Depois da crise que foi o depoimento de Sérgio Moro na Câmara dos Deputados, anteontem, foi a vez de, ontem, as pautas ultraconservadoras serem discutidas pelo Legislativo.
São o pacote anti-crime e a reforma da Previdência.
Há polêmicas entre as duas propostas, que, cada uma, conta com três relatores.
O pacote anti-crime, por exemplo, tem como ponto controverso a expressão "forte emoção" que poderia estimular crimes cometidos por cidadãos comuns, sob o pretexto da "legítima defesa".
A expressão "forte emoção" foi descrita no texto defendido pelo próprio Sérgio Moro.
Existe também a proposta, defendida por Alexandre de Moraes, que aumenta de 30 a 40 anos o tempo máximo de prisão.
Na reforma da Previdência, não bastasse os aspectos conhecidos, como a ênfase na previdência privada, foi o fato de não haver acordo com o setor da segurança pública, que queria equiparar suas regras de aposentadoria aos militares.
O presidente Jair Bolsonaro apoiou a causa dos policiais, mas o Legislativo não atendeu às reivindicações.
Sem o acordo, Bolsonaro então mostrou-se enérgico, dizendo que "todos vão pagar pela Previdência Social". E previdência privada, como deseja o ministro da Economia, Paulo Guedes.
A mídia conservadora dá muito destaque à reforma da Previdência, uma das bandeiras pendentes do governo Michel Temer.
Assim como o pacote anti-crime dá ênfase nas motivações punitivistas, a reforma da Previdência dá mais ênfase na contribuição previdenciária.
São, portanto, propostas feitas sob o ponto de vista da direita. E que podem atingir de maneira mais dramática as classes pobres.
São elas que poderão receber maiores punições criminais por um simples furto de bicicleta ou celular, por exemplo.
E, por outro lado, são as classes trabalhadoras que pagarão mais as contribuições, com o agravante de lhes serem menores as chances de chegarem vivas à idade da aposentadoria.
Na proposta em discussão, a idade da aposentadoria deverá ser de 65 anos para homens e 62 para mulheres, uma alteração, da parte das mulheres, ao já alterado patamar do governo Temer, de 65 anos e 60 anos, respectivamente.
Infelizmente, a falta de mobilização popular intensa e persistente faz com que os retrocessos de ordem econômica, que hoje interessam a gente como Paulo Guedes, sigam seu rumo sem graves problemas.
Até hoje Temer deve estar feliz com a falta de empenho dos seus opositores em tirá-lo do poder. Ele viu no "Fora Temer" uma grande piada e riu daqueles que, sem muita firmeza, o queriam fora do governo que completou com impopularidade, mas sem obstáculos intransponíveis.
Aqui cabe criticar as esquerdas que engoliram o papo de "combate ao preconceito" que a ditabranda do mau gosto popularesco empurrou para a mídia progressista.
Muitos acreditaram que essa "luta contra o preconceito" iria transformar o Brasil num país mais progressista e igualitário. Mas essa falácia só promoveu a espetacularização da pobreza, da miséria, da ignorância, do grotesco, da baixaria.
E fez o povo pobre se sentir como inofensivos camundongos indo atrás do "flautista de Hamelin" do brega, do "funk", do "sertanejo", do "forró eletrônico", das mulheres-frutas, do noticiário policialesco, do sensacionalismo pitoresco.
O preconceito não foi combatido, os brega-popularescos foram para as festas das elites, o povo pobre acabou sendo refém do conservadorismo de evangélicos, "espíritas kardecistas" e milicianos e os reacionários é que foram para as ruas pedir o golpismo e os retrocessos que hoje vemos.
A intelectualidade "bacana", que se achava "mais povo" do que o povo e queria empurrar o comercialismo brega para as pautas de esquerda, está lá no seus confortáveis apartamentos no seu elitismo oculto pela falsa generosidade com as "periferias".
Enquanto isso, o povo pobre assiste, quase impotente, ao cancelamento gradual de seus direitos e benefícios.
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