Com uma campanha eleitoral cheia de erros, muitos constrangedores, Lula encerra sua corrida para o Planalto como favorito, em clima de Carnaval, consagrando o clima de "já ganhou" que o petista fingiu não sentir e fez que cobrou dos seus seguidores evitarem tal sensação.
No sábado, na Avenida Paulista aqui em São Paulo, portanto horas depois do debate presidencial da Rede Globo, no Rio de Janeiro - que Lula topou participar, hoje à noite - , Lula fará uma caminhada em clima de Carnaval, com desfile e tudo, talvez antecipando sua vitória, no caso de não haver um imprevisto que garanta a reeleição de Jair Bolsonaro.
Lula consagra sua trajetória e conclui sua campanha com um dos erros mais vergonhosos, o de fazer um clima de festa num Brasil distópico. De que adianta Lula admitir, da boa para fora, que o Brasil de hoje está pior do que em 2003, se desenvolve sua campanha em clima de euforia, como se fosse, em vez de reconstruir o país, construir um Paraíso?
Imagine um prédio destruído por algum desastre e o engenheiro designado para reconstrui-la promete não apenas reconstruir o edifício, como fazer dele um palácio, e celebrar a reconstrução acompanhado de banda de coreto, dançarinas segurando pompons, palhaços e equilibristas. É Lula querendo reconstruir o país, com o petista fazendo o papel do Papai Noel da campanha presidencial.
Isso me fez desistir de Lula, porque a situação brasileira requer muita cautela. O golpe político de 2016 provocou estragos muito grandes e o pior é que boa parte de seus mentores está com Lula, em maioria sem demonstrarem arrependimento nem autocrítica, apenas falando vagamente em "democracia".
Na minha missão jornalística, até enviei um questionário para o Geraldo Alckmin, enviado na página do PSB. Mas não obtive resposta. O que me fez decepcionar ainda mais com a campanha de Lula, feita sem escrúpulos, apenas explorando a emotividade do eleitorado lulista.
Há um clima de alegria exagerada, porque muitos imaginam que o bolsonarismo está no fim. Não está. O momento sempre foi de cautela, o golpismo de 2016 cresceu como bola de neve, Michel Temer fez o caminho para Jair Bolsonaro e muita gente que hoje é "amiga de infância" de Lula aplaudiu o "pacote de maldades" do temeroso governante.
Os bolsonaristas estão soltos e prometem vingança. Por isso não é clima para alegria nem festa. Mas como o pessoal está muito ansioso, inaugura-se a era de positividade tóxica na qual o Brasil tem que ser feliz à força, como um "AI-5 do bem", um "milagre brasileiro sem DOI-CODI", sob o qual deixemos de lado o senso crítico, para depois deixar a vida nos levar como birutas ao sabor do vento, porque é ficando calado que se permitirá um caminho rápido para o Brasil virar "primeiro mundo", ainda que de mentirinha.
Senso crítico, tristeza eventual, desilusões, tudo isso se joga no lixo do bolsonarismo. A onda agora é ser feliz à força. Aceitar tudo, a começar por um Lula que põe um opositor como vice de sua chapa - o que será péssimo quando o titular se ausentar nas viagens ao exterior - , que falta a debates na TV, que humilha a Terceira Via no primeiro turno, que não apresenta ideias claras sobre o que vai fazer (como a proposta de revogar ou flexibilizar teto de gastos e reforma trabalhista).
Aceitar sempre o arrivismo, como um trampolim para a vantagem e a vitória fáceis, e não questionar. Enquanto quem tem senso crítico, autocrítica, se arrepende e não embarca no bacanal do "estabelecido", enfim, gente que se recusa a "tomar no cool", fica à margem. Esse pessoal não será punido com prisão, multa ou morte, mas será punido pelo desprezo público, por pregarem no deserto.
Se você não vai para as casas noturnas da moda, não cultua o "médium da peruca", não gosta de "funk", não curte futebol, não toma cerveja, não acha a 89 FM (aka Faria Lima FM) "a melhor rádio rock do mundo", não vê Big Brother Brasil, não considera Michael Sullivan "vanguarda" e não admira as "belezas" de Valesca Popozuda e Pabblo Vittar, então você está fora, porque a onda agora é "tomar no cool" mesmo, ter que bancar o legalzão o tempo todo.
Temos que embarcar no trio elétrico da classe média do atraso, a elite vira-lata enrustida que agora está com Lula e quer transformar o Brasil do futuro num Carnaval, sob a ilusão de que o barulho da festa lulista possa abafar os tiros e gritos dos bolsonaristas vingativos.
Lula sempre falou que quer ver o brasileiro "voltar a sonhar". E os lulistas estão sonhando demais e impondo esse sonho à realidade. Até que o pesadelo oculto do golpismo de 2016 possa devolver o nosso país à realidade. Não sou pessimista, mas prefiro ser realista e evitar pular nessa festa da positividade tóxica, dessa alegria forçada que despreza os problemas alheios.
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