Os ataques pessoais de Jair Bolsonaro ao presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, foram o limite de seu estilo de provocações.
Bolsonaro tocou nas dolorosas memórias do pai de Felipe, o estudante Fernando Santa Cruz, militante pouco destacado da Ação Popular, que foi preso e morto pelo Exército, em 1974.
Bolsonaro alegou que "sabia" como Fernando foi morto, mas mentiu dizendo que a morte veio por iniciativa dos colegas de militância na AP.
A Comissão da Verdade desmentiu o que Bolsonaro disse e o presidente se viu numa enrascada.
A OAB entrou com ação no Supremo Tribunal Federal solicitando que Bolsonaro explique o que ele, supostamente, sabe sobre o caso de Fernando Santa Cruz.
Para complicar as coisas, Bolsonaro esnobou a Comissão da Verdade. "Quem é que acredita na Comissão da Verdade?", disse o presidente, com muita arrogância.
Que Bolsonaro seja um político ultraconservador, é compreensível. Mas daí a esculhambar todo aquele que não concorda com o presidente da República, é inadmissível.
Bolsonaro está ameaçando as instituições. Ele está botando a democracia a perder.
O Brasil já estava vulnerável desde 2016, mas agora a coisa foi longe demais. Mesmo a centro-direita que militou contra Dilma Rousseff já demonstra estar revoltada com Bolsonaro.
Miriam Leitão, que também sofreu a repressão ditatorial - embora nunca tenha participado de guerrilha, do contrário que se espalhou por aí - , definiu Jair Bolsonaro como "repulsivo" e sugere que ele sofra um impeachment.
Mesmo políticos que sinalizaram apoio a Bolsonaro, como João Dória Jr., Bruno Covas e Rodrigo Maia, estão indignados com o presidente.
Vamos ver até que ponto Jair Bolsonaro se segura no poder.
Num contexto ideológico bem diferente, em 19 de agosto de 1961, Jânio Quadros escandalizou a sociedade conservadora premiando o ministro da Economia de Cuba, Ernesto Che Guevara, com a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul.
Isso revoltou sobretudo o governador da Guanabara, Carlos Lacerda, apoiador de Jânio. Lacerda cobrou explicações de Jânio sobre a premiação.
Lacerda havia premiado um anti-castrista cubano, como resposta ao ato.
Aproveitando outras pautas, como buscar dinheiro para financiar sua Tribuna da Imprensa, Lacerda viajou a Brasília para se hospedar na residência oficial do presidente Jânio Quadros.
Pois Jânio praticamente o expulsou, despachando as malas para fora, enfurecendo Lacerda, que foi denunciar o caso nas emissoras de rádio e TV.
Aí veio a pressão e, na manhã de 25 de agosto de 1961, depois de assistir a um desfile militar, Jânio Quadros renunciou ao mandato de apenas sete meses.
Revelou-se que seria um ato excêntrico, pois Jânio esperava que houvesse comoção pública e uma manifestação popular em todo o país fosse feita para recolocá-lo no poder.
Nada disso aconteceu e Jânio simplesmente deixou de ser presidente da República.
Começam a contar os dias para Jair Bolsonaro, talvez, deixar o poder.
Com os ataques que ele fez aos nordestinos, indígenas, à OAB, ao Judiciário e à Comissão da Verdade, ele se isola cada vez mais.
Bolsonaro mostra o seu absoluto desprezo às instituições. E ainda mente, como no evento da inauguração do Aeroporto Glauber Rocha, em Vitória da Conquista, alegando que "ama os nordestinos".
Tinha que ser o "mito". Pelo jeito, o mitômano.
Esperemos o desfecho final.
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