A repercussão do escândalo da Vaza Jato, com a revelação das mensagens privadas pelo jornal The Intercept, trouxe medo aos principais envolvidos, o juiz Sérgio Moro e o procurador Deltan Dallagnol.
Sérgio Moro pediu uma folga de cinco dias para "reenergizar o corpo". Ele adotou esse sumiço provisório talvez para minimizar seu desgaste, já que ele não é capaz de fazer um "pedido de escusas" à população.
Fico imaginando se houvesse, amanhã, um pedido de habeas corpus ao ex-presidente Lula, tirando-o da prisão. Será que Moro cortaria sua folga para ordenar o cancelamento dessa medida?
Moro não é mais juiz da Operação Lava Jato. Pouco importa. Ele não sabe as fronteiras de suas atuações e, mesmo como ministro da Justiça, ele é capaz de mandar seu sucessor na OLJ, Luiz Antônio Bonat, a fazer esse cancelamento.
Mas como não há chance de Lula sair da prisão, pelo menos por enquanto, Moro pode curtir sua folga sossegado ao lado de sua Rô, como ele chama sua "conje" Rosângela Moro.
Dallagnol, por sua vez, foi convidado para depor no Congresso Nacional - nesta terça-feira, na Câmara dos Deputados, o que poderia depois se repetir no Senado - , para explicar os vazamentos, conforme seus pontos de vista.
Mas Dallagnol recusou-se a participar, dando o seguinte recado:
"Muito embora tenha sincero respeito e profundo apreço pelo papel do Congresso Nacional nos debates de natureza política que realiza e agradeça o convite para deles participar, acredito ser importante concentrar na esfera técnica minhas manifestações".
Apesar dessa desculpa - ou "escusa", como disse Sérgio Moro - , o que motivou essa recusa, evidentemente, foi o episódio com o ex-juiz.
É claro que Moro e Dallagnol tiveram suas imagens arranhadas. Já não são mais os "heróis da luta contra a corrupção" de antes.
Se o desgaste já ocorria quando Moro aceitou ser ministro de Jair Bolsonaro, contrariando sua própria promessa de juiz, e Dallagnol ameaçou criar uma fundação de fachada para faturar sob o pretexto de "fazer campanhas educativas contra a corrupção", a Vaza Jato os feriu mais ainda.
É muito cedo para dizer que eles estão politicamente mortos. A plutocracia, infelizmente, consegue se segurar em escândalos graves, vide o governo Michel Temer.
Isso porque as forças progressistas não conseguiram até agora articular um movimento unido e constante, criando apenas "fogos de palha" em episódios que variam do desfile da Tuiuti à recente vaia contra Bolsonaro na final da Copa América.
A bregalização cultural e sua falácia de "combate ao preconceito" tirou o povo das verdadeiras manifestações e criou nele um vício de se "mobilizar" somente de forma espetacularizada. A manifestação deixou de ser "mani" e "ação" para ser somente "festa".
Em outra perspectiva, o cientista político Aldo Fornazieri escreveu um texto reclamando da ineficiência da campanha Lula Livre.
Segundo ele, a campanha é "para convertidos", o que, em linguagem mais acessível para o público do WhatsApp, quer dizer "ficar preso na sua bolha social".
É claro que temos uma situação complicada no âmbito dos progressistas.
De um lado, as esquerdas ainda estão em estado de choque ao perceberem que a intelectualidade "bacana", com sua bregalização e seu mau gosto "identitário", levaram o Brasil ao golpismo e não ao aperfeiçoamento do cenário progressista.
É um cenário complicado no qual, mesmo fora do esquerdismo, Reinaldo Azevedo e Rachel Sheherazade se aproximam de algumas pautas progressistas. Talvez Marco Antônio Villa se junte a eles.
É um cenário difícil no qual não podemos ainda saber quem são nossos aliados sinceros, quem são os usurpadores e os inimigos internos, que frente ampla devemos exercer e quais os limites de obter apoio para causas progressistas.
Será que temos que acolher Collor, Maluf e Sarney nas causas progressistas? Ou nos iludirmos ao atribuir progressismo a funqueiros e "médiuns espíritas", fenômenos de fundo conservador, só por estarem associados a imagens de pobres sorridentes?
Enquanto isso, voltando à Vaza Jato, o ministro do Supremo Tribunal Federal, Luiz Edson Fachin, disse que "repudia a atuação de juízes parciais".
Fachin e Luiz Fux são dois ministros do STF que foram citados nos diálogos revelados pelo The Intercept.
O fato de Sérgio Moro pedir folga e Dallagnol recusar-se a depor na Câmara dos Deputados revela que eles estão assustados com o escândalo da Vaza Jato.
O momento sombrio do Brasil continua. Tudo está imprevisível, ainda.
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