O cenário político brasileiro é complexo.
O julgamento que cassou o mandato do deputado Eduardo Cunha pode revelar um grande impasse.
Afinal, Eduardo Cunha foi um dos artífices do impeachment e agora parece ter sido abandonado pelo presidente Michel Temer e seus aliados, que o então presidente da Câmara dos Deputados ajudou a conquistar o poder.
Esperto, Cunha agora diz que a condenação explica a tese de golpe atribuída ao impeachment.
Autor das "pautas-bombas" e co-autor da "Ponte para o Futuro", como é conhecido o Plano Temer (o outro autor é Aécio Neves, através de seu programa presidencial de 2014), Cunha, agora, reclama que o programa de governo de Temer fugiu o projeto político da titular Dilma Rousseff.
Vejam só que coisa.
Foi o projeto político de Dilma Rousseff que fez a plutocracia pedir o impeachment e Temer, ao assumir o poder como interino, teve apetite guloso em desfazer todas as marcas políticas da antecessora.
Cunha colaborou para isso e agora critica o que foi feito.
É o popular "cuspir no prato em que comeu".
Agora ele fala em golpe e pretende fazer delação premiada. Consta-se que ele já tem um dossiê em andamento para falar das "recordações dos amigos".
O que ocorrerá depois?
Há vários enigmas em torno da cassação de Eduardo Cunha.
A grande mídia chegou a defendê-lo como "símbolo da moralidade" e como contraponto à presidenta Dilma Rousseff, hostilizada da maneira que conhecemos.
Depois o "precioso anel" passou a ficar apertado demais para os dedos do baronato midiático.
Eduardo Cunha agora é alvo de uma torcida midiática que comemorou a cassação.
O motivo é até simplório.
Com todas as denúncias pesando sobre ele e até sua família, com empresas-fantasmas, cumplicidade da esposa Cláudia Cruz e tudo, Cunha só foi para o julgamento porque mentiu ao declarar que não tinha contas bancárias na Suíça, dado desmentido por provas documentais.
Há também duas teses controversas sobre a cassação de Cunha.
Uma, que a cassação é o fim da decadente carreira do parlamentar.
Outra, que a cassação teria sido apenas uma manobra para Cunha continuar poderoso, mas agindo nos bastidores.
Falou-se que os aliados de Cunha iriam salvar pedindo apenas a suspensão, e não a cassação, do mandato, ou se ausentando na votação final.
Ontem foi o começo do processo, que inclui julgamento e falas da defesa e da acusação.
O que se fala é que, após a cassação, ele poderá fazer delação premiada.
E aí poderá comprometer os políticos do seu partido, PMDB.
Até Michel Temer pode estar com a "batata assando".
O cenário político pós-impeachment está muito mais caótico do que se imagina.
Tudo está imprevisível e o Brasil, desgovernado, sofre de insegurança jurídica, política e institucional crônica.
Não se sabe o que vai ocorrer, mas é certo que mais cabeças irão rolar, e não são do PT.
É esperar e ver.
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