Não estamos mais em 2002. Quisemos repetir 2002 em 2016 e o que se viu foi o contrário.
O projeto progressista conquistado pelo voto em 2002 foi tirado de nossas mãos, em 2016.
Mantínhamos os "brinquedos" que a direita nos dava de presente desde a ditadura militar. Acreditávamos que esses "brinquedos" eram patrimônio acima das ideologias.
Esquecemos que esses "brinquedos", uma pequena "plêiade" de ídolos musicais, comportamentais, religiosos e esportivoseram um "presente de grego" das elites reaças.
Eles brilhavam nos palcos da Rede Globo, do Programa Sílvio Santos e nas páginas de Veja e Folha de São Paulo, isso para não dizer o Estadão.
Mas isso não importava. As esquerdas traziam esses "brinquedinhos" para as páginas progressistas, sem saber do que esses "pôneis de Troia" significavam contra nós.
E isso envolve até mesmo um conhecidíssimo "médium espírita", oficialmente alvo de adoração extrema e envolto em uma imagem confusa que ora o faz um "homem santo e de superpoderes", ora num "homem humilde e imperfeito".
Não vou citar o nome desse sujeito, por razões que citei em outras postagens.
Mas todo mundo conhece ele e ainda não entende por que ele pode significar más energias.
Só que as gerações recentes foram "educadas" pela ditadura militar, que difundiu valores conservadores como se fossem "acima das ideologias".
E nossas esquerdas mais jovens, mas às vezes algum mais velho ou experiente, caem no "canto de sereia" desse homem falecido em 2002.
Fico imaginando um esquerdista caindo na tentação de publicar uma mensagem "pacifista" do "médium", dessas que, em resumo, apelam para a falácia do "dia de desgraça, véspera de bênçãos".
Tudo sob o pretexto de mostrar uma "mensagem fraternal", em tese para combater as convulsões sociais existentes nos últimos anos.
Só que isso é terrível, em se tratando do pensamento do "médium de peruca", que é o suprassumo do pensamento ultraconservador brasileiro. Quase ninguém admite, mas o "bondoso médium" foi o Olavo de Carvalho da ditadura militar, guardadas apenas as diferenças de contexto.
Seu terraplanismo parecia mais agradável, porque supôs haver uma "cidade espiritual" em cima do Rio de Janeiro e com aspectos que lembram as áreas luxuosas da Barra da Tijuca, com direito a pracinha e bosque. Um "mundo" concebido sem o menor embasamento científico.
E imaginar que os piores "cantos de sereia" vem não de mocinhas bonitas com rabo de peixe, mas de velhos feiosos autoproclamados "médiuns"!...
Vimos dois casos de palestrantes de esquerda reproduzindo mensagens do infeliz sobre a tal "paz" fundamentada no silêncio e na aceitação de infortúnios.
Um recorreu a um "Humberto de Campos" vergonhosamente fake, outro ao "jesuíta do espaço", repaginação de um antigo padre jesuíta e medieval muito conhecido na História do Brasil.
Só que esses recados se chocam frontalmente com as pautas esquerdistas.
Se levarmos em conta essas mensagens "pacifistas", estaríamos aceitando a reforma trabalhista, a reforma previdenciária que nos traria a "aposentadoria do além-túmulo", e acreditaríamos que a Petrobras seria extinta no Brasil para reinar soberana na "vida melhor".
Estaríamos aceitando, da mesma forma, a Escola Sem Partido e até a "cura gay", tudo em nome de um suposto espiritualismo pretensamente pacifista e falsamente unificador.
Grande ilusão. Tomar o incerto como se fosse o certo.
Há um grande perigo de algum progressista cair na tentação e veicular uma dessas mensagens "pacifistas".
Será um horror. A exaltação de uma "paz sem voz", de um "pacifismo" do medo, no qual se usa a "retórica da inversão", transformando medo em suposta coragem, derrota em suposta vitória, silêncio em suposta voz.
Sem falar que o "iluminado mensageiro" foi um sujeito que defendeu com gosto a ditadura militar, foi premiado pela Escola Superior de Guerra e tinha nojo em pensar que Lula seria presidente da República.
Seria melhor a gente abrir mão disso. Que lindas palavras se espera de valores que se fundamentam na aceitação das desgraças? Se fosse assim, então que sofrêssemos calados e aceitemos não só o mandato completo de Jair Bolsonaro, como sua reeleição.
Mas isso não é o propósito das esquerdas, que fazem tudo o que o "bondoso médium" reprovaria: exercer o senso crítico e lutar contra as adversidades e os retrocessos.
A História registra que as maiores conquistas se deram pelo conflito e pelo inconformismo, não pela aceitação do sofrimento em silêncio e "sem queixumes".
Temos que nos lembrar disso, antes de apelarmos para textos pretensamente pacifistas.
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