HÁ UMA COMPREENSÃO ERRADA DO QUE É CULTURA DE QUALIDADE.
Um grande problema das esquerdas, sem dúvida alguma, é uma visão maniqueísta da cultura.
De um lado, a "alta cultura", das elites aristocráticas, da verborragia, do eruditismo extremado.
Dos jantares formais, das exposições chiques de artes plásticas em que se expõem mais os convidados do que as obras em si, das mostras de móveis, das festas de galas incessantes e sucessivas.
É tanta formalidade que cansa qualquer um e faz muito coroa granfino ir direto para o hospital fazer fisioterapia e colocar marca-passo, de tanto andar para conversar com outros granfinos, em pé, em festas de gala realizadas uma atrás da outra.
De outro lado, a "baixa cultura", no qual o povo pobre é associado aos piores valores sociais.
A ideia que se tem é que, neste segundo caso, temos que aceitar o povo pobre da forma que é.
Confunde-se essa situação degradante com "pureza", "inocência" e "naturalidade".
Imaginar que rejeitar que o povo pobre fique nessa imagem degradante é "fascista" é muito grave.
O lobby de intelectuais "bacanas" revela a prevalência dessa visão "sem preconceitos", mas bastante preconceituosa.
Temos primeiro que aceitar uma imagem do povo pobre que é construída pela sociedade elitista.
O pobre imbecilizado, resignado com sua pobreza e ignorância, expressando suas piores qualidades.
Essa aceitação, que tem o rótulo de "cultura das periferias", um termo aliás tirado do tucano Fernando Henrique Cardoso, nada tem de progressista.
É uma grande farsa que entra como pegadinha nas agendas de esquerda.
Aceita-se uma imagem pejorativa do povo pobre, difundida por ídolos musicais e subcelebridades que aparecem nas emissoras de rádio e TV, sob a desculpa do "combate ao preconceito" e da "inclusão social".
Depois, diante dos problemas apresentados por essa imagem pejorativa, as elites acadêmicas agem em socorro, "aprimorando" os "representantes do povão" no entretenimento midiático.
Dão banho de loja, mostram uns macetes mais "transados" para o ídolo popularesco de ocasião, dão uma boa cosmética visual, ideológica, cultural, tecnológica e publicitária.
Aí, pronto, ídolos associados ao grotesco mais explícito estão "culturalmente mais digeríveis".
Isso mostra uma situação delicada.
Uma visão que os "sem preconceitos" demonstram ser cruelmente preconceituosa.
Mesmo nas esquerdas, há uma visão elitista que diz que o povo pobre é incapaz de ter vontade própria.
A "sua" cultura não lhe é própria, mas uma colcha de retalhos da cultura alheia transmitida por TVs e rádios que, mesmo ditas "populares", são controladas por grupos oligárquicos, muitos bem ricos.
O povo "não" tem vontade própria, "não" pode ter decisão própria, é "muito ingênuo" e, por isso, deve permanecer no seu "ativismo" rebolando o "sucesso do momento" em alguma casa noturna de subúrbio ou zona rural.
Sim, há gente de esquerda com essa visão bastante cruel.
De vez em quando, uma Hildegard Angel surta e reivindica que não haja mais ônibus ligando a Zona Norte à Zona Sul.
Na Bahia, a professora universitária Malu Fontes comentou em 2008, sobre o sucesso do arrocha: "é o que o povo sabe fazer".
Típico comentário de madames aristocratas que não querem melhorias culturais.
As elites autoritárias gostam da chamada "alta cultura"? Sim, é verdade.
Mas se superestima esse papel como se até os vigorosos sambas dos morros fossem agora um patrimônio exclusivo das elites do Leblon.
O etnocentrismo de muitos intelectuais, até interessantes quando fazem críticas à Rede Globo, vem à tona quando há antropólogos que pensam que os jovens das favelas só ouvem "funk" e hip hop.
Há muito preconceito nessa aceitação complacente ao povo pobre.
E que deixa muitos intelectuais num impasse mal resolvido, que é compreensível quando esses intelectuais agem de boa-fé.
Como, por exemplo, acreditar que as mulheres-objetos da mídia do entretenimento são "feministas" só porque, aparentemente, não conseguem ter namorados.
Mas há também quem age de má-fé, achando que o povo pobre "não está preparado" para o protagonismo social dos avanços sociais.
Daí a preocupação em manter o povo pobre "mobilizado" no consumismo dos fenômenos "populares demais".
Por outro lado, as elites mais ricas aceitam esse "popular demais" até além da conta.
Isso as esquerdas ignoram ou pensam, ingenuamente, que se trata de uma "invasão de front".
Ver ídolos popularescos abraçados aos barões de mídia, aos midiotas e aos plutocratas não é ação de guerrilha.
Não se faz guerrilha quando se estabelece uma relação com a vítima próxima da cumplicidade.
Os funqueiros não iriam fazer guerrilha no Caldeirão do Huck se, gratos ao apresentador amigo de Aécio Neves, criam um jargão tipo "é o caldeirão" como sinônimo de "é o máximo".
Além do mais, as críticas à mediocridade do "popular demais" não são críticas ao povo pobre em si.
Até porque isso é uma questão apenas de mercantilização da cultura popular, é um rebaixamento da criação artística das classes populares a mercadorias propositalmente ruins.
O que se critica, nos ídolos "populares demais", é que eles, em vez de representar a vida e os anseios das classes populares, representam, isso sim, mecanismos perversos de produção de mercadorias "artísticas" ou "comportamentais".
O ídolo "popular demais" ou brega-popularesco, em primeiro lugar, se impõe como uma mercadoria e se afirma como tal através do seu sucesso.
Depois é que ele resolve dizer que é "gente", mas aí é tarde demais.
Afinal, o lugar que ele conquistou se deu sob a condição mercadológica a que se submeteu.
Querer romper com essa própria condição que foi fator de seu sucesso é contraditório. Antes ele se recusasse a fazer o papel que assumiu para fazer sucesso.
Criticar isso não é fascismo.
É mais fascista achar que o povo pobre tem que permanecer nesse entretenimento brega sob a desculpa de "livre expressão das periferias".
Não exigir cultura de qualidade é que é, sim, fascista.
Porque é defendendo um povo resignado com sua pobreza, ignorância e atraso social que se permite uma massa de manobra fácil para o autoritarismo político e econômico.
Um grande problema das esquerdas, sem dúvida alguma, é uma visão maniqueísta da cultura.
De um lado, a "alta cultura", das elites aristocráticas, da verborragia, do eruditismo extremado.
Dos jantares formais, das exposições chiques de artes plásticas em que se expõem mais os convidados do que as obras em si, das mostras de móveis, das festas de galas incessantes e sucessivas.
É tanta formalidade que cansa qualquer um e faz muito coroa granfino ir direto para o hospital fazer fisioterapia e colocar marca-passo, de tanto andar para conversar com outros granfinos, em pé, em festas de gala realizadas uma atrás da outra.
De outro lado, a "baixa cultura", no qual o povo pobre é associado aos piores valores sociais.
A ideia que se tem é que, neste segundo caso, temos que aceitar o povo pobre da forma que é.
Confunde-se essa situação degradante com "pureza", "inocência" e "naturalidade".
Imaginar que rejeitar que o povo pobre fique nessa imagem degradante é "fascista" é muito grave.
O lobby de intelectuais "bacanas" revela a prevalência dessa visão "sem preconceitos", mas bastante preconceituosa.
Temos primeiro que aceitar uma imagem do povo pobre que é construída pela sociedade elitista.
O pobre imbecilizado, resignado com sua pobreza e ignorância, expressando suas piores qualidades.
Essa aceitação, que tem o rótulo de "cultura das periferias", um termo aliás tirado do tucano Fernando Henrique Cardoso, nada tem de progressista.
É uma grande farsa que entra como pegadinha nas agendas de esquerda.
Aceita-se uma imagem pejorativa do povo pobre, difundida por ídolos musicais e subcelebridades que aparecem nas emissoras de rádio e TV, sob a desculpa do "combate ao preconceito" e da "inclusão social".
Depois, diante dos problemas apresentados por essa imagem pejorativa, as elites acadêmicas agem em socorro, "aprimorando" os "representantes do povão" no entretenimento midiático.
Dão banho de loja, mostram uns macetes mais "transados" para o ídolo popularesco de ocasião, dão uma boa cosmética visual, ideológica, cultural, tecnológica e publicitária.
Aí, pronto, ídolos associados ao grotesco mais explícito estão "culturalmente mais digeríveis".
Isso mostra uma situação delicada.
Uma visão que os "sem preconceitos" demonstram ser cruelmente preconceituosa.
Mesmo nas esquerdas, há uma visão elitista que diz que o povo pobre é incapaz de ter vontade própria.
A "sua" cultura não lhe é própria, mas uma colcha de retalhos da cultura alheia transmitida por TVs e rádios que, mesmo ditas "populares", são controladas por grupos oligárquicos, muitos bem ricos.
O povo "não" tem vontade própria, "não" pode ter decisão própria, é "muito ingênuo" e, por isso, deve permanecer no seu "ativismo" rebolando o "sucesso do momento" em alguma casa noturna de subúrbio ou zona rural.
Sim, há gente de esquerda com essa visão bastante cruel.
De vez em quando, uma Hildegard Angel surta e reivindica que não haja mais ônibus ligando a Zona Norte à Zona Sul.
Na Bahia, a professora universitária Malu Fontes comentou em 2008, sobre o sucesso do arrocha: "é o que o povo sabe fazer".
Típico comentário de madames aristocratas que não querem melhorias culturais.
As elites autoritárias gostam da chamada "alta cultura"? Sim, é verdade.
Mas se superestima esse papel como se até os vigorosos sambas dos morros fossem agora um patrimônio exclusivo das elites do Leblon.
O etnocentrismo de muitos intelectuais, até interessantes quando fazem críticas à Rede Globo, vem à tona quando há antropólogos que pensam que os jovens das favelas só ouvem "funk" e hip hop.
Há muito preconceito nessa aceitação complacente ao povo pobre.
E que deixa muitos intelectuais num impasse mal resolvido, que é compreensível quando esses intelectuais agem de boa-fé.
Como, por exemplo, acreditar que as mulheres-objetos da mídia do entretenimento são "feministas" só porque, aparentemente, não conseguem ter namorados.
Mas há também quem age de má-fé, achando que o povo pobre "não está preparado" para o protagonismo social dos avanços sociais.
Daí a preocupação em manter o povo pobre "mobilizado" no consumismo dos fenômenos "populares demais".
Por outro lado, as elites mais ricas aceitam esse "popular demais" até além da conta.
Isso as esquerdas ignoram ou pensam, ingenuamente, que se trata de uma "invasão de front".
Ver ídolos popularescos abraçados aos barões de mídia, aos midiotas e aos plutocratas não é ação de guerrilha.
Não se faz guerrilha quando se estabelece uma relação com a vítima próxima da cumplicidade.
Os funqueiros não iriam fazer guerrilha no Caldeirão do Huck se, gratos ao apresentador amigo de Aécio Neves, criam um jargão tipo "é o caldeirão" como sinônimo de "é o máximo".
Além do mais, as críticas à mediocridade do "popular demais" não são críticas ao povo pobre em si.
Até porque isso é uma questão apenas de mercantilização da cultura popular, é um rebaixamento da criação artística das classes populares a mercadorias propositalmente ruins.
O que se critica, nos ídolos "populares demais", é que eles, em vez de representar a vida e os anseios das classes populares, representam, isso sim, mecanismos perversos de produção de mercadorias "artísticas" ou "comportamentais".
O ídolo "popular demais" ou brega-popularesco, em primeiro lugar, se impõe como uma mercadoria e se afirma como tal através do seu sucesso.
Depois é que ele resolve dizer que é "gente", mas aí é tarde demais.
Afinal, o lugar que ele conquistou se deu sob a condição mercadológica a que se submeteu.
Querer romper com essa própria condição que foi fator de seu sucesso é contraditório. Antes ele se recusasse a fazer o papel que assumiu para fazer sucesso.
Criticar isso não é fascismo.
É mais fascista achar que o povo pobre tem que permanecer nesse entretenimento brega sob a desculpa de "livre expressão das periferias".
Não exigir cultura de qualidade é que é, sim, fascista.
Porque é defendendo um povo resignado com sua pobreza, ignorância e atraso social que se permite uma massa de manobra fácil para o autoritarismo político e econômico.
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