As campanhas presidenciais de 2018 e 2022 se tornaram as mais confusas e surreais da História do Brasil, pelo menos a mais recente. Se em 2018 o bolsonarismo venceu as urnas mesmo com tantas opções para os antipetistas, desta vez a polarização entre bolsonarismo e lulismo deixou a campanha eleitoral sem graça e ainda mais confusa.
Os brasileiros, em maioria, não atingiram a maturidade política. E boa parte do povo brasileiro paga por ter eleito Jair Bolsonaro, que nunca cumpriu uma agenda positiva sequer. Mais parecendo um internauta sociopata brincando de ser presidente da República, Bolsonaro só tem como vantagem a estratégia de obter visibilidade e manipular a seu favor circunstâncias que poderiam derrubá-lo. Como presidente, Jair Bolsonaro é um excelente influenciador digital.
Mas o aparente fortalecimento de Bolsonaro também conta com incidentes que, realmente, ameaçam. Foi o caso de Roberto Jefferson, acusado de vários crimes políticos e que voltaria a ser preso depois de liberado sob uso de tornozeleira. Armamentista, o ex-deputado, que começou sua carreira no popularesco O Povo na TV, do SBT, reagiu à prisão e ficou oito horas resistindo, até ser rendido no último domingo. Ele ficará preso, talvez, até o fim da vida, e já está idoso e doente.
Bolsonarista e capaz de virar o PTB pelo avesso, transformando o partido do varguismo numa sigla de extrema-direita - algo irônico se percebermos, por exemplo, que o PSD atual não é formalmente ligado ao PSD dos tempos de Juscelino Kubitschek, mas possui grande afinidade programática que faz parecer que o partido "ressuscitou" - , Roberto Jefferson criou problemas ao perder a cabeça e atirar em policiais, classe profissional em maioria apoiadora de Bolsonaro.
A ação do ex-deputado causou um profundo desgaste no bolsonarismo, uma crise tão grande que o presidente teve que mentir, alegando que "não existe foto dele com Roberto Jefferson". Sabe-se que existem muitas fotos de Roberto Jefferson com Jair Bolsonaro, como a que escolhemos para esta postagem, na qual os dois parecem tão entrosados como se fossem amigos de infância.
É certo que Roberto Jefferson, com seu ato extremo - aparentemente de acordo com o bolsonarismo, mas que tornou-se prejudicial à reputação do presidente - , desgasta a campanha de Bolsonaro para a reeleição e cria desentendimentos internos entre os extremo-direitistas em geral. Isso pode gerar um impacto nas eleições, causando derrota em Bolsonaro, mas não representará o fim do bolsonarismo. As feras continuam soltas e os bolsonaristas ficarão furiosos se o presidente for derrotado por Lula.
Já Lula, que decepcionou, e muito, com sua campanha, só consegue se sobressair porque trabalha um mito sustentado por suas realizações passadas. Um mito carismático que conquista os jovens, e um mito sustentado pelas ações que fez em dois mandatos anteriores, que aparentemente compensam a falta de um programa de governo claro e definitivo.
Por sorte, Bolsonaro é nocivo demais para merecer um novo mandato. Lula governando é menos ruim, e tem a vantagem de trazer de volta a normalidade institucional. O problema, porém, é que Lula fez uma campanha suja, se impondo como "candidato único", e se nivelou a Sérgio Moro nas causas "excepcionais" e em Bolsonaro na imposição de sua vitória eleitoral.
Com o ato extremista de Roberto Jefferson, Lula teve a sorte de ver a queda de seu favoritismo se reverter para uma leve recuperação. Mas ainda é cedo afirmar que Jefferson será visto como o "coveiro" do governo Bolsonaro. O próximo domingo é que dirá que rumos o país vai viver, se continuará no extremo-direitismo pândego do governo atual ou dará lugar ao neoliberalismo assistencialista de um Lula que jogou fora todo o seu esquerdismo, tornando-se o pelego mais querido do Brasil.
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