LULA NA UERJ, NO RIO DE JANEIRO.
Com Lula, tudo é festa, apesar desse Brasil distópico.
Mesmo quando Lula admite, no discurso, que o Brasil de hoje está pior do que há vinte anos, ele fala mais de uma obra feita por Jair Bolsonaro do que de uma realidade complexa que vem das estruturas sociais viciadas desde o período colonial.
Lula não faz um discurso realista, do tipo: "farei tudo que for possível para reconstruir o país, embora seja difícil vivermos tempos gloriosos".
Em vez disso, ele, apesar de falar em "reconstrução do Brasil", apela para a fantasia: "o Brasil vai viver a melhor fase de toda a História", "vamos fazer o Brasil sorrir de novo", "vamos devolver aos brasileiros a vontade de sonhar".
Não temos contexto para isso. O golpe político de 2016 tem seis anos, o que, em termos historiográficos, foi ainda há pouco.
Essa psicologia do sonho e da fantasia é o tom da campanha de Lula e não foi exceção em sua passagem no Rio de Janeiro.
Anteontem, ele realizou várias visitas e fez palestras na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), para uma plateia lotada no Encontro Internacional Democracia e Igualdade, que também contou com a participação de outros líderes latinoamericanos.
Ele visitou instituições como a Federação Única dos Trabalhadores e a Favela Orgânica, além de um encontro com artistas comandado por Ludmilla.
Lula encerrou a visita ao RJ comparecendo a um evento de samba na Mangueira, com nomes como Martinho da Vila, Paulinho da Viola, Chico Buarque e Gal Costa, entre muitos outros.
O Rio de Janeiro é um caso curioso. Região predominantemente conservadora, o Grande Rio e a capital fluminense em particular são idealizados pelas esquerdas como se fosse um reduto seu.
No mundo ideal, o Rio de Janeiro é uma "ilha esquerdista" justificada por paisagens e símbolos como as praias da Zona Sul, o Maracanã, o Carnaval e o famoso clima quente de verão.
Como um repertório simbólico como este, que puxa a "alegria do povo brasileiro", pode ser considerado fascista?
Simples. É que, no mundo real, com reacionários que vão dos sociopatas da Internet aos milicianos que controlam favelas, o Rio de Janeiro é tão conservador quanto o interior de Santa Catarina.
O Rio de Janeiro, com sua mania de pragmatismo - aquela ilusão de "piorar hoje para melhorar amanhã" - , degradou sua cultura e sua vida urbana, enquanto alimentava as vaidades arrogantes de internautas reaças que defendiam ônibus padronizados, mulheres-frutas e rádios pseudo-roqueiras.
Daí que isso forneceu condições para o golpe político de 2016. Curitiba pode ter sido o quartel-general do golpe contra Dilma Rousseff, mas foi o Rio de Janeiro o seu laboratório e sua arena.
E aí vemos o quanto o Brasil vive um período distópico que a classe média, a "elite do atraso" que sempre quis bancar a "boa sociedade", a monopolizar as narrativas na opinião pública, quer botar debaixo do tapete.
A "NOVA CRACOLÂNCIA" NA PRAÇA PRINCESA ISABEL, EM SÃO PAULO, EM FOTO MINHA.
Nas redes sociais, no culturalismo dominante e popularesco de hoje, no mercado literário anestético que temos, na TV aberta e nos canais de assinatura, seja TV fechada ou streaming, a situação está uma beleza.
Jornalistas culturais isentões mostram a maravilha de um país que quer entrar no Paraíso mesmo com todas suas imperfeições.
É o Brasil dos "quenuncas", que passam pano nos próprios defeitos pessoais, transformando erro humano em motivo de orgulho.
E aí vemos que não dá para falar em "esperança". Seria ótimo, mas temos que abaixar a cabeça, ter muita calma neste momento e ver que a situação está mais para tragédia do que para alguma melhoria real.
Passando ontem pela Praça Princesa Isabel, aqui em São Paulo, vejo a "nova cracolândia" que se tornou o local, já um reduto de miséria extrema há um bom tempo.
Aquela miséria não cabe no Brasil-Instagram, o "reino da fantasia", um "mundo" onde se insiste em fazer crer que o Brasil está cultural e socialmente próspero.
No lado dos lulistas, a desistência de Sérgio Moro à candidatura à Presidência da República causou euforia e fortaleceu o clima de "já ganhou" dos petistas. João Dória Jr. quase fez o mesmo, mas manteve-se candidato ao Governo Federal.
Sérgio Moro tornou-se um dos poucos a serem responsabilizados pelo golpe de 2016, a "molecada" que também inclui Janaína Paschoal, Kim Kataguiri, Fernando Holiday, Deltan Dallagnol etc.
Já os verdadeiros mentores do golpe de 2016, os políticos liberais do PSDB e MDB, agora viraram "amiguinhos" do Lula, e no momento brincam de ser de esquerda.
É gente que fica até feliz com a credulidade de Lula, que recorre a esses golpistas "em nome da democracia". Os golpistas de 2016, dessa forma, devem achar fácil puxar o tapete de Lula assim que ele retomar o Executivo federal.
A coisa não está fácil, apesar de tanta fantasia nas redes sociais.
É sonho demais e nenhuma realidade. "Realidade", só o Big Brother Brasil.
O Brasil tem que aprender muito a ser Brasil.
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