diziam sobre a vida humana, a capacidade de ter esperança, se emocionar de verdade em vez de consolar débeis desilusões com bebedeira.
Hoje a catarse do "mau gosto popular" se tornou tão banal e a bregalização caminhou para um "pop à brasileira" que já não é apenas hegemônico, como havia desde 1990.
Tornou-se totalitário, graças à choradeira da intelectualidade "bacana" dos anos 2000 e seu papo de "combate ao preconceito" que não cola mais.
A conversa mole do "fim dos preconceitos" ao "popular demais" abriu caminho para Michel Temer e Jair Bolsonaro, mas como o estrago foi feito, virou um caminho sem volta.
Tudo ficou escancaradamente próximo do pop comercial estadunidense mais rasteiro, que fica difícil a intelligentzia "mais legal do Brasil" apelar para Oswald de Andrade morto há 65 anos.
Quando faleceu, em 1954, o poeta da "antropofagia cultural" via o Brasil cumprir seus ensinamentos com os primeiros vestígios da música bossanovista, inaugurada oficialmente em 1958 mas ressoando vários anos antes.
Hoje o que domina são o "funk", o "sertanejo" e, no Carnaval, a axé-music, ritmos que nada têm a ver com "antropofagia cultural".
A antropofagia modernista falava de influências musicais estrangeiras assimiladas de forma horizontal, conforme a livre vontade do ouvinte.
O que se vê na bregalização musical, dos brega-boleros de Waldick Soriano ao "funk" de MC Kevinho, são influências musicais estrangeiras assimiladas de forma vertical, conforme a vontade de uma meia-dúzia de executivos de gravadoras e emissoras de rádio e TV.
E tudo isso ficou totalitário, virou um beco sem saída, num contexto em que a MPB autêntica morre aos poucos, condenada, pela esnobe intelectualidade "bacana", a virar uma peça de museu, de preferência de um Museu Nacional devorado pelas chamas.
O comercialismo musical é bom no sentido econômico, porque rende muito dinheiro.
Rende tanto dinheiro que os estilos bregas e "populares demais", a música brega-popularesca, pode esconder suas irregularidades trabalhistas, como pejotização, corte de encargos etc, para ficar bem na fita em reportagens publicadas na mídia de esquerda.
O axézeiro ou funqueiro vai no palco dar seus ataques fingidos ao governo Bolsonaro e a intelectualidade "mais legal do Brasil" sai babando nas suas jabazeiras matérias em algum periódico de esquerda que ainda publica seus artigos.
É verdade que o ultracomercialismo musical é um fenômeno mundial, existindo focos até nos EUA e na Grã-Bretanha, principalmente com os astros pop que se apresentam com "trocentos" dançarinos.
Mas é no Brasil que a coisa chega às derradeiras consequências.
Isso quando a chamada nova MPB parece um rebanho de carneirinhos que eventualmente fazem dueto com ídolos do "sertanejo universitário", um negócio feito para que os emepebistas possam se apresentar no fechado mercado do interior do Brasil.
Voltando ao Carnaval, a música brega-popularesca só não teve espaço cativo nos desfiles das escolas de samba e nos bailes do Copacabana Palace.
É claro que os bailes do Copacabana Palace mudaram muito e ficaram modernos demais para os homens empresários e profissionais liberais que nasceram nos anos 1950 mas juram terem vivido os anos 1940, apesar de serem casados com moças bem mais novas que eles.
Mas, em que pese o apelo pop recente, o "baile do Copa" não pode escapar da tradição das marchinhas. Nem muito Jacintho de Thormes, nem muito Verão MTV.
E hoje nunca o Carnaval foi tão "obrigatório" como evento, com poucas pessoas fora por razões diversas.
E o chamado retiro dos não-foliões caiu no esquecimento, porque a grande mídia quer folia acima de qualquer coisa.
Neste Carnaval que se diz democrático, quem não está na folia acaba se sentindo um loser.
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