Agrava-se a crise do governo Jair Bolsonaro, de forma que muitos duvidam se suas caneladas continuarão servindo de mero esporte para o presidente e seus ministros.
É um presidente temperamental, sem firmeza, sem agenda positiva e cheio de preconceitos e ideias retrógradas.
Seu governo nunca fez por onde, mesmo nos limites do ultraconservadorismo político, para melhorar a vida dos brasileiros.
Por sorte, Bolsonaro encontrou a complacência social dos brasileiros médios que tratam os erros humanos como "coisas naturais" e adotam o pragmatismo de conviver com retrocessos sociais.
No entanto, a situação se torna extremamente caótica até para os parâmetros dos "quenuncas".
Bolsonaro humilhou os nordestinos, duvidou do assassinato de um indígena da tribo Waiãpi, no Amapá, no último fim de semana, durante uma invasão numa reserva.
Mas a provável gota d'água pode ter sido um comentário de Jair contra o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz.
Bolsonaro atacou a OAB por causa do desfecho do caso Adélio Bispo, que não pode mais ser condenado criminalmente.
"Por que a OAB impediu que a Polícia Federal entrasse no telefone de um dos caríssimos advogados [do Adélio]? Qual a intenção da OAB? Quem é essa OAB?", perguntou Bolsonaro.
E aí ele acrescentou: "Um dia se o presidente da OAB [Felipe Santa Cruz] quiser saber como é que o pai dele desapareceu no período militar, eu conto para ele. Ele não vai querer ouvir a verdade. Eu conto para ele".
Bolsonaro se referiu ao estudante Fernando Santa Cruz, que desapareceu durante a ditadura militar, em 1974. Fernando era o pai de Felipe.
Segundo Bolsonaro, Fernando não foi morto pela repressão ditatorial.
"Não foram os militares que mataram ele, tá? É muito fácil culpar os militares por tudo que acontece", bradou o presidente.
Ele acusou os manifestantes da Ação Popular, organização de esquerda que combatia a ditadura, de terem assassinado Fernando.
Segundo documento difundido pela Comissão Nacional da Verdade, o relatório RPB 655, do Comando Costeiro da Aeronáutica, Fernando Santa Cruz foi preso pela repressão militar em 22 de fevereiro de 1974.
A grosseria de Bolsonaro irritou a classe jurídica, e até mesmo o conservador Miguel Reale Jr., um dos artífices do impeachment de Dilma Rousseff, definiu como "insano" o comportamento do presidente.
Reale Jr. disse que Bolsonaro deveria ser interditado.
A fala de Bolsonaro também recebeu repúdio de esquerda e direita, seja Gleisi Hoffmann, Dilma Rousseff, Paulo Pimenta e Guilherme Boulos, seja João Dória e Marina Silva, entre outros.
Enquanto isso, seu ministro Sérgio Moro é personagem de mais uma revelação da Vaza Jato, série de reportagens do jornal The Intercept.
Moro teria inicialmente reprovado a delação premiada de Antônio Palocci, ex-ministro do governo Lula, por ter achado "muito fraca", o que não é avaliação que deva ser dada por um juiz.
Mesmo assim, quando, no segundo turno da campanha presidencial, Moro liberou a delação de Palocci só para neutralizar a chance de virada do candidato petista Fernando Haddad, impulsionando a vitória de Bolsonaro.
Moro foi premiado pelo cargo de ministro da Justiça, que já estava combinado no decorrer da campanha.
O desgaste se torna extremo e Jair Bolsonaro, Sérgio Moro e o dinheirista Deltan Dallagnol vivem uma decadência séria, porque não dá para naturalizar erros graves.
O Brasil deveria deixar de ser a Terra do Quenunca.
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