LULA FOI AO FLOW PODCAST, DE IGOR COELHO, MAS NÃO VAI PARA O DEBATE PRESIDENCIAL DO SBT.
Lula repete os mesmos erros que lhe garantiram uma vantagem magra sobre Jair Bolsonaro, cancelando a chance de vencer no primeiro turno da campanha presidencial. Na etapa atual de campanha, Lula tenta recuperar o apoio esquerdista, enfatizando os movimentos sociais e dando um tempo nos apoios das ricas elites que lhe facilitaram as vantagens eleitorais.
Ontem Lula foi ao Flow Podcast, de Igor Coelho, cujo ex-parceiro é Bruno Monteiro Aiub, o Monark, que é um direitista com poses de "isentão" e repercutiu mal com seus comentários, daí ter saído do Flow e ter criado seu próprio canal, o Rumble.
Repetindo o sucesso do PodPah, Lula atingiu um milhão de visualizações. Chamou Jair Bolsonaro de "pedófilo" e "mentiroso", disse que não tem idade para governar com desejo de vingança e falou de propostas genéricas voltadas ao público juvenil e ao povo das periferias.
Aparentemente, a ida de Lula ao Flow parecia ter "furado a bolha" de sua base de apoio. Só que não. O que ocorreu é que Lula falou para o mesmo público cuja maioria se sente mais à vontade votando no petista do que em alguém como Jair Bolsonaro.
Lula comentou sobre seu medo de "ficar careca e não casar", e apenas foi ligeiro em comentar sobre a queda de cabelo devido à quimioterapia para resolver um câncer em 2011. O cabelo voltou a crescer, mas não como antes do tumor. Nota-se, aliás, que o cabelo de Lula está estranho, fazendo muitos desconfiarem que o câncer retornou.
O texto que reproduz toda a entrevista está disponível aqui. Lula falou de sua carreira política iniciada em 1978, da fundação do PT, fez críticas a Bolsonaro e começava a maioria das respostas com o bordão "Deixa eu contar uma coisa..." ou "Deixa eu te falar...". Falou de suas realizações nos dois mandatos, nos progressos de inclusão social feitos na época. Falou até da crise econômica de 2008, quando Lula afirmou que aquilo "era uma marolinha". E também da prisão imposta pela Operação Lava Jato.
E sobre o movimento operário, Lula justificou o distanciamento do PT às bases - alertado por Mano Brown, em discurso que Lula compreendeu, dizendo até concordar - pelo argumento de que o movimento operário de hoje não é o mesmo do que na época do Lula sindicalista. Cabe reproduzir aqui um trecho:
"Obviamente que isso aconteceu, o partido cresceu e o partido se afastou da sua base originária, também porque a base operária que criou o PT já não existe mais como existia nos anos 80. Quando eu era presidente do Sindicato de São Bernardo, nos anos 80, a Volkswagen tinha 44 mil trabalhadores; hoje tem sete mil. Também o mundo do trabalho não é mais o mesmo. Então mudou. Mudou a base do PT".
Por outro lado, Lula admite que o PT "tem gente mais sofisticada, tem gente que já não é mais operário, tem gente que já não é mais da base". Quanto à necessidade de autocrítica, Lula repetiu a mesma evasiva que havia feito meses antes:
"fantasticamente engraçado como as pessoas pediram para o PT fazer a autocrítica. Veja, se eu fizer autocrítica todo dia, eu não preciso de oposição. A oposição é que tem que me criticar. Por que eu mesmo tenho que me criticar?".
Lula também falou que o pobre "não quer ser mais pobre", e aqui, no entanto, devemos pensar em algo que não apareceu no podicaste. Durante os dois mandatos de Lula, houve uma sabotagem de uma elite intelectual, a intelectualidade pró-brega - tema do meu livro Esses Intelectuais Pertinentes... - , que impôs um culturalismo brega, não assumidamente viralatista, sob a máscara do "combate ao preconceito" para glamourizar a pobreza e impedir que debates como o CPC da UNE e a música de protesto dos festivais de MPB dos anos 1960 voltem à tona.
Ou seja, hoje se defende a prostituição, a favela, o comércio clandestino e o alcoolismo como se fosse defender quem recorre a essas ideias tristes. Defende-se esses fenômenos, mas não se defende que prostitutas, favelados, comerciantes informais e alcoólatras saiam dessas condições para obter dignidade. Para piorar, criou-se até "rádio comunitária" para prostitutas e as favelas, glamourizadas, viraram "paisagens de consumo", "safáris humanos".
Lula se concentrou nas suas realizações, usando como estratégia, bastante equivocada, que é a de se apoiar no que ele fez, enquanto não mostra de maneira precisa o que realmente vai fazer. Em outros pontos, Lula defendeu a escolha de Geraldo Alckmin argumentando "necessidade de ampliar o leque visando reconstruir o Brasil" e afirmou que "tem programa de governo", que são os "15 pontos básicos" que contaram com sugestões dadas por internautas.
Lula falou sobre futebol e crença em Deus. Falou que defende um "padrão inglês" de regulação da mídia, mais "plural", voltado à sociedade. E reafirmou que, explicando a não apresentação de um texto final do programa de governo, que "as pessoas já sabem mais ou menos" o que o petista vai fazer, com base no que foi feito nos mandatos anteriores. Só que o contexto de 2023 é diferente do de 2003, e Lula, apesar de admitir que o contexto de hoje está pior, prefere justificar o "fazer" pelo "já feito".
Em dado momento, Lula disse que "não tem medo do debate". Mas já avisou que não vai comparecer ao debate com Jair Bolsonaro no SBT. A justificativa é que tem dois comícios, um em Teófilo Otoni, outro em Governador Valladares, ambos em Minas Gerais, portanto longe de São Paulo.
Grande erro estratégico. Mas Lula não tem autocrítica, e, embora aceite as críticas, as despreza. Lula tem o seu jeito de dizer que "está certo em tudo". Só que os resultados não saem como desejado. Enquanto um desastrado e maléfico Bolsonaro continua crescendo em vantagem e visibilidade, apesar de seus comentários socialmente desumanos, como no recente caso das adolescentes venezuelanas.
Lula não toma cuidado com a realidade. Nem tudo é como ele deseja e quer. Seus erros estratégicos são tão grandes que ele, tão obsesso em conquistar a vitória no primeiro turno, tentando evitar o enfrentamento da Terceira Via, acabou obtendo uma vantagem magra de seis milhões de votos. Esse é o preço da falta de autocrítica. Se Lula descuidar, ele vai ter que chorar nos ombros do Geraldo Alckmin, enquanto Bolsonaro sai de motociata com sua turma.
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