Convenhamos. Nem todo mundo pode ser de esquerda, por causa de linhas de pensamento.
A ex-ministra da Cultura de Dilma Rousseff, presidenta com a qual rompeu depois, Marta Suplicy pode ser considerada uma traíra aos políticos progressistas.
Ela foi petista, participou do governo Dilma e depois, como senadora, votou pelo impeachment definitivo da presidenta.
Está hoje filiada ao PMDB de Michel Temer, no mesmo Estado de São Paulo do presidente da República.
Ela até indicou mulheres para a então Secretaria de Cultura do Ministério da Educação e Cultura da fase interina do governo Temer, antes dele voltar atrás e retomar o Ministério da Cultura, depois da pressão popular.
Marta Suplicy declarou, em recente entrevista à Folha de São Paulo, que nunca se colocou como "alguém à esquerda".
"Eu acho que neste mundo hoje depende do que você chama de esquerda. Tem valores tão, tão retrógrados que são chamados de esquerda que eu não me identifico em absoluto. Eu tenho valores que eu diria que são cada vez mais de inclusão das pessoas, de respeito à cidadania", disse Marta.
Pelo menos Marta Suplicy abriu o jogo.
Sob o ponto de vista esquerdista, foi a confissão de uma traição.
Mas pelo menos Marta foi muito mais sincera do que a intelectualidade "bacana".
Aquela intelectualidade que queria um Brasil mais brega, ao mesmo tempo cafona e libertino, com mais consumo e cidadania.
Os intelectuais "bacanas", que defendiam desde Waldick Soriano e Odair José até os funqueiros, sempre foram ideologicamente muito dissimulados.
Aprenderam cultura popular com as interpretações tucanas do Brasil "cordial" de Gilberto Freyre, mesclado com a Teoria da Dependência de Fernando Henrique Cardoso, e foram depois fazer proselitismo ideológico na imprensa de esquerda.
Queriam ver Francis Fukuyama de frigideira num pancadão brasileiro para depois saírem por aí achando que o "funk" (funk-uyama?) ia trazer o socialismo para o Brasil.
Aprendiam a pensar a cultura segurando na mão invisível do mercado de Adam Smith, ou nas teorias de John Maynard Keynes e outros e fingiam gostar de Celso Furtado e Jessé de Souza.
Ou então pensar a cultura sob a lógica financista de Milton Friedman e fingir que era Milton Santos.
Vejam que "qualidade de vida" os "progressistas" da intelectualidade "mais legal do país" desejava para as classes populares.
Viver em casas precárias nas favelas, permanecer na prostituição e no comércio clandestino, fazer apologia à ignorância e à violência, apreciar valores machistas etc.
Imagine ser "progressista" defendendo que as classes populares, através da cultura, sejam reduzidas a caricaturas, a grosseiros pastiches de si mesmas.
E a intelligentzia defendia isso fazendo falsos ataques à Rede Globo, que apoia abertamente essa bregalização.
E fazendo falsos elogios ao que vier de associado à causa progressista: de José Ramos Tinhorão a Jessé de Souza, passando por Emir Sader, Marilena Chauí, Rodrigo Vianna.
Querem que a MPB se reduza ao "livre-mercado" de uma provocatividade reduzida a um fim em si mesmo, como se desagradar fosse a única função de um artista (mas não é e nem é das melhores).
Neste sentido, Marta Suplicy deu um banho nos intelectuais "bacanas", que pelo menos poderiam ser mais sinceros no seu neoliberalismo cultural.
Fica feio eles falarem mal da Rede Globo mas defenderem ídolos musicais que depois viram queridinhos da famosa corporação dos irmãos Marinho.
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