Quando imaginávamos que a revista Veja, longe de se tornar uma revista progressista, pelo menos passasse a fazer jornalismo honesto, devido à parceria com o Intercept, a publicação veio com esta.
É uma denúncia de um suposto plano terrorista noticiado pelo deep web, a "rede profunda", espécie de submundo da Internet.
A "rede profunda" possui tanto arquivos perdidos da Internet oficial, tipo páginas que já saíram do ar, como sítios inacessíveis nos mecanismos de busca, cada vez mais seletivos.
Mas também possuem páginas suspeitas e, muitas vezes, infectadas. E também sítios de organizações criminosas diversas.
Uma delas é a Sociedade Secreta Silvestre (SSS), grupo com nome risível e sigla simplória, que estaria bolando um suposto plano de assassinatos envolvendo o presidente Jair Bolsonaro, seus filhos e parte de sua equipe ministerial.
O hipotético grupo com triplo S é considerado "ambientalista-terrorista" e o suposto informante apenas divulgou a alcunha de "Anhangá".
A ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, e o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles - conhecido por formar um lobby com ruralistas desmatadores - são os alvos desse suposto bando.
Só que a notícia é tão ridícula que traz dúvidas. Afinal, um plano terrorista só seria revelado se fosse vindo de algum dissidente, e, ao que parece, "Anhangá" não é um dissidente.
Segundo o suposto plano, Jair Bolsonaro teria sido morto no dia da posse, se não fosse o forte esquema de segurança no evento.
O SSS também está associado a uma suposta autoria no incêndio de dois carros do IBAMA, em Brasília.
O factoide foi dado numa época em que se faz 50 anos da viagem espacial à Lua.
Este episódio fez um patético (e reacionário) "médium de peruca" - que a ditadura militar e a mídia venal promoveram como um pretenso símbolo de "paz, caridade e fraternidade" que enganou o Brasil inteiro - apostar numa pretensa profecia.
Essa profecia vai contra os ensinamentos do precursor do Espiritismo, Allan Kardec, que deixou bem claro que não se pode prever o futuro determinando datas fixas (e, ainda mais, longínquas), porque isso é demonstração de baixo nível moral.
Isso derruba de vez a imagem "iluminada" do "médium de peruca", pioneiro da literatura fake - que lesou personalidades como Humberto de Campos, Olavo Bilac e até Auta de Souza! - que abriu caminho para as fake news que crescem feito câncer no Brasil.
E é claro que um país que idolatra um farsante que produziu literatura fake e caridade fajuta - que os críticos comparam à "filantropia" televisiva de Luciano Huck - e cujas risíveis "profecias" são levadas a sério, o Brasil se torna um país vulnerável a tudo.
E a volta de Veja à "reporcagem", com apetite multiplicado, é um grande perigo, não bastasse a revista do grupo Abril envergonhar com estas deep fake news.
Para os esclarecidos, tudo não passa de uma grotesca notícia falsa.
Mas, para o público pouco esclarecido, que assimila tudo o que a mídia transmite sem duvidar, trata-se de um traiçoeiro boato que irá promover a imagem vitimista do governo Bolsonaro.
Um governo desastroso, falido, sem propostas, comprometido com retrocessos violentos, cheio de graves defeitos, transformando o Brasil numa vergonha mundial.
E, além disso, esse factoide irá prolongar o governo, criando um ambiente de pânico que será ótimo para as elites financeiras entregarem nossas riquezas aos estrangeiros.
As elites também contam com as delações premiadas de Antônio Palocci que alegou que bancos financiaram um valor de R$ 50 milhões as campanhas de Lula e Dilma Rousseff em troca de favores, uma estória plantada e sem provas documentais consistentes.
Palocci é estranhamente usado quando os governos da plutocracia estão em crise. É mais ou menos como o "funk", só que, em vez de anestesiar as classes populares, como fazem os funqueiros, as delações de Palocci despertam a raiva reacionária das elites dominantes e seus capachos.
A situação no Brasil está muito perigosa, sob o risco de uma catástrofe.
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