GERALDO ALCKMIN NA ÉPOCA DAS ELEIÇÕES DE 2018.
Lula queimou muita munição com o clima de já ganhou, explorando a imagem do candidato utópico de tempos distópicos e se aliando com aqueles que divergem de seu projeto político.
Tudo parecia moleza, afinal o carisma de Lula era tal que ele poderia errar que seus seguidores, em maioria, consentiriam numa boa ou, quando muito, fariam críticas leves que não comprometessem o apoio apaixonado.
Depois que as redes sociais, com as esquerdas entrando no âmbito da idiotização, promovendo Lula como um pretenso galã ou como um suposto herói fortão a derrotar o "bobalhão" do Jair Bolsonaro, agora vemos que o bolsonarismo retoma fôlego.
Embora as supostas pesquisas eleitorais indicassem isso, que Bolsonaro já está apenas a cerca de dez votos de diferença contra Lula, ainda que este fosse o favorito, não é diferente o que acontece nas redes sociais ou entre a chamada "maioria silenciosa".
Nas redes sociais, os bolsonaristas estão cada vez mais furiosos, e isso piorou quando o Supremo Tribunal Federal decretou a prisão do ídolo deles, o deputado federal Daniel Silveira.
Os bolsonaristas estão tão furiosos, além de indícios de que setores das Forças Armadas que apoiam Bolsonaro pretende fazer um golpe contra o STF e as eleições deste ano, que há um clima de apreensão nos bastidores do jogo político.
A situação está péssima e bastante delicada e perigosa, mas Lula, embora formalmente admita isso e até foi preso no período do golpe de 2016, entre 2018 e 2020, parece viver num clima de felicidade.
Lula foi à praia com sua noiva Rosângela da Silva, a Janja, e, recentemente, passou a usar um óculos transado para conquistar o público jovem. Com esse adereço, Lula apareceu ao lado de jovens humildes na comunidade de Heliópolis, aqui em São Paulo.
Lula está cometendo sérios erros em sua pré-campanha presidencial.
Entre eles, o de subestimar a gravidade do quadro distópico do Brasil de hoje - falando mais direto, a nossa realidade está muito pior - , de prometer demais para um mandato de quatro anos e se aliar com quem diverge de seu projeto político.
Lula sonha demais, quer voar alto demais aliado àqueles que lhe irão cortar as asas.
E isso tem como um dos aspectos a aliança com Geraldo Alckmin, que até agora não explicou, com suas próprias palavras e seu próprio depoimento, a suposta mudança política que adotou.
O que sabemos dessa suposta mudança vem de terceiros, dadas sem muita explicação e, quando se explica, falta a mínima consistência para que mudemos nossa forma de ver o novo parceiro de Lula.
Sem expressar autocrítica e sem dar depoimento algum - e a própria mídia progressista, que prima pelo verdadeiro jornalismo, até agora não entrevistou o ex-tucano - , Alckmin não trouxe a credibilidade necessária para que pudéssemos confiar nele.
Não adianta os jornalistas da mídia progressista chorarem, dizendo que a aceitação de Alckmin é "necessária" para derrotar Bolsonaro, garantir a democracia e a governabilidade etc etc etc.
Não adianta fazer essas súplicas, chegando a forçar a barra com o juízo de valor, alegando que se as esquerdas não aceitarem Alckmin elas estão contra os trabalhadores, a democracia e o Brasil.
Afinal, ninguém fez por onde. Cadê a entrevista da mídia progressista com Geraldo Alckmin? Cadê a oportunidade dele expressar alguma autocrítica, algum posicionamento crítico a respeito de aspectos negativos de sua trajetória?
Com isso, o apoio da sociedade moderada a Lula, tanto no lado esquerdo quanto do lado direito do espectro ideológico, despencou severamente.
Lula, que beirava aos 62% nas supostas pesquisas eleitorais, agora chega aos 41% ou 42%, enquanto Jair Bolsonaro, na casa dos 25%, cresceu e tende a encostar no seu maior rival.
Bolsonaro também está sendo mais estratégico, pois, embora seja um político incompetente, tem uma capacidade ímpar de trabalhar sua própria visibilidade e manipular a seu favor até mesmo as polêmicas, escândalos e indignações que produz com seus atos.
Lula anda recuando muito, até porque ele achava que podia fazer o que quisesse, cometendo a sua maior contradição: querer preservar um projeto de esquerda mesmo fazendo alianças com a direita moderada, porém claramente conservadora.
E a ênfase na aliança com Alckmin contribuiu para o afastamento de muitos seguidores de Lula, que migram para Ciro Gomes.
Combinando a aliança de Lula com Alckmin e a demonização precipitada da Terceira Via, o petista vê Bolsonaro crescer, mesmo de forma indireta.
Com a saída de Sérgio Moro da corrida eleitoral, boa parte de seu eleitorado migrou para Bolsonaro.
E do lado da direita, Geraldo Alckmin tornou-se a figura decepcionante para aqueles que se empolgavam com o antipetismo do então presidenciável do PSDB de 2018. Alckmin chegava a endossar toda a retórica lavajatista ao comemorar a prisão de Lula.
Os antigos fãs de Alckmin o veem hoje como um traidor, que se rendeu ao "corrupto Lula", que é o que esses direitistas moderados veem, na costumeira retórica reacionária.
As esquerdas não confiam em Alckmin, que em sua trajetória como governador de São Paulo foi um privatista neurótico, reprimiu violentamente os protestos populares e se envolvem em escândalos como os das merendas escolares e das obras do Metrô paulista.
E a direita moderada também não confia em Alckmin, pois a seu ver o ex-tucano se vendeu para a causa petista e jogou sua história política no lixo.
Diante de tudo isso, Bolsonaro sai ganhando pois, apesar de ser um político repugnante, ele consegue trabalhar sua popularidade entre seus seguidores com a habilidade de um malabarista.
Lula chega a dar uns sumiços da mídia, enquanto Bolsonaro, mesmo aparentemente agindo contra si, obtém visibilidade não "descansando" sua imagem pública de jeito algum.
E tendo Geraldo Alckmin a tiracolo, Lula acaba favorecendo, de uma forma ou de outra, a reeleição do presidente extremo-direitista. E Alckmin, sem querer querendo, acaba puxando votos para Bolsonaro, de uma forma ou de outra.
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