LULA ESTÁ REZANDO PARA DEUS PROTEGER SEU PROJETO DE ESQUERDA?
Velho e cansado, Lula se meteu numa enrascada, devido à sua teimosia de arriscar, perto dos 80 anos de idade, uma aventura política cheia de pressões bastante pesadas. Não bastasse ter que aguentar o amargor de ver o Congresso Nacional se tornar conservador, ele agora tem que aturar as pressões dos empresários aliados que estabelecem condições para o apoio, como uma política econômica mais conservadora e próxima do neoliberalismo.
Se o Congresso Nacional acabou recebendo um monte de novos políticos conservadores - gente que parecia fatalmente atingida pelas chacotas das esquerdas, como Sérgio Moro, Deltan Dallagnol, Ricardo Salles, Damares Alves e Mário Frias, foi eleita para cargos legislativos - , é porque Lula, ao pedir para o eleitorado só votar em candidatos progressistas, só falou para convertidos.
Lula cedeu tanto do seu projeto político progressista que, de 2021 para cá, praticamente NADA do antigo esquerdismo restou. O "Lulão dos sindicatos", o "Lula do chão de fábrica", está mais morto do que Elvis Presley, pois o que se vê no Lula de hoje é um neoliberal assistencialista, que trata as classes trabalhadoras não mais na condição de companheiros, mas de forma bastante subalterna e inferiorizada.
Com erros estratégicos sérios, Lula não se aposentou e, em vez de lançar um nome novo que revigorasse o PT e reoxigenasse as esquerdas brasileiras, preferiu, ele mesmo, o velho petista cansado, com ar abatido e possivelmente doente, apenas recebendo maquiagem e tintura prateada no cabelo (para disfarçar o branco naturalmente fúnebre de seus fios) para não parecer tão frágil. E Lula, para justificar a voz "cansada", alega ser um problema "que já está sendo tratado por um fonoaudiólogo".
E aí vemos o grande constrangimento, bastante perigoso para um homem da idade de Lula, em ter que abrir mão de ideias progressistas de tal maneira que o petista se encontra numa sinuca de bico, pois ele não poderá impor seus projetos de esquerda, pois o antipetismo pode retornar e um golpe pode tirá-lo do poder. E Lula também receia de fazer concessões à direita, para não decepcionar seus seguidores.
A situação está grave. A presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, até tentou amenizar, dizendo que "todos conhecem o pensamento de Lula", garantindo que o presidenciável "sabe do que está fazendo" e irá negociar de forma a garantir o sossego dos empresários e a permanência de programas e propostas de cunho social, benéficas aos trabalhadores e miseráveis.
Mas as coisas não são fáceis. Na teoria, é muito cômodo juntar esquerda e direita e dizer que "é tudo democracia". Cria-se, mesmo de maneira postiça, um ponto em comum, como, por exemplo, a derrota do bolsonarismo, monta-se uma frente excessivamente ampla para garantir votos e alega que é "um grande movimento de recuperação da democracia".
Chega-se ao ponto de Lula dizer que as alianças com a direita moderada não são feitas somente para derrotar o bolsonarismo nem para facilitar a vitória eleitoral. Ele mesmo falou que tais alianças seriam "necessárias" para garantir a governabilidade, como se isso garantisse, também, a estabilidade social, política e institucional formalmente democráticas.
Tudo tem, todavia, seu preço. E a direita moderada não foi apoiar Lula de graça. As esquerdas lulistas falam, com certa raiva ingênua, que as elites empresariais estão "sequestrando" Lula e "impondo condições" para apoiar o petista. As esquerdas estão reclamando disso como quem reclama da presença de carne seca e linguiça numa feijoada.
Lula não iria se juntar à direita moderada por causa do perfume cheiroso dos paletós novinhos. E elas não apoiariam Lula por acharem ele bonito e fortão. Nada disso. Há um acordo de conveniência muito sério, muito grave.
A verdade é que Lula tem que sacrificar muito de seu projeto progressista, e ele já abriu mão da revogação total da reforma trabalhista e do teto de gastos. Já prometeu que irá aproveitar pontos da reforma trabalhista de Temer que fossem menos danosos. E fica dizendo o tempo todo que irá revogar o teto de gastos, mas irá gastar o dinheiro público "de forma responsável", como se dissesse que não irá investir tanto dinheiro público, até porque haverá a PPP, Parceria Público-Privada, para tal fim.
Será um hibridismo entre um neoliberalismo pouco flexível e um assistencialismo que apenas atenderá às demandas populares nos limites de evitar a revolta e a indignação do povo pobre. Apenas botar água com açúcar na miséria alheia, sem dar um padrão de qualidade de vida em níveis escandinavos de justiça social, mas somente um conforto social paliativo. Somente para abrir um sorriso, ainda que triste, ou fazer o brasileiro comer três vezes ao dia, ainda que seja só arroz e feijão e um pão dormido e um café ralo.
Este é o preço da teimosia de Lula, que agora enfrenta uma situação constrangedora. Ele não pode jogar seu projeto político mais à esquerda, para evitar ser golpeado e voltar para a prisão, mas ele não pode jogar seu projeto político mais à direita, para não causar decepção nos seus seguidores. Com isso, Lula terá que fazer um governo medíocre, que ainda assim causará decepção pelo permanente duelo entre recuos e avanços. Esqueçam esse negócio de Brasil feliz de novo. A felicidade ainda é um patrimônio da Faria Lima.
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