O Michel Temer que corre assustado dos que o recebem com vaias não é um estadista.
O Michel Temer que discursa na ONU também não pode ser, porque o mesmo que posa de corajoso diante de governantes de outras nações é capaz de fugir da própria casa se ver gente vaiando na entrada.
Temer chegou ao poder de forma ilícita, através de investigações contra Dilma Rousseff sem provas, mas "com muita convicção".
O "corajoso" Temer da ONU também quer fugir do deputado cassado Eduardo Cunha, que o ajudou a chegar ao governo de hoje, mas pouco recebeu em troca.
Botar representantes de Cunha aqui ou ali nos órgãos de administração direta ou indireta, como Laerte Rimoli na EBC, não significou muito para o hoje "homem-bomba".
Cunha queria, por exemplo, que Rogério Rosso (PSD-DF) presidisse a Câmara dos Deputados.
Temer não moveu um lobby para atender ao pedido de Cunha e deixou Rodrigo Maia (DEM-RJ) ser eleito para o cargo.
Cunha quer pegar Temer e Temer está, com a licença do trocadilho, temendo o "homem-bomba".
O medroso Temer, no entanto, sempre arruma um ambiente que favorece seu teatro.
Na abertura da Assembleia Geral da ONU, Temer simulou um discurso de estadista.
Disse que chegou ao poder "dentro da normalidade constitucional".
Alguns países latino-americanos (Equador, Costa Rica, Bolívia, Venezuela, Cuba e Nicarágua), vários deles notoriamente hostilizados pelo esquerdismo, tiveram suas delegações reagindo ao discurso de Temer abandonando suas bancadas assim que o temeroso governante chegou ao palanque.
No seu discurso, provavelmente escrito por um ghost writer, Temer tenta tranquilizar o mundo diante de sua postura "democrática".
"Queremos para o mundo, Senhor Presidente (da ONU), o que queremos para o Brasil: paz, desenvolvimento sustentável e respeito aos direitos humanos. Esses são os valores e aspirações de nossa sociedade. Esses são os valores e orientações que também nos orientam no plano internacional", disse Temer.
Ele ainda acrescentou: "Queremos um mundo em que o direito prevaleça sobre a força", como se esquecesse o que o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, gosta de fazer contra os jovens que pacificamente protestam contra o governo temeroso.
Há ainda outros trechos:
"Nosso olhar deve voltar-se, também, para as minorias e outros segmentos mais vulneráveis de nossa sociedade.
É o que temos feito no Brasil, com programas de transferência de renda e de acesso à habitação e à educação, inclusive por meio de financiamento a estudantes de famílias pobres. Ou com a defesa da igualdade de gênero, prevista expressamente na nossa Constituição. Cumpre a todos nós garantir o direito de todos".
Ou então: "O Brasil é obra de imigrantes, homens e mulheres de todos os continentes. Repudiamos todas as formas de racismo, xenofobia e outras manifestações de intolerância".
Falar é fácil, mas a agenda política e sócioeconômica que cerca o governo Temer e sua "equipe de notáveis" revela justamente o contrário.
Temer ainda disse que seu governo é "legítimo":
"O Brasil acaba de atravessar processo longo e complexo, regrado e conduzido pelo Congresso Nacional e pela Suprema Corte brasileira, que culminou em um impedimento. Tudo transcorreu, devo ressaltar, dentro do mais absoluto respeito constitucional".
Esse "processo longo e complexo" se define com cinco letras: G-O-L-P-E.
Afinal, tivemos um Congresso Nacional cheio de políticos indiciados ou réus por corrupção e outros crimes graves, um Judiciário e um Ministério Público partidarizados e tendenciosos.
Eles foram apoiados pelo que Temer definiu, no discurso, como "imprensa inteiramente livre".
Leia-se Globo, Folha, Estadão, Veja, Jovem Pan, Band, Isto É e o que vier de solidário a esse governo da plutocracia.
Segundo um instituto de pesquisa, a mexicana Consulta Mitofsky, Temer tem apenas 14% de aprovação, sendo o segundo pior presidente em avaliação no continente americano.
Só perde em avaliação baixa para Luís Guillermo Solís, da Costa Rica, com 10%.
A grande mídia e a sociedade conservadora tentam consolidar o governo temeroso.
Há até o uso sutil do lema "rouba mas faz", em alusão à presença de corruptos na equipe de governo (incluindo o próprio Temer, enquadrado até na Lava Jato e condenado a não concorrer a cargos eletivos por oito anos).
Enquanto isso, a plutocracia tenta minimizar os protestos anti-Temer e deixar vencê-los pelo cansaço.
José Serra, arrogante, disse que os protestos contra Temer diante da sede da ONU tiveram "impacto zero".
O jeito é as pessoas continuarem protestando e sendo mais criativas nos protestos.
Como o discreto guitarrista da banda Nação Zumbi (fundada pelo saudoso Chico Science), Lúcio Maia, mostrando a faixa "Fora Temer".
Agora é não deixar mais o "Fora Temer" ficar banal e inócuo.
Até porque o temeroso presidente sabe muito bem dos protestos e reage com indiferença.
O jeito é arrumar outros meios de pressão, antes que seja tarde demais.
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