Com a posse do governo Temer, dando fim a 13 anos de governos do PT, o Brasil entrou num clima estranho.
Os anti-petistas pareciam alegres e tranquilos, mas envergonhados.
Soam como moleques que teimaram em apedrejar a casa de um vizinho incômodo.
Fugiram e mudam de assunto, como se nada tivessem feito.
Ontem ninguém foi exaltar o governo Temer, o alívio foi muito mais pela saída do PT do que pela entrada de um governo que todos têm vergonha em defender.
E o Michel Temer que estava medroso na Rio 2016 agiu com arrogância no seu discurso de posse.
Temer tomou posse sob o respaldo minguado de 428 votos, 367 da Câmara dos Deputados, 61 do Senado Federal.
428 votos que acham que valem mais do que 54,5 milhões de votos de Dilma Rousseff.
Temer ainda encampa um projeto político que seria reprovado pela consulta das urnas.
E que nem o FMI, ultraconservador e ultraliberal, recomenda.
Temer apelou para as pessoas desmentirem que o governo dele é golpista.
Quer dar a impressão de que seu governo está de acordo com a normalidade constitucional.
Sua arrogância está em dizer que não aceita desaforos e se recusa a dizer que seu governo surgiu de um golpe.
"Golpista é você (cidadão brasileiro) que está contra a Constituição", disse Temer, como se ele fosse respeitar rigorosamente a Constituição Federal.
Ele vai mexer nos direitos sociais. Diz que não, mas pretende alterar itens preciosos, cortando direitos da população.
É isso que está por trás de seus projetos para a terceirização, flexibilização e cortes de gastos sociais.
Michel Temer anda mentindo o tempo todo, dizendo que vai manter os investimentos sociais e os direitos dos trabalhadores.
Diz que a flexibilização das relações de trabalho vai eliminar a burocracia nos acordos trabalhistas.
O problema é que o fim da intermediação da lei nas negociações trabalhistas vai ser como a negociação do surfista com o tubarão.
Sabe-se que prevalecerão os interesses patronais.
Novos pelegos poderão surgir, porque o patrão vai pagar um pouco mais para um sindicalista para ele aceitar justamente os magros acordos para pagar menos os outros trabalhadores.
O problema de Temer em renegar o golpe é que ele terá que tirar satisfações com o mundo inteiro.
Não temos a pequenez midiática de 1965, quando as informações eram menos instantâneas, não havia o contraponto da Internet e o mundo foi mais tolerante com os ditadores brasileiros.
A coisa não é tão simples como o aliado Geraldo Alckmin reprimir protestos anti-Temer na capital paulista.
Alckmin usa a força e pode dispersar manifestações com isso, mas sua atitude repercute muito mal.
Além disso, gente de alta competência em diversas atividades, com argumentos consistentes, afirmam que o governo Temer é golpista.
Do jurista Celso Bandeira de Melo à atriz Sônia Braga, passando por muitos advogados, jornalistas, sociólogos, artistas e até mesmo correspondentes estrangeiros, há explicações coerentes de que o governo Temer nasceu num golpe.
Quando Temer desmente o golpe, usa desculpas vagas, argumentos frouxos, não convence.
Quando os opositores de Temer dizem que o governo é golpe, apresentam uma série de justificativas para isso.
É uma questão de argumentos lógicos, o que é, portanto, uma forma de esclarecimento.
Temer, portanto, não precisa se preocupar da falta de explicação de seus opositores.
Hoje Temer está na China e o presidente interino agora é Rodrigo Maia.
Enquanto isso, a "turma do Temer" tenta "limpar a barra".
Romero Jucá, "derrubado" por conversas gravadas discutindo esquemas de corrupção, foi escolhido presidente do PMDB.
Edison Lobão, ex-ministro de governos petistas enrolado em corrupção, também teve um dos três inquéritos arquivado pelo generoso STF.
Aécio Neves, com várias acusações sérias de corrupção, está livre como um passarinho, ou melhor, como um tucano voando solto pela floresta.
São tempos bastante sombrios e isso dá medo.
Afinal, é um governo temeroso que só governará para as elites.
É, portanto, um verdadeiro pesadelo político.
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