GERALDO ALCKMIN, ARMÍNIO FRAGA, ABÍLIO DINIZ E ANDRÉ ESTEVES - Os novos "amiguinhos de infância" de Lula.
Quando Lula decidiu se aliar com a direita gurmê, devemos ser realistas.
Temos que admitir que o projeto político de Lula será seriamente prejudicado. E isso é tão certo quanto o nascer e o pôr do Sol.
Sim. Lula não vai revogar a reforma trabalhista. Ele só vai "revisar" e aproveitar parte da Lei 13.467, de 13 de julho de 2017.
Lula não vai acabar com o teto de gastos. Vai apenas fazer uma "abertura", conforme as demandas da Economia.
É certo que Lula não vai privatizar as estatais, mas não vai cancelar as que já foram privatizadas. Se no caso de liberarem a venda dos Correios e da Eletrobras e, talvez, da Petrobras, Lula não irá anular.
O que Lula fará é criar uma "anulação" de fachada. Para não desagradar seus novos aliados, Lula fará uma solução salomônica: manterá formalmente as estatais, mas elas serão administradas por empresas privadas, em tese sob a vigilância de uma agência reguladora respectiva.
Essa medida, de uma aparente parceria público-privada, se chama "concessão", uma privatização disfarçada que vimos ser adotada no governo Dilma Rousseff sob a batuta do ministro da Fazenda Joaquim Levy, discípulo do neoliberal Milton Friedman.
Milton Friedman é autor da conhecida frase "Não existe almoço grátis".
No caso de Lula, não existe mesmo.
Para o empresariado, o que vale é a frase "Meu dinheiro, minhas regras".
Lula sinalizou isso na reunião de anteontem.
Além de falar com o empresariado e apresentar o economista Gabrial Galipoli, novo personagem da aventura neoliberal de Lula, há coisas bem delicadas para os adeptos do petista pensarem.
Primeiro. Lula se encontrou com André Esteves, banqueiro do BTG Pactual, cujo um dos fundadores foi o ministro de Jair Bolsonaro, Paulo Guedes.
Uns parênteses. A reunião com o empresariado paulista contou não só com a presença de Abílio Diniz, com quem Lula falou em outubro passado, mas também com o empresário da Riachuelo, Flávio Rocha, conhecido articulador do golpe político de 2016.
Outro empresário que participou foi Eugênio Mattar, da Localiza. Assim como Rocha, Mattar apoiou Jair Bolsonaro.
Segundo. Lula avisou que vai respeitar a permanência de Roberto Campos Neto (o nome diz muito) na presidência do Banco Central e manter a lei que deu independência para o banco estatal.
Terceiro. O Partido dos Trabalhadores afirmou que Lula terá "diálogo aberto" com os empresários, no seu governo. O empresariado se manifesta bastante tranquilo.
E Lula, apesar de insistir na sua promessa de "abrasileirar" os preços dos combustíveis, afirmou que não pretende interferir na política de preços da Petrobras ou do que restar desta.
Lula não vai fazer um projeto político de esquerda. Aquela promessa de fazer um governo "mais à esquerda" que os dois anteriores é cascata, conversa para boi dormir.
Com Lula enfatizando o tal "diálogo" com o empresariado, com a direita gurmê, seu programa de governo será prejudicado. Lula vai fazer um governo neoliberal, sim.
Ou alguém acha que Lula, com tudo isso, vai fazer um governo "de esquerda"?
Ou alguém em sã consciência vai achar que seus novos "amigos de infância", Geraldo Alckmin, Armínio Fraga, Abílio Diniz e André Esteves vão aceitar, calados e passivos, a implantação de um projeto político de esquerda?
Nem em sonhos, caros leitores!!
E não adianta os lulistas ficarem cheios de dedos em argumentações confusas que ora dizem que Lula "permanecerá fiel à esquerda", ora dizem que Lula "fará um governo mais de centro".
Criou-se até uma narrativa que supunha um Geraldo Alckmin participando de encontros com as entidades sindicais e comunidades LGBTQIA+ e que "teria ficado encantado" ao conhecer o "novo mundo" dos movimentos sociais e de trabalhadores.
Leia-se "encantado" como um pai que vê seu filhinho estreando no teatro da escola.
Tudo muito bonito. Da mesma forma que tudo parece bonito nas redes sociais com tantos lulistas sonhando ainda com o Lula do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, lembranças de um passado que, pelo jeito, nunca mais voltará.
O Lula de hoje tende a ser neoliberal. Periga do seu novo mandato não ser o terceiro de Lula, mas o terceiro de Fernando Henrique Cardoso, que, aos 91 anos, estará muito velho para encarar um novo mandato presidencial.
Comentários
Postar um comentário