Ontem foi o Dia Mundial do Livro e vale destacar que o mercado literário brasileiro está ruim, está péssimo.
Faltam bons escritores? Não. Bons escritores existem e são muitos.
O grande problema é que eles não têm espaço. A maior parte do espaço é dado para a literatura medíocre, anestésica, que está muito distante de qualquer função mínima de trazer Saber e Conhecimento.
E há sempre algum modismo que faça com que as pessoas sejam induzidas a fugir do Saber e do Conhecimento.
Sempre surge alguma onda para manter o leitor brasileiro médio anestesiado e desviado do foco de aprimorar seu aprendizado.
Num momento, são livros sobre animais domésticos, geralmente cães ou gatos, com nomes de roqueiros ou artistas pop ou coisa parecida.
Noutro, são livros sobre vampiros estudantis que enfrentam bruxos do mal ou monstros.
Em seguida, surgem draminhas de mocinhas adolescentes que, na capa, aparecem perdidas em florestas góticas.
Noutro, são dramalhões de cavaleiros medievais em busca de algum tesouro perdido.
No auge do bolsonarismo, o mercado independente vinha com livros sobre "balística", que só se destinam a policiais e advogados ou juristas reacionários. Estranhamente, vendeu mais do que muito livro que realmente vale a pena.
Há também os diários de influenciadores digitais. E tem romances de Minecraft e outros jogos eletrônicos (games, em portinglês).
Fora os livros de religiões (sobretudo as horrendas "lindas histórias de fé e superação" que fazem apologia ao sofrimento) e de auto-ajuda de sempre, temos também os livros de supostos intelectuais administrativos, autoproclamados coaches, cuja fase recente ostentava títulos com palavrões.
Agora, o modismo, pasmem, são livros independentes de autobiografias de gente que surgiu do nada.
É aquele homem ou mulher de classe média muito querido pela vizinhança que fica lançando um livro sobre sua experiência pessoal, supostamente de "grandes lições de vida".
Sim, gente anônima que não se destacou em coisa alguma mas que se encana em escrever autobiografia, achando que fez alguma coisa na vida, supervalorizando a relativa popularidade entre as pessoas próximas em seu meio.
E não falamos em livros para colorir, nesse mercado literário que tira o espaço de quem quer realmente transmitir Saber e Conhecimento, com maiúsculas.
Sim, porque andam dizendo que "saber" e "conhecimento", que descrevo com minúsculas, é um engodo que junta ocultismo, misticismo e pseudociências.
É terrível o mercado literário brasileiro, em que se desperdiça papel com obras meramente anestésicas, que viram fogos de palha por venderem tanto na época em que são lançados, mas, passado o modismo, tornam-se itens baratos nos sebos de livros, quando ninguém mais quer comprá-los.
Livros comprometidos com Saber e Conhecimento (independente de ser ficção ou não-ficção), mesmo, só quando autores possuem grande visibilidade, tipo um Fernando Morais ou, do passado, uma Clarice Lispector ou Machado de Assis.
Ou então quando provas de concursos públicos ou o ENEM exigem. Se exige, por exemplo, Graciliano Ramos, lá está o pessoal todo comprando Vidas Secas e outras obras do renomado autor.
Mas, fora isso, a leitura de livros é apenas um mero anestesiante. E o pior que as pessoas ficam arrogantes, dizendo que "leitura é para relaxar".
Até concordo com isso, mas vamos combinar que, mesmo num momento de relaxamento, a leitura deveria ser feita levando em conta a vontade de saber ou conhecer uma nova informação, uma nova ideia.
Ficar se concentrando demais nessas ficções medievais é horrível.
Ainda mais que, no mercado independente, são escritas por gente do Leblon, do Morumbi e áreas nobres similares, que, sem intimidade com a Idade Média, "copidescam" seriados do gênero dos canais HBO, Netflix e, agora, o que está na moda, o Hallmark.
"Criam" personagens parecidos que são um punhado de Game of Thrones, outro punhado de Walking Dead, outro de Breaking Bad, outro de Bridgerton e montam um engodo literário que mistura zumbis, cavaleiros medievais, princesas tipo Rapunzel, magos baixinhos e dragões escondidos nas cavernas.
Assim não há como fazer da leitura uma verdadeira viagem rumo ao Conhecimento, até porque este princípio é motivo de fuga de muitos leitores, que preferem anestesiar seus cérebros na zona de conforto da mesmice literária.
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