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LULA E A CONFUSÃO ENTRE CONTRADIÇÃO E EQUILÍBRIO

LULA SINALIZA QUE VAI GOVERNAR MESMO PARA O MERCADO.

A semana anterior terminou com a desistência de Sérgio Moro em concorrer à Presidência da República.

Moro até tentou desconversar, dizendo que "em nada desistiu", mas depois de se filiar ao União Brasil, o partido confirmou que o ex-juiz da Operação Lava Jato renunciou à corrida presidencial.

As esquerdas médias festejaram. Com certo exagero, houve quem achasse que o ciclo do golpe político de 2016 chegou ao fim.

Aparentemente, além das anulações jurídicas de ações da Lava Jato contra Lula, começam a haver anulações de ações do golpe contra Dilma Rousseff.

Enquanto isso, a Justiça começa a investigar irregularidades na mudança do domicílio eleitoral de Sérgio Moro e sua Rosângela Moro do Paraná para São Paulo.

De repente, entramos no paraíso, temporariamente adiado pela tragédia da cantora Marília Mendonça.

O jornalista cultural isentão, direto da Isento Press, diz que o Brasil está "culturalmente próspero" porque há "muitas vozes e muitas narrativas", além de "muita produtividade" nas redes sociais.

De olho naquele disco perdido da cantora de jazz que foi achado e relançado por uma gravadora japonesa, o crítico musical isentão passa pano nos bregas mais antigos (da década de 1990 para trás), agora conhecidos como "brega-vintage". O crítico quer ganhar dinheiro para adquirir o disco perdido.

Neste cenário de "perfeição da imperfeição", em que os quenuncas tratam o erro humano como motivo de orgulho, confunde-se contradição com equilíbrio.

Com isso, vemos Lula, o "Lulão fortão e invencível" do imaginário das esquerdas médias, sendo endeusado num clima de euforia cega.

Por baixo dos panos - e das passagens de panos - , o que se vê é um Lula domesticado.

Lula vai na sede nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT) defender uma maior mobilização dos trabalhadores, além de defender uma maioria "progressista" no Congresso Nacional e prometer a recuperação dos direitos dos trabalhadores.

Depois, Lula vai se reunir com empresários de São Paulo, entrar em contato com o banqueiro do BTG Pactual (fundado por Paulo Guedes, ministro de Bolsonaro), André Esteves, e garantir que, sobre a reforma trabalhista, "não vai desfazer com tudo que foi feito".

A reunião foi na casa de João Camargo, presidente do grupo empresarial Esfera Brasil, que detém alguns veículos da grande mídia, como a "rádio alternativa" (sic) 89 FM. No encontro, também estavam presentes Flávio Rocha, da Riachuelo, e Eugênio Mattar, da Localiza, que apoiaram Bolsonaro.

Lula também apresentou o novo banqueiro Gabriel Galipoli, membro da sua assessoria direta e ex-dono do Banco Fator, que será um dos novos agentes econômicos de sua equipe de governo, intermediando Lula e o setor financeiro.

Sobre o teto de gastos, Lula também sinalizou que vai "fazer uma abertura", o que indica que também não haverá rompimento com esta medida.

Sobre as privatizações, Lula não falou para o "mercado", mas quando fala aos trabalhadores e à sociedade, disse que irá "reverter" as vendas da Eletrobras, dos Correios e da Petrobras, que "será recuperada" e "terá os preços dos combustíveis abrasileirados".

Só que a BR Distribuidora acabou. E a Vibra Energia só mantém, por questões contratuais de copyright, as marcas "Petrobras" e "BR", que podem desaparecer aos poucos.

Sobre a aliança com Geraldo Alckmin, agora no PSB, Lula afirma que "petistas e tucanos sempre estiveram em defesa da democracia" e que "seus debates eram de acordo com os princípios democráticos".

Lula comete contradições, e não abre o jogo. 

Não tem autocrítica, não está sendo estratégico nem competitivo.

E com as posturas que está assumindo, mesmo discretamente, Lula está desmentindo o que ele sempre declarou: "que não vai governar para o mercado".

Na reunião de ontem, em São Paulo, Lula sinalizou que vai governar, sim, para o mercado. E entrou em contato com empresários e banqueiros que se comprometem, sim, com seus interesses neoliberais.

Qualquer alegação de que Lula não fará um governo neoliberal é fantasiosa e os argumentos a respeito, muito vagos e sentimentais.

Para o empresariado, o seu princípio maior é "meu dinheiro, minhas regras".

Vai sobrar pouco de social no governo Lula. Só as medidas de grife (Bolsa Família, Fome Zero, etc).

De resto, Lula governará justamente para aqueles que torceram e agiram, poucos anos atrás, contra ele.

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