As reformas do governo de Michel Temer só serão implantadas para valer em 2017.
Hoje o ano político praticamente se encerrou, a casa está bagunçada, não há como botar a tal "ponte" para funcionar.
E, além disso, os projetos de reformas prometidos podem ser implantados por um sucessor eleito indiretamente.
Afinal, Temer é um condenado político e investigado pelo STF por irregularidades na chapa eleitoral com Dilma Rousseff.
Se for comprovada oficialmente a participação dele nas irregularidades de campanha, Temer será afastado do poder.
E, pelo rumo das investigações, ainda que pela complexidade do processo, mesmo assim os ventos soprarão em vantagem tendenciosa.
Tudo indica que, se Temer for afastado, seu sucessor será escolhido pela via indireta, por parlamentares do Congresso Nacional.
Mas aí a plutocracia poderá escolher um tucano para levar adiante as reformas trabalhistas.
Embora com um "sotaque" próximo do PSDB e um pouco afastado da ala radical do PMDB (como o carioca, famoso pelo modus operandi autoritário).
Talvez mais próximo do programa eleitoral de Aécio Neves para 2014 do que das "pautas-bombas" de Eduardo Cunha.
E aí entra a reforma previdenciária, que pretende adotar como idade mínima a de 65 anos de idade.
Mas haverá mecanismos jurídicos que farão com que, dependendo do caso, a aposentadoria possa ocorrer mais tarde.
Isso é muito mal.
Numa época em que idosos e pessoas de meia-idade vivem numa crise existencial, em que uma grande maioria de grisalhos não têm a qualidade vivencial das gerações anteriores, seria necessário aposentar-se aos 60 anos para reaprender a vida.
Entre os 45 e 60 anos, se perde a intimidade com o lazer, a espontaneidade com a vida e a humildade de aprender e conhecer coisas novas.
Salvo exceções honrosas e admiráveis, a maioria dos coroas e idosos de hoje têm mais que aprender com a vida e as transformações bem mais complexas do que há 50, 60 anos atrás.
Antes idosos e pessoas de meia-idade tinham uma estabilidade maior que os dispensava de mudar seus comportamentos e avaliações da vida de maneira drástica.
Hoje um homem de meia-idade que queria ser "idoso demais" aos 50 anos tem que cair na real aos 60, "rejuvenescer um pouco" e ir para os shows de Paulo Ricardo e pôr um CD da Legião Urbana em seu carro.
Os sessentões de hoje estão mais para Frank Black do que para Frank Sinatra, mais para Lollapalooza do que dos bailes de gala do Copacabana Palace.
Precisam pendurar, em muitas ocasiões de lazer, seus paletós e os dolorosos sapatos chiques de saltos duros, vendo o ridículo de parecer "elegante demais" na marra.
Falo dos sessentões de classe média alta para cima.
Já nos das classes populares, que trabalham mais e se desgastam mais, o aprendizado da vida poderia ser de outra maneira, aproveitando o lazer de forma mais relaxante e proveitosa para a mente.
A aposentadoria seria uma forma de viver o que o jornalista Paul Lafargue (1842-1911), genro de Karl Marx, definia, para o horror dos moralistas de direita, como o "direito à preguiça".
Lafargue, na verdade, procurava mostrar as vantagens do ócio, complementando o trabalho do sogro nos questionamentos da alienação no trabalho.
Se Marx descrevia o trabalho exaustivo e opressivo e os baixos benefícios obtidos pelos trabalhadores, Lafargue questionava a rejeição do lazer como forma de aprimoramento pessoal.
Em épocas de reacionarismo político ferrenho e agressivo, é desaconselhável citar Marx, e, quanto mais, seu genro "vagabundo".
Só que mesmo os empresários workaholics têm que rever os seus valores, pressionados pelas transformações sociais de hoje.
A maioria dos empresários aparece mais vezes usando camisetas, bermudas e tênis, escrevem mensagens nas redes sociais com a linguagem de estudantes universitários, ouvem músicas mais joviais e já não falam tanto de política em festas sociais (granfino falando de política é um desastre).
Precisam alternar uma festa de gala para cada três ou cinco convescotes dos mais animados.
Precisam mostrar que não são necessariamente cultos, mas descontraídos, perdendo o vínculo monótono dos paletós, camisas de colarinho e sapatos de couro.
Isso não os fará mais humanos, porque a ganância financeira, por exemplo, continua de pé. Mas mostra o quanto os homens de negócios, e os profissionais liberais que vão na carona, precisam sair do ranço dos escritórios, consultórios e eventos formais.
Ver a vida não como uma extensão dos negócios.
E, seguindo a tendência geral dos sessentões de hoje, independente de status econômico, eles falam muito mais dos filhos do que dos pais já geralmente falecidos.
Talvez necessitassem da "preguiça" lafargueana para repensar a vida e trazer a experiência da juventude para dialogar com a velhice, não como etapas diferentes e hostis entre si, mas como etapas integradas e quase unificadas.
A aposentadoria dos 55 anos para mulheres e 60 anos para os homens seria uma chance para repensar a vida e fazer renascer a juventude espiritual que aliviaria e animaria as consciências humanas.
Com a reforma previdenciária, não haverá energias para repensar a vida, diante do retardamento do fim da vida profissional.
A terceira idade ficará ainda mais difícil, mais dolorosa e sem sabedoria, como a maioria dos idosos e "coroas" que haviam sido jovens nos tempos da ditadura militar.
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