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RADIALISMO ROCK ADOTAVA O MESMO MODUS OPERANDI DA ALIANÇA LULA-ALCKMIN

ACIMA, FLÁVIO ROCHA, DA RIACHUELO, MICHEL TEMER, E O CEO DA ESFERA BRASIL, JOÃO CAMARGO, TAMBÉM DONO DA "ROQUEIRA" 89 FM. ABAIXO, LULA E GERALDO ALCKMIN.

Estamos sendo tratados como trouxas e não imaginamos.

Antes mesmo das contradições severas acerca da aliança entre Lula e Geraldo Alckmin, com o petista afirmando se aproximar do mercado, desmentindo antigas posturas, tivemos o radialismo rock também se valendo de valores externos para se viabilizar financeiramente.

A recente reunião de Lula com o empresariado, há poucos dias, foi em São Paulo, na casa do empresário João Camargo, CEO do Esfera Brasil.

Camargo é muito mais do que um líder do que se conhece como "a Faria Lima", o grupo dos empresários poderosos da capital paulista que ditam as normas do mercado em todo o Brasil.

João Camargo é dono da 89 Investimentos. O nome não é coincidência.

Afinal, João herdou do pai, José Camargo (que foi político malufista durante a ditadura militar e era ligado, também, ao depois "cartola" José Maria Marin), várias rádios do complexo empresarial ancorado pela rádio 89 FM, aquela que se autoproclama "A Rádio Rock".

João também é sócio da Band News FM, juntamente com a família Saad, que na TV Bandeirantes contratou o programa Quem Não Faz Toma do Tatola - dublê de roqueiro que coordena a 89 FM - , que na Rede TV! foi o primeiro Encrenca e, na Band, virou o Perrengue.

Trata-se de um humorístico nada roqueiro que tem clara inspiração no Pânico da Pan / Pânico da Band, mas Tatola e companhia tentam renegar a influência.

Da mesma forma, a expressão "Jovem Pan com guitarras" que eu defino a 89 FM - pela linguagem, estilo de locução, mentalidade hit-parade na programação musical etc - não consegue pegar, num país em que Luciano Huck propaga a gíria "balada" (©Jovem Pan) até para seus detratores.

Paciência. Não tenho 1% da visibilidade de Luciano Huck, paixão secreta de boa parte dos internautas que alegam "odiarem" ele nas redes sociais.

A 89 FM tenta se vender como um canal de expressão da rebeldia juvenil e sua reputação é superestimada até mesmo pela imprensa roqueira com um mínimo de seriedade.

Na verdade, a 89 nunca foi, a sério, uma rádio de rock, como as verdadeiras rádios de rock foram na história.

Da programação da 89, só prestam uns dois ou três programas que podem ser chamados de roqueiros. A crítica musical só ouve esses programas e mentem quando dizem que a 89 tem a mesma qualidade em toda sua programação.

Mesmo nos festejados (pela imprensa paulista) primórdios da 89 FM, a ousadia não era tanta assim.

É uma mentira dizer que, quando surgiu, a 89 FM era Frank Zappa, Violent Femmes, New Model Army, Killing Joke, Akira S e Violeta de Outono o tempo inteiro. Eles só rolavam, praticamente, no horário noturno, onde os interesses comerciais se tornam relativamente flexíveis.

Na 89 FM de 1985-1987, fase considerada a única "quase melhor" da emissora, o grosso do seu repertório era Kid Abelha, Duran Duran, Eurythmics, Depeche Mode, Dire Straits, Tears For Fears.

Já era muito jogar "New Year's Day", "Sunday Bloody Sunday" e "Pride (In the Name of Love)" do U2 na programação normal da 89 FM, que mesmo nessa fase inicial, chamada "antirrádio", tocava mais os "sucessos".

Assim como a Rádio Cidade do Rio de Janeiro, a "irmãzinha" de causa da 89 FM, também veio com o projeto "flash rock" como meio de rotular um modelo de programação que se aproxima do formato de rádio de rock autêntica.

Em outras palavras: "flash rock" e "antirrádio" são apenas rótulos para um padrão de programação próximo do modelo original de rádio de rock que o empresariado radiofônico em geral não consegue entender direito.

Para o empresariado radiofônico, o que vale é a "Jovem Pan com guitarras": locutores engraçadinhos que "não fazem gracinhas" e ficam presos aos textos que eles até leem com voz "impecável" - desde que no padrão Emílio Surita de locução - , mas não entendem bulhufas do que é lido.

Pena que o pessoal em geral, a opinião (que se pretende) pública nas redes sociais ou mesmo na imprensa (jornalistas isentões incluídos), prefira investir no faz-de-conta.

Devem imaginar que os dois discípulos de Emílio Surita, o Zé Luís da 89 FM e o Demmy Morales da Rádio Cidade, têm como esporte fazer pega de Harley-Davidson na Via Dutra, ao som de "Born to Be Wild", a surradíssima canção do Steppenwolf.

Mas o nosso blogue não é paraíso de complacência e eu sou jornalista, não um flanelinha, a ficar passando pano por aí.

Fico com pena do jovem que acha que pode ouvir rock pesado, punk ou heavy, nas ondas da 89 FM, e canalizar sua rebeldia numa boa.

Com que cara o jovem vai ficar se perceber que o dono da 89 FM nada tem a ver com aqueles garotos rebeldes que ficam no quarto lendo quadrinhos e cultuando mulheres na Internet.

Ver que o dono daquela "rádio rock" tão festejada pela mídia é um sujeito extremamente careta e conservador será terrivelmente decepcionante.

É vergonhoso que a 89 FM ainda tenha a cara-de-pau de se vender como "rádio alternativa", uma descarada propaganda enganosa que não consegue esconder a realidade mercantilista por trás dessa farsa publicitária.

E vemos o que é esse radialismo rock da 89 FM, a primeira a jogar locução pop para comandar, sem um pingo de conhecimento de causa, um repertório roqueiro.

Graças a essa imposição da 89, a 97 Rock iniciou seu calvário quando contratou gente como o Ciro Bottini (bom locutor, mas não para o segmento rock) para competir com a emissora dos Camargo.

A partir daí, toda "rádio rock" sempre tem que ter um locutor pop, seja fofinho, seja saradão, sempre com aquele padrão de voz afetada que se ouve nas Metropolitana, Mix e, principalmente, Jovem Pan da vida.

Não há diferença entre colocar locutores "de fora" para animarem programação roqueira e políticos "de fora" para colaborar com o projeto político de Lula.

É o mesmo modus operandi. Uma nova causa sempre dependendo de quem não se identifica com ela para se tornar viável financeiramente e ganhar estabilidade existencial.

Tudo isso envolve a obsessão do mercado em colocar a viabilidade econômica acima dos princípios.

As rádios originais de rock, como 97 Rock, Fluminense, Estação Primeira e Ipanema, sucumbiram quando tentaram competir com as canastrices radiofônicas da 89 FM. Perderam.

E a 89 FM só prevaleceu porque sua programação, quase sempre meia-boca, é sustentada por um departamento comercial robusto e uma estrutura empresarial invejável.

Mas tudo isso tem seu preço. Hoje a 89 FM está mais como uma rádio ouvida por valentões e meninas neuróticas do que por um público verdadeiramente roqueiro que nunca se identificou com a emissora.

E, agora que João Camargo comandou uma reunião recente com Lula, veremos que o petista só terá os votos de neoliberais, dissidentes apoiadores do tucanato e o que restar das esquerdas identotárias que ainda sonham com o "Lulão dos sindicatos".

Prefiro ouvir rock no YouTube. E não vou votar no PT nas próximas eleições.

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