Hoje o Brasil amanheceu com a súbita notícia da morte do ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gustavo Bebianno.
Com 56 anos, completos no último dia 18 de janeiro, Bebianno havia se sentido mal em casa, tomou um remédio e as dores pioraram, causando um infarto fulminante.
Bebianno tornou-se desafeto de Jair Bolsonaro e, junto com alguns dissidentes como o ex-ator Alexandre Frota, estava no PSDB, partido pelo qual se anunciou pré-candidato à Prefeitura do Rio de Janeiro.
Alexandre Frota escreveu um comentário sobre a perda do colega que, igual ao ex-ator, tornou-se um enérgico desafeto de Jair Bolsonaro, a quem chegaram a apoiar incondicionalmente.
"Bebianno se foi e com ele muitas verdades. O desgosto da vida matou Bebianno. Para uns e outros hoje vai ter festa no Palácio. Para amigos e família a saudade, e para o Brasil uma voz importante que se calou. Triste", expressou Frota, nas redes sociais.
Bebianno era coordenador da campanha eleitoral de Bolsonaro e presidiu o PSL antes dessa tarefa, e rompeu com o presidente mediante o escândalo das investigações de fraude eleitoral.
Bebianno ameaçava denunciar Bolsonaro e companhia, e certa vez Carlos Bolsonaro, um dos filhos do presidente, chamou o então ministro de "mentiroso".
O ex-ministro levou para o túmulo possíveis informações sobre a estranha facada contra o então presidenciável, em Juiz de Fora, e como as fake news possibilitaram a vitória do "mito".
É o segundo morto que iria denunciar Bolsonaro, depois que Adriano Nogueira, miliciano que havia sido condecorado por Flávio Bolsonaro, outro filho do presidente, foi assassinado na Bahia.
Adriano era chefe do "Escritório do Crime", organização de milicianos, e teria informações relacionadas ao assassinato de Marielle Franco (ocorrido há exatos dois anos), cujos mandantes até hoje são desconhecidos.
O "Escritório do Crime" teria ligações até mesmo com o jogo-do-bicho carioca, cujos chefões na prática introduziram o coronelismo e a pistolagem, tal como se conhece no Norte do país, no "moderno" Rio de Janeiro em decadência vertiginosa.
Gustavo Bebianno, nos tempos em que atuava na campanha de Bolsonaro, também se declarou admirador de um "médium espírita" de Minas Gerais, aquele muitíssimo conhecido.
Bebianno enfatizou o apoio que o "médium" deu à ditadura militar, num programa de TV de enorme audiência, em 1971.
Sabe-se que o "médium", hoje falecido e tido como "símbolo maior de paz e fraternidade", defendeu a ditadura com uma convicção ferrenha e foi premiado pela Escola Superior de Guerra, no ano seguinte ao programa, por ter contribuído em favor do poder dos militares.
Era, portanto, um "médium de direita" e dos piores, blindado pela Rede Globo, e que usou a moda das "cartas mediúnicas" para alegar que "é lindo morrer cedo", uma mensagem subliminar que fazia as pessoas aceitar tanto as perdas de entes queridos quanto das vítimas da repressão militar.
Lamentável setores das esquerdas se iludirem com o "médium" devido à sua suposta imagem de "caridade", plantada pela ditadura e pela Globo e que nunca passou de Assistencialismo barato, aos moldes de Luciano Huck (admirador confesso do "médium").
Beneficiado pela memória curta e pelo falecimento antes dos contextos políticos atuais, muita gente enganosamente considera o "médium" uma figura "progressista" e "avançada", quando fatos e sua obra confirmam que ele sempre foi um reacionário dos mais retrógrados.
A obra do "médium" se fundamentava na medieval Teologia do Sofrimento, que pedia aos sofredores se conformarem com a própria desgraça, em reclamar e só se sacrificando além do suportável para obter as inexplicáveis "bênçãos divinas".
Voltando a Gustavo Bebianno, foi divulgado um depoimento do ex-ministro do qual teriam sido suas palavras finais:
"Todos que tentam trabalhar terminam alvejados pelas costas. O Brasil ainda vai enxergar quem são Bolsonaro e seus filhotes", disse Bebianno.
Esse último depoimento, Bebianno se referiu à pessoa do general Luiz Eduardo Ramos, ministro da Secretaria de Governo, que passou a desagradar o então amigo e presidente Jair Bolsonaro.
Segundo se consta, Bolsonaro não está gostando da forma que Ramos articula as relações com o Poder Legislativo, representado pelas figuras dos presidentes da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, e do Senado, Davi Alcolumbre.
Em todo caso, a tragédia de Gustavo Bebianno é suspeita.
Assim como até hoje ninguém conseguiu agora digerir a tragédia do ministro do Supremo Tribunal Federal, Teori Zavascki, que embarcou num voo a convite de um empresário suspeito, também falecido no acidente aéreo.
Bebianno já havia dito, numa entrevista à Jovem Pan em dezembro de 2019, que estava sendo ameaçado.
"Me sinto, sim, ameaçado. O presidente Jair Bolsonaro é uma pessoa que tem muitos laços com policiais no Rio de Janeiro. Policiais bons e ruins. Me sinto, sim, vulnerável e sob risco constante.", disse ele.
O ex-ministro também havia informado que há material, deixado fora do Brasil, com informações sobre os bastidores do governo Bolsonaro e outros assuntos relacionados.
"Eu tenho material, sim, inclusive fora do Brasil. Porque eles podem achar que, fazendo alguma coisa comigo aqui no Brasil, uma coisa tão terrível que fosse capaz de assustar quem estivesse ao meu redor e, portanto, inibir a divulgação de algum material... Eu tenho muita coisa, sim, inclusive fora do Brasil. Então, não tenho medo", disse.
Bebianno disse que não tinha medo de morrer, na referida entrevista. Mas, em 02 de março último, no programa Roda Viva, da TV Cultura, ele falou que "tinha medo de dizer tudo o que sabe" e afirmava que a única segurança que tinha era do seu filho, presente na plateia.
Gustavo Bebianno morreu, mas ele, com certeza absoluta, "renasce" como um mistério que renderá muito o que investigar, falar e escrever.
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