DEPUTADO GLAUBER BRAGA (PSOL-RJ) CHAMOU SÉRGIO MORO DE "JUIZ LADRÃO" E ESTE SAIU DE FININHO, ASSIM QUE O CLIMA ESQUENTOU NA CÂMARA.
Se depender da sessão de ontem na Câmara dos Deputados que ouviu o ministro da Justiça e ex-juiz da Operação Lava Jato, Sérgio Moro, foi o dia da morte de um herói.
Moro era o herói da sociedade reacionária que não aguentava ver empregadas domésticas pegando o elevador social e proletários fazendo viagem de avião.
Mas um herói teria que manter a compostura e não a covardia.
A sessão na Câmara dos Deputados foi mais inflamada do que a do Senado, há uma semana.
O Senado Federal é majoritariamente conservador, e nas eleições de 2018 tirou de circulação vários políticos progressistas que haviam atuado contra as medidas do governo Michel Temer.
Na Câmara, o número maior de deputados, apesar de em boa parte conservadores, tinha no entanto maior representatividade das forças populares por parte de outros parlamentares.
Nas duas casas legislativas, o ministro de Jair Bolsonaro estava destinado a explicar as mensagens privadas que foram publicadas pelo The Intercept e que revelam atos, decisões e opiniões abusivas relacionadas à Operação Lava Jato.
Foram quase oito horas, das 14 horas a 21h40.
Moro inicialmente tentou se defender com um mínimo de, digamos, quase tranquilidade.
O ministro definiu a revelação das gravações como uma "tentativa criminosa" de "invalidar condenações" feitas pela Operação Lava Jato.
Moro continuou questionando a autenticidade das mensagens divulgadas e manteve sua "pouca lembrança" de que havia dito alguma coisa presente nas mesmas.
O ex-juiz disse que "poderia ter dito" a frase "In Fux We Trust" ("Em Fux Nós Confiamos"), que ele e Dallagnol manifestaram em favor do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux.
Moro também tentou desmentir que houvesse um "conluio" entre ele e o Ministério Público Federal.
O ex-juiz rebateu com ironia a possibilidade de anulação da condenação do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva à prisão, pelo caso do "triplex do Guarujá":
“Se ouve muito da anulação do processo do ex-presidente [Lula]. Tem que se perguntar realmente quem defende, então, Sergio Cabral, Eduardo Cunha, Renato Duque, todos esses ‘inocentes’ que teriam sido condenados segundo esse site de notícias”, ironizou Moro.
“Nós precisamos defensores também dessas pessoas, para defender que elas sejam colocadas imediatamente em liberdade já que foram condenados pelos malvados procuradores da Lava Jato ou desonestos policiais e [pelo] juiz parcial”.
Os apoiadores de Moro o exaltaram dizendo que "ele foi muito importante no combate à corrupção no Brasil".
Um deles, o deputado Emerson Miguel Petriv, o Boca Aberta, representante paranaense do Partido Republicano da Ordem Social (PROS), deu um troféu a Moro "pela atuação no combate à corrupção e à lavagem de dinheiro".
Questionado por Alessandro Molon, ex-Rede Sustentabilidade e atualmente filiado ao Partido Socialista Brasileiro (PSB) pelo Rio de Janeiro, sobre dúvidas quanto à imparcialidade de Moro, o ministro da Justiça respondeu que "tinha uma relação igual com advogados de acusação e de defesa".
Ao ser novamente questionado por Molon sobre as relações com procuradores, Moro respondeu, a respeito de sua não-relação com os advogados de Lula, sobretudo Cristiano Zanin Martins:
“Não tinha uma relação com o advogado do ex-presidente porque ele (Cristiano) adotou uma atitude beligerante, beirando as ofensas em praticamente todas as audiências”.
Moro também definiu o escândalo que o atinge como fake, como um "balão cheio de nada".
A petista paranaense Gleisi Hoffmann perguntou sobre o que ele achava das denúncias de Rodrigo Tacla Duran, ex-advogado da Odebrecht, a respeito do envolvimento de Carlos Zucolotto Jr. e Marlus Arns com a esposa do ex-juiz, Rosângela Moro.
Sérgio não respondeu a questão, dizendo apenas que Zucolotto é "amigo da família".
Sobre outra pergunta de Gleisi, sobre se Moro tinha contas no exterior, ele respondeu, irônico, que era uma "maluquice" essa questão e que "não era ele que estava sendo investigado".
Por outro lado, Moro não respondeu a questão trazida por vários parlamentares sobre uma nota lançada pelo sítio O Antagonista.
Segundo o blogue ligado à empresa Empiricus, a denúncia se refere à suposta solicitação pela Polícia Federal ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), pedindo um relatório sobre as atividades financeiras do jornalista Glenn Greenwald, editor do The Intercept Brasil.
Moro se limitou a dizer que "não conhece" o conteúdo das conversas.
Em uma das respostas, o deputado Wadih Damous, do PT fluminense, disse que, se for comprovada essa denúncia, Moro poderia ser, conforme a lei, condenado por improbidade administrativa.
Jandira Feghali, do PC do B fluminense, desafiou Sérgio Moro a assinar autorização ao aplicativo Telegram para divulgar suas mensagens.
Fernanda Melchionna, do PSOL gaúcho, deu uma dura na personalidade ególatra do ex-juiz:
“Eu gostaria de pedir que o ministro me olhasse. Eu sei que ele está acostumado a ver e ouvir a quem concorda com ele, inclusive gente que pede fechamento do Supremo e Congresso, mas eu sou deputada eleita e peço que ele tenha atenção nas perguntas que farei".
As perguntas de Fernanda foram sobre a acusação de que Moro estava querendo perseguir a imprensa, sobretudo o The Intercept (que o ex-juiz, de maneira pejorativa, definiu como "mártir da imprensa").
"A última vez que Glenn Greenwald foi chamado de mentiroso (no Brasil), ele ganhou o prêmio Pulitzer", disse ela. O Pulitzer é um prêmio da Universidade de Columbia (Nova York) dado a pessoas que se destacaram em atividades no Jornalismo, na composição musical e na literatura.
Um outro questionamento foi dado pela deputada Sâmia Bonfim, do PSOL paulista, a respeito das respostas inseguras de Moro:
"Esse seu discursinho repetitivo e decorado cansa a beleza de quem está aqui; 'talvez eu tenha dito, se eu disse não disse nada de grave'; quando alguém não nega veementemente, talvez tenha feito".
Ao longo do depoimento, houve vários atritos entre parlamentares.
Num deles, o parlamentar petista gaúcho Paulo Pimenta, respondendo a uma ofensa ao PT de parte do deputado Eduardo Bolsonaro, filho de Jair, diz que "não responde para miliciano" e perguntou onde está o ex-policial Fabrício Queiroz, amigo da família do presidente.
O momento alto do evento ocorreu no final.
O deputado do PSOL fluminense, Glauber Braga, fez um discurso inflamado que simplesmente serviu de querosene para a reunião da Câmara dos Deputados, que já estava muito tensa, e ainda tinha "guerra de cartazes" contra o bolsonarismo e contra o petismo, nesse clima de polarização nervosa.
"O senhor vai estar sim nos livros de história, vai estar como um juiz que se corrompeu, com um juiz ladrão. É isso o que vai estar nos livros de história", disse Braga, provocando gritos de apoio e de repúdio dos presentes da casa.
Uma confusão se intensificou e Sérgio Moro saiu de fininho, sob os gritos de "Fujão!" dados por seus opositores.
No final, ainda houve o bate-boca de Alexandre Frota (PSL-SP) e de Zeca Dirceu (PT-SP), respectivamente apoiando Moro e Braga.
"Seu pai está preso! Seu pai está preso", gritou Frota a Zeca, que rebateu, a respeito da atuação de seu pai, José Dirceu, quando prestava depoimentos para a Lava Jato: "Pelo menos ele estava na sessão", ironizando, ao mesmo tempo, a fuga de Moro.
Do contrário que o ator e "autoproclamado presidente da República" José de Abreu disse, a respeito da suposição de uma fonte, Sérgio Moro não saiu preso da Câmara dos Deputados.
Mas a verdade é que Moro saiu da reunião bastante tenso e preocupado. No fundo ele está com a consciência pesada. E deve ter passado a noite com uma tremenda insônia.
Se depender da sessão de ontem na Câmara dos Deputados que ouviu o ministro da Justiça e ex-juiz da Operação Lava Jato, Sérgio Moro, foi o dia da morte de um herói.
Moro era o herói da sociedade reacionária que não aguentava ver empregadas domésticas pegando o elevador social e proletários fazendo viagem de avião.
Mas um herói teria que manter a compostura e não a covardia.
A sessão na Câmara dos Deputados foi mais inflamada do que a do Senado, há uma semana.
O Senado Federal é majoritariamente conservador, e nas eleições de 2018 tirou de circulação vários políticos progressistas que haviam atuado contra as medidas do governo Michel Temer.
Na Câmara, o número maior de deputados, apesar de em boa parte conservadores, tinha no entanto maior representatividade das forças populares por parte de outros parlamentares.
Nas duas casas legislativas, o ministro de Jair Bolsonaro estava destinado a explicar as mensagens privadas que foram publicadas pelo The Intercept e que revelam atos, decisões e opiniões abusivas relacionadas à Operação Lava Jato.
Foram quase oito horas, das 14 horas a 21h40.
Moro inicialmente tentou se defender com um mínimo de, digamos, quase tranquilidade.
O ministro definiu a revelação das gravações como uma "tentativa criminosa" de "invalidar condenações" feitas pela Operação Lava Jato.
Moro continuou questionando a autenticidade das mensagens divulgadas e manteve sua "pouca lembrança" de que havia dito alguma coisa presente nas mesmas.
O ex-juiz disse que "poderia ter dito" a frase "In Fux We Trust" ("Em Fux Nós Confiamos"), que ele e Dallagnol manifestaram em favor do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux.
Moro também tentou desmentir que houvesse um "conluio" entre ele e o Ministério Público Federal.
O ex-juiz rebateu com ironia a possibilidade de anulação da condenação do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva à prisão, pelo caso do "triplex do Guarujá":
“Se ouve muito da anulação do processo do ex-presidente [Lula]. Tem que se perguntar realmente quem defende, então, Sergio Cabral, Eduardo Cunha, Renato Duque, todos esses ‘inocentes’ que teriam sido condenados segundo esse site de notícias”, ironizou Moro.
“Nós precisamos defensores também dessas pessoas, para defender que elas sejam colocadas imediatamente em liberdade já que foram condenados pelos malvados procuradores da Lava Jato ou desonestos policiais e [pelo] juiz parcial”.
Os apoiadores de Moro o exaltaram dizendo que "ele foi muito importante no combate à corrupção no Brasil".
Um deles, o deputado Emerson Miguel Petriv, o Boca Aberta, representante paranaense do Partido Republicano da Ordem Social (PROS), deu um troféu a Moro "pela atuação no combate à corrupção e à lavagem de dinheiro".
Questionado por Alessandro Molon, ex-Rede Sustentabilidade e atualmente filiado ao Partido Socialista Brasileiro (PSB) pelo Rio de Janeiro, sobre dúvidas quanto à imparcialidade de Moro, o ministro da Justiça respondeu que "tinha uma relação igual com advogados de acusação e de defesa".
Ao ser novamente questionado por Molon sobre as relações com procuradores, Moro respondeu, a respeito de sua não-relação com os advogados de Lula, sobretudo Cristiano Zanin Martins:
“Não tinha uma relação com o advogado do ex-presidente porque ele (Cristiano) adotou uma atitude beligerante, beirando as ofensas em praticamente todas as audiências”.
Moro também definiu o escândalo que o atinge como fake, como um "balão cheio de nada".
A petista paranaense Gleisi Hoffmann perguntou sobre o que ele achava das denúncias de Rodrigo Tacla Duran, ex-advogado da Odebrecht, a respeito do envolvimento de Carlos Zucolotto Jr. e Marlus Arns com a esposa do ex-juiz, Rosângela Moro.
Sérgio não respondeu a questão, dizendo apenas que Zucolotto é "amigo da família".
Sobre outra pergunta de Gleisi, sobre se Moro tinha contas no exterior, ele respondeu, irônico, que era uma "maluquice" essa questão e que "não era ele que estava sendo investigado".
Por outro lado, Moro não respondeu a questão trazida por vários parlamentares sobre uma nota lançada pelo sítio O Antagonista.
Segundo o blogue ligado à empresa Empiricus, a denúncia se refere à suposta solicitação pela Polícia Federal ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), pedindo um relatório sobre as atividades financeiras do jornalista Glenn Greenwald, editor do The Intercept Brasil.
Moro se limitou a dizer que "não conhece" o conteúdo das conversas.
Em uma das respostas, o deputado Wadih Damous, do PT fluminense, disse que, se for comprovada essa denúncia, Moro poderia ser, conforme a lei, condenado por improbidade administrativa.
Jandira Feghali, do PC do B fluminense, desafiou Sérgio Moro a assinar autorização ao aplicativo Telegram para divulgar suas mensagens.
Fernanda Melchionna, do PSOL gaúcho, deu uma dura na personalidade ególatra do ex-juiz:
“Eu gostaria de pedir que o ministro me olhasse. Eu sei que ele está acostumado a ver e ouvir a quem concorda com ele, inclusive gente que pede fechamento do Supremo e Congresso, mas eu sou deputada eleita e peço que ele tenha atenção nas perguntas que farei".
As perguntas de Fernanda foram sobre a acusação de que Moro estava querendo perseguir a imprensa, sobretudo o The Intercept (que o ex-juiz, de maneira pejorativa, definiu como "mártir da imprensa").
"A última vez que Glenn Greenwald foi chamado de mentiroso (no Brasil), ele ganhou o prêmio Pulitzer", disse ela. O Pulitzer é um prêmio da Universidade de Columbia (Nova York) dado a pessoas que se destacaram em atividades no Jornalismo, na composição musical e na literatura.
Um outro questionamento foi dado pela deputada Sâmia Bonfim, do PSOL paulista, a respeito das respostas inseguras de Moro:
"Esse seu discursinho repetitivo e decorado cansa a beleza de quem está aqui; 'talvez eu tenha dito, se eu disse não disse nada de grave'; quando alguém não nega veementemente, talvez tenha feito".
Ao longo do depoimento, houve vários atritos entre parlamentares.
Num deles, o parlamentar petista gaúcho Paulo Pimenta, respondendo a uma ofensa ao PT de parte do deputado Eduardo Bolsonaro, filho de Jair, diz que "não responde para miliciano" e perguntou onde está o ex-policial Fabrício Queiroz, amigo da família do presidente.
O momento alto do evento ocorreu no final.
O deputado do PSOL fluminense, Glauber Braga, fez um discurso inflamado que simplesmente serviu de querosene para a reunião da Câmara dos Deputados, que já estava muito tensa, e ainda tinha "guerra de cartazes" contra o bolsonarismo e contra o petismo, nesse clima de polarização nervosa.
"O senhor vai estar sim nos livros de história, vai estar como um juiz que se corrompeu, com um juiz ladrão. É isso o que vai estar nos livros de história", disse Braga, provocando gritos de apoio e de repúdio dos presentes da casa.
Uma confusão se intensificou e Sérgio Moro saiu de fininho, sob os gritos de "Fujão!" dados por seus opositores.
No final, ainda houve o bate-boca de Alexandre Frota (PSL-SP) e de Zeca Dirceu (PT-SP), respectivamente apoiando Moro e Braga.
"Seu pai está preso! Seu pai está preso", gritou Frota a Zeca, que rebateu, a respeito da atuação de seu pai, José Dirceu, quando prestava depoimentos para a Lava Jato: "Pelo menos ele estava na sessão", ironizando, ao mesmo tempo, a fuga de Moro.
Do contrário que o ator e "autoproclamado presidente da República" José de Abreu disse, a respeito da suposição de uma fonte, Sérgio Moro não saiu preso da Câmara dos Deputados.
Mas a verdade é que Moro saiu da reunião bastante tenso e preocupado. No fundo ele está com a consciência pesada. E deve ter passado a noite com uma tremenda insônia.
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