Em seu desembarque na causa lavajatista, a revista Veja, agora acolhendo os trabalhos do The Intercept, vem com uma capa que, com o perdão do trocadilho, desMOROna a figura de Sérgio Moro.
A ilustração mostra uma montagem em que Moro, com expressão de preocupado, mexe com um dos lados da balança, demonstrando sua seletividade na condução da Justiça.
Juntos, Veja, Folha de São Paulo e o Grupo Bandeirantes, antes entusiastas da Lava Jato, estão agora saindo do "Titanic" lavajateiro e publicando os pontos ocultos e sombrios da operação.
Nesse clima todo, em que tivemos uma semana em que Moro enfrentou uma sessão tensa na Câmara dos Deputados e ainda foi chamado de "juiz ladrão" e, covarde, saiu de fininho diante de muita confusão, também tivemos Léo Pinheiro, delator da Lava Jato, tentando agradar a OLJ.
Pensando na redução de sua pena prisional, o ex-presidente da OAS escreveu, ontem, uma carta, na qual tentou desmentir as acusações trazidas pelos diálogos divulgados pela equipe de Glenn Greenwald.
José Adelmário Pinheiro, o nome de batismo de Léo Pinheiro, disse que "não sofreu pressão da Lava Jato" e alegou ter "falado somente a verdade", como descreve trechos do depoimento, cuja íntegra pode ser lida aqui:
"(...)
A matéria veiculada nesta Folha de S. Paulo, sob o título "Lava a Jato via com descrédito empreiteiro que acusou Lula, no último domingo, dia 30 de junho de 2019, necessita de alguns esclarecimentos, todos eles amparados em provas e fatos.
A minha opção pela colaboração premiada se deu em meados de 2016, quando estava em liberdade, e não pela pressão pela operação Lava Jato. Assim, não optei pela delação por pressão das autoridades, mas sim como uma forma de passar a limpo erros que cometi ao longo da minha vida. Também afirmo categoricamente que nunca mudei ou criei versão e nunca fui ameaçado ou pressionado pela Polícia Federal ou Ministério Público Federal.
A primeira vez que fui ouvido por uma autoridade sobre o caso denominado como tríplex foi no dia 20 de abril de 2017, perante o juiz federal Sergio Moro, durante meu interrogatório prestado na ação penal referente ao tema.
Na oportunidade, esclareci que o apartamento nunca tinha sido colocado à venda porque o ex-presidente Lula era seu real proprietário e as reformas executadas foram realizadas seguindo suas orientações e de seus familiares. O ex-presidente e sua família foram ao tríplex e solicitaram reformas como a construção de um quarto, mudanças na área da piscina etc. Tudo devidamente testemunhado por funcionários da empresa que acompanharam a visita e prestaram testemunhos sobre isso.
(...)
Tenho consciência de que minha confissão foi considerada no processo que condenou o ex-presidente Lula, assim como as minhas provas que apresentei espontaneamente. Não sou mentiroso nem vítima de coação alguma. A credibilidade do meu relato deve ser avaliada no contexto de testemunhos e documentos.
Meu compromisso com a verdade é irrestrito e total, o que fiz e faço mediante a elucidação dos fatos ilícitos que eu pratiquei ou que eu tenha tomado conhecimento é sempre respaldado com provas suficientes e firmes dos acontecimentos.
(...)".
A defesa de Lula, através do advogado Cristiano Zanin Martins, contestou o conteúdo da carta e disse que Léo Pinheiro não mencionou, no primeiro dos três depoimentos, que o triplex do Guarujá foi reformado a pedido de Lula.
Léo também não teria dito, naquele depoimento de 2016, que Lula era o proprietário do imóvel nem que a OAS lhe ofereceu o apartamento como forma de propina.
Um simples raciocínio lógico pode contestar o "compromisso irrestrito e total com a verdade" do ex-presidente da OAS.
É fato que ele mudou a versão em três depoimentos. No primeiro deles, Léo inocentou Lula. No segundo depoimento, houve leve alteração, mas sem uma incriminação firme contra o ex-presidente da República. No terceiro, Léo narrou a "versão oficial" que levou Lula à cadeia.
Se Léo Pinheiro disse que seu "compromisso com a verdade é irrestrito e total", então, entre o primeiro e o terceiro depoimentos, aquele inocentando e este incriminando, um deles não é verdadeiro.
Pela natureza dos fatos, a mentira está na declaração que prevaleceu, porque não existem provas de que Lula foi dono do triplex nem que houve propina a seu favor.
Pelo contrário, se há provas, elas negam a participação de Lula no episódio.
Mas mesmo que sejamos levados a acreditar que a "versão oficial" é a "verdadeira", mesmo assim Léo Pinheiro teria "faltado com a verdade" na outra ocasião.
Portanto, foi um grande erro de Léo Pinheiro e sua carta não demonstrou sinceridade alguma, apesar do teor "firme e seguro" de sua missiva.
Além do mais, ele colocou um bujão de gás vazando para tentar barrar o incêndio que está queimando a Operação Lava Jato diante da opinião pública.
O nervosismo de Sérgio Moro no fim da sessão na Câmara dos Deputados, na qual ele não teve coragem de desmentir a acusação de ser "juiz ladrão", diz muito de sua gravíssima situação.
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