No seu discurso em Brasília, hoje, o presidente Michel Temer tentou acalmar os ânimos dizendo que "não é idiota para restringir o direito dos trabalhadores, acabar com a saúde e acabar com a educação".
Temer reafirmou seu desmentimento de que os trabalhadores teriam carga horária aumentada para 12 horas por cada dia útil, como havia sido espalhado pelo ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira.
Ele tentou explicar que as reformas trabalhistas "estão em debate" e que as novas regras iriam incluir "contratos por produtividade" e "trabalhar apenas quatro dias por semana, folgando outros três".
Temer tenta mininizar as coisas e também dar a impressão de que sua pauta "não é reacionária".
"É preciso combatê-los e vou combatê-los", acrescentou o presidente, sobre aquilo que ele define como "boatos das redes sociais", que definem seu projeto político como retrógrado.
Mas é o mesmo papo de governos conservadores que, em crise, se passam por progressistas, seja por fingimento ou por sobrevivência política.
O problema é que o governo dele nem de longe é confiável.
Ele só tem a legitimidade de 428 votos, 367 da Câmara dos Deputados, 61 do Senado Federal.
Não há como argumentar que Temer tem os mesmos 54,5 milhões de votos da antecessora Dilma Rousseff, da qual foi vice-presidente.
Ele foi apenas um detalhe, em 2014 era tão insosso que saiu "apagado" da campanha.
Temer governa apenas para os 428 parlamentares que lhe abriram caminho e para o empresariado que defende sempre projetos neoliberais no governo republicano.
Ele defende um projeto político conservador.
Ele não vai defender ideias progressistas, mesmo que faça todo o esforço para dar a impressão que sim.
Sua mentalidade é outra, sua equipe é outra, e seus ministros já sinalizaram defender retrocessos e não progressos.
Vide o ministro da Educação, José Mendonça Filho, que acolheu o projeto medieval da Escola Sem Partido, e o do Trabalho, Ronaldo Nogueira, que cogitou carga horária de "até 12 horas".
Até porque existe um clima revanchista, nos bastidores, do governo Temer querer desfazer todas as marcas deixadas pelo Partido dos Trabalhadores.
É a velha coisa de desfazer o que o rival havia feito. Mas, muito mais do que isso, é obedecer a pauta do empresariado que patrocinou a derrubada de Dilma e planeja o banimento de Lula para 2018.
O empresariado vai querer a sua parcela de desejos atendidos. De preferência, a maior possível.
Temer já sinalizou que sua ênfase nas políticas econômicas será a iniciativa privada.
Por mais que ele fale em diálogo entre patrões e empregados, seu projeto político sinaliza sempre para a preferência dos interesses empresariais.
É a mentalidade do governo Temer, e a lógica do PMDB é essa: desmentir retrocessos, mas aplicá-los na surdina.
Daí o caráter pouco confiável das declarações de Temer.
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