Fico comparando as "minifestações" pró-Bolsonaro que ocorreram ontem, apesar das restrições do coronavírus, com o que a página de recados da Rádio Cidade, do Rio de Janeiro, apresentava há 20 anos.
Pseudo-rebeldes, exatamente como são os bolsomínions hoje, se manifestavam pelo fechamento do Congresso Nacional igualzinho aos dos reaças de hoje, sob a desculpa de que "todo mundo é corrupto".
A Rádio Cidade só é "rádio rock" num contexto de profundo terraplanismo, que faz com que a doença coronavírus seja ao mesmo tempo superestimada e subestimada, banal e imprevisível.
Vivemos um tempo muito louco e a emissora de rádio que simboliza, oficialmente, a rebeldia juvenil, é, na verdade, uma comportada rádio pop que apenas força a barra com um vitrolão roqueiro.
Ou seja, se existem roqueiros na Rádio Cidade, eles são apenas dois: o toca-CD e o pen drive.
Se tirar os dois, não sobram sequer as bactérias para defender a bandeira do rock. Até porque o envolvimento dos radialistas da Cidade FM com o rock é medido pelo cartão postal do trabalho.
É só cortar o salário dos radialistas da Cidade e eles vão logo disparando palavrões contra os músicos de rock.
Aquilo lá é uma brincadeira de faz-de-conta. "A gente finge que é rádio de rock e vocês, ouvintes, fingem que são roqueiros".
Esse faz-de-conta é tão certo que os ouvintes da Rádio Cidade não estão preocupados em discernir Foo Fighters e Sistem of a Down. Ou, numa ilógica invertida, não se preocupar se o baterista do Nirvana, Dave Grohl, é justamente o mesmo guitarrista e vocalista dos Foo Fighters.
Só que a Rádio Cidade (nome, aliás, banal demais e até muito tolo para nomear uma rádio de rock) é uma daquelas instituições ou personalidades que são "santificadas" pela maioria das páginas disponíveis na Internet.
Como DJs de "funk", intelectuais pró-brega e "médiuns espíritas", gente "santificada", com todo munfo falando bem, fazendo elogios, como se fossem o primor da superioridade humana.
Pesquiso a busca do Google e parece até que certos nomes integram uma plêiade de anjos divinos, quando na verdade eles pertencem a planos, digamos, muito rasteiros.
E os ouvintes da Rádio Cidade são uns terraplanistas explícitos, veem o rock de acordo com seus próprios umbigos.
Eles nem curtem rock realmente, aceitam apenas o que é "identificável" como rock para se promoverem às custas desse som. Algo como sentir-se "mais viril e mais americano".
São os "roqueiros da Artplan", não muito diferentes dos fãs de Luciano Hang, da Havan.
Ou aqueles bolsomínions consumidores de notícias que festejam a chegada da CNN Brasil, com a promessa de ser "imparcial" (eufemismo para "favorável") ao governo Bolsonaro.
Aliás, a CNN, nesse Brasil de Quenuncas, veio com seu microfone com a expressão errada, "CNN Rasil". Tudo a ver nesta nação de caneladas sem fim.
São pessoas que veem o mundo conforme suas convicções pessoais. Gente que só defende aquilo que lhes agrada e xinga e ofende quem discordar de seus pontos de vista equivocados.
Daí a arrogância dos ouvintes da Rádio Cidade que faz os irmãos ex-Oasis, Liam Gallagher e Noel Gallagher, parecerem exemplos máximos de humildade e simplicidade humanas.
E isso abriu precedente para o bolsonarismo que hoje vemos, com falsos rebeldes desprezando o mundo, a realidade, a lógica dos fatos, e até mesmo o coronavírus.
E como o Rio de Janeiro é que produziu o vírus do bolsonarismo, através de graduais aventuras golpistas, a partir das eleições de Eduardo Cunha e Jair Bolsonaro, como deputados federais em 2014, então faz sentido a seguinte ideia.
Que o ovo da serpente do golpismo brasileiro ter sido produzido sob as ondas dos 102,9 mhz cariocas. Daí que a Rádio Cidade voltou "definitivamente" nesses tempos de bolsonarismo iniciados em 2019.
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