O governo Jair Bolsonaro passa por um momento de grande tensão.
Isso porque ele deu uma declaração bastante ofensiva aos nordestinos, povo de uma importante região do Brasil.
Numa reunião informal em Brasília, com o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, Bolsonaro comentou sobre os governadores do país e fez comentários grosseiros sobre os da região Nordeste.
Bolsonaro os chamou de "governadores de 'paraíba'" - apesar da Paraíba ser um dos Estados nordestinos, chamar um nordestino de "paraíba" soa pejorativo - e definiu como o pior deles o governador do Maranhão, Flávio Dino.
O comentário repercutiu tão mal que a cantora Alcione, maranhense que apoiou Fernando Haddad na campanha presidencial, reagiu com um oportuno e necessário comentário enérgico: "Respeite os nordestinos".
Flávio Dino reagiu com ironia, se dizendo honrado com o comentário de Bolsonaro, até pelo contexto desta opinião.
Ele recebeu solidariedade de outras autoridades, não só governadores, e destacou-se o apoio dado pelo governador da Bahia, Rui Costa.
Costa iria comparecer a uma inauguração em Vitória da Conquista, que teria a presença de Bolsonaro. Iria apenas por mera formalidade, mas depois decidiu não comparecer ao evento.
E não é só a esquerda que repudiou o comentário do presidente. O senador baiano Otto Alencar, do PSD, de centro-direita, também protestou.
Ele disse que "não tem sangue de barata" e irá faltar ao mesmo evento.
Jair Bolsonaro tentou desmentir que tenha ofendido os nordestinos, dizendo que apenas estava falando mal de alguns governadores.
No domingo, recebendo apoiadores na frente do Palácio da Alvorada, Bolsonaro perguntou aos presentes se havia um nordestino que se sentiu ofendido com o comentário. Não houve quem admitisse tal ofensa.
Na segunda-feira, no encontro com o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, Bolsonaro voltou a despejar sua grosseria.
Perguntando se Tarcísio tinha algum parente do Nordeste, o presidente acrescentou: "Você tem algum parente pau de arara?". E ainda disse mais: "Com essa cabeça (enorme) aí, tu não nega não".
Os nordestinos sofrem o preconceito de serem considerados de "cabeça grande" ou "cabeça chata".
Pior é que, quando Bolsonaro disse essa barbaridade, as pessoas presentes caíram na gargalhada, como se fosse uma descontração. Era valentonismo puro.
O advogado cearense Antônio Carlos Fernandes tornou-se o primeiro a entrar com processo de injúria racial contra o presidente, uma reação que deve ter outros exemplos.
Eu sou catarinense, nasci em Florianópolis, mas tenho sangue baiano por parte de pai. E gosto muito do Nordeste, aprendi a valorizar seu povo, sua cultura e seu trabalho.
Vivi em Salvador durante anos e hoje vejo o quanto a cidade está superando a fase coronelista de 1964-2010 e começa a retomar sua vocação desenvolvimentista.
O Nordeste anda se tornando um núcleo de movimentos de redemocratização, enquanto o Sul e Sudeste industrializados, majoritariamente bolsonaristas, estão decaindo justamente pelas mãos daquele que apoiaram.
Bolsonaro anda fazendo das suas.
Pediu censura à Ancine (Agência Nacional de Cinema), seu ministro da Educação Abraham Weintraub criou um engodo chamado "Future-se" que transformará as universidades públicas em empresas, mesmo sem o aparato formal da privatização.
Bolsonaro desqualificou o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, sobre informações relacionadas ao desmatamento da amazônia, e disse também que o problema da fome é uma "mentira" no Brasil, contrariando a realidade que salta aos nossos olhos.
Além disso, Bolsonaro criou um incidente terrível internacional, quando determinou que a Petrobras não vai abastecer dois navios iranianos, seguindo as sanções do presidente dos EUA, Donald Trump, ao país do Oriente Médio.
Isso é terrível, porque o Irã tinha relações econômicas importantes com o Brasil. O Irã vendia carne para nosso país e este retribuía com o nosso milho.
São relações econômicas bastante lucrativas, favoráveis para os dois lados, e o bloqueio dessa parceria faz o mundo árabe ver o Brasil de maneira hostil.
A situação do governo Bolsonaro está gravíssima, preocupante, e o brasileiro médio ainda está conformado com a banalização do erro, que faz com que até mesmo os piores desastres sejam vistos como coisas naturais.
Esse modismo dos "quenuncas" (termo baseado no surrado bordão "Quem nunca erra?" ou apenas "Quem nunca?...") vai levar o Brasil ao precipício.
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