A grande decepção em torno de Lula é ele se aliar aos que fizeram o golpe político de 2016, o que fatalmente afetará seu projeto político.
Aparentemente, todos os caminhos agora estão abertos para Lula, e a Operação Lava Jato está sendo desmontada medida atrás de medida.
A última cartada contra Sérgio Moro foi o reconhecimento da Comissão da Organização das Nações Unidas (ONU) de que o então juiz da OLJ foi parcial nas investigações, inquéritos e condenações ao hoje presidenciável Lula.
É uma confirmação não só da inocência de Lula das inúmeras acusações de corrupção, mas também do fato de que sua prisão foi feita por motivos políticos.
Fala-se da possibilidade de Sérgio Moro ter que indenizar Lula pelos danos morais causados pela Lava Jato, entre outros prejuízos que ele causou ao Brasil, como o desmonte de empreiteiras e a paralização de muitas obras em todo o Brasil.
Até o Rio de Janeiro, Estado berço do golpe de 2016 - apesar da OLJ ser operada em Curitiba - , foi afetado, quando se desfez como um castelo de areia o projeto de um grande pólo petroquímico e industrial de Itaboraí, que iria beneficiar todo o território fluminense, através do progresso.
Ex-engenheiros e outros técnicos tiveram até que virar motoristas ou entregadores de aplicativos para sobreviver, depois do desemprego devido à fúria lavajatista.
Lula obteve vitórias jurídicas importantes, e no mesmo dia da decisão da ONU o ministro do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, rejeitou pedido de deputados federais bolsonaristas para investigar uma declaração de Lula num congresso da Central Única dos Trabalhadores (CUT).
Os deputados acusaram Lula de supostamente propor a desordem, ao reclamar da falta de pressão das esquerdas para convencer o Congresso Nacional a votar em favor do povo.
Lewandowski entendeu que a fala de Lula foi descontextualizada. Correto. Lula é pacifista, conciliador e propõe o diálogo até quando isso não lhe é vantajoso.
É como ocorre na aliança com a direita moderada, que fez Lula se tornar decepcionante.
O contexto político atual desnorteou Lula, que até 2020 mantinha sua lucidez e realismo, tendo feito grandes entrevistas enquanto estava na prisão.
O que frustrou foi quando ele subestimou a realidade distópica do Brasil e resolveu se aliar com aqueles que planejaram o golpe político de 2016 e os retrocessos políticos e abriram caminho para a ascensão de Jair Bolsonaro.
É uma pena que Lula agora tenha que se aliar com Geraldo Alckmin, que até agora está devendo, com suas próprias palavras, tirar satisfações com o povo brasileiro.
Tudo isso foi consequência de uma série de incidentes pós-Lava Jato que causaram desastres no Brasil.
Talvez se Lula tivesse podido ser candidato à Presidência da República, em 2018, não houvesse essa sina triste do petista ter que se aliar com quem diverge de seu projeto político.
Teria sido evitada a vitória eleitoral de Jair Bolsonaro. Se bem que o Brasil já teve então estragos ocorridos durante o governo de Michel Temer, que não pode ser subestimado no seu caráter maléfico.
Mesmo assim, se Lula fosse eleito em 2018, entre 2019 e este ano ele teria tido um cenário favorável para implantar as melhorias desejadas e sua base de apoio, mesmo heterogênea, teria ao menos um nível de afinidade política maior com o petista.
Lula não teria cometido os erros que comete hoje, que o colocam numa espécie de cegueira política, acreditando que, mesmo se aliando com políticos divergentes, a partir do próprio Alckmin, irá preservar e até avançar no projeto político progressista.
É mais ou menos como um galo de briga se aliando com as raposas para recuperar o galinheiro.
É com tristeza que ando criticando a forma como Lula trabalha sua campanha, cujo desespero faz ele e os seguidores ridicularizarem a Terceira Via, como uma espécie de valentonismo (bullying).
Lula não precisava disso. Sua impaciência em querer vencer de qualquer maneira o faz se aliar com forças divergentes, ridicularizar a Terceira Via e até ignorar os conselhos de seus próprios colegas do Partido dos Trabalhadores (PT), como Rui Falcão e José Genoíno.
O Lula que fala tanto em querer ouvir o empresariado e os políticos do PSDB e MDB não quer ouvir os conselhos de seus próprios companheiros para não ficar se aliando com qualquer um que lhe apertasse a sua mão.
São erros que precisam ser levados em conta. Não podemos ter uma fé cega em Lula. O que ele está fazendo hoje é uma versão piorada e mais arriscada dos riscos políticos que, em outros tempos, Getúlio Vargas, João Goulart e Dilma Rousseff assumiram.
Por motivos mais brandos se comparados com os riscos que Lula assume, João Goulart foi derrubado e se deu um golpe político de 2016.
Está certo. A Operação Lava Jato foi desmontada, Lula é inocente, e Jair Bolsonaro vive seu profundo inferno astral.
Mas Lula, ao se oferecer para o papel de "ursinho de pelúcia" dos neoliberais, corre o risco de fazer um governo desastroso, porque, no contexto pós-golpe de 2016, o tão sonhado diálogo virá cheio de conflitos e puxadas de tapetes.
Lula não vai poder realizar seu grande projeto de governo se seus maiores aliados são apóstolos do Estado Mínimo e defensores das restrições aos direitos dos trabalhadores.
E se Lula der errado no seu novo governo, o risco da extrema-direita voltar é muito grande. Lula assumiu não apenas responsabilidades sérias, mas riscos que merecem o máximo de cautela.
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