Foi Lula cometer seus erros primários - clima de festa, alianças com opositores e promessas fora da realidade - para sua campanha só não ter sido um fracasso porque apelou para a emoção. Mas se Lula obteve uma vantagem de cerca de 55 milhões de votos contra 50 milhões de Jair Bolsonaro, evitando assim a vitória em primeiro turno, isso significa que, na essência, o lulismo perdeu uma batalha.
Lula já estava pensando no primeiro turno de tal forma que já estava elaborando a equipe de governo e as relações internacionais. Mas, agora, Lula perdeu três semanas que gostaria de ter usado para planejar o novo governo e também não existe garantia de que ele vencerá de qualquer maneira, pois o bolsonarismo, mesmo aparentemente desidratado, conseguiu expressiva vitória no Congresso Nacional.
E aí temos um Legislativo que tende a ser majoritariamente conservador, enquanto haverá uma minoria esquerdista predominantemente identitária, portanto pouco identificada com as causas trabalhistas. Isso fará uma diferença negativa e o tão sonhado governo de esquerda de Lula, já comprometido com a escolha do neoliberal irredutível Geraldo Alckmin para vice na chapa, está praticamente descartado.
Lula agora terá que reduzir a quase nada o projeto progressista. Terá que encarar um Congresso Nacional que irá vetar propostas mais audaciosas. Lula já negociou com os aliados neoliberais que, no lugar das privatizações das estatais, se estabelecesse a PPP, Parceria Público-Privada, através de ações comandadas pelas estatais mas com participação ativa da iniciativa privada.
Outros pontos são a reforma trabalhista e o teto de gastos, que tendem a ser parcialmente descartados, enquanto alguns pontos são preservados. A cobrança de impostos aos mais ricos está descartada, pois são eles que irão ajudar, mais uma vez, Lula a ser eleito. Resta a Lula trabalhar em programas sociais que têm a marca do PT, como Bolsa Família, Fome Zero e outros, incluindo o novo Sistema Único de Assistência Social (SUAS), enquanto a parte técnica ficará com o vice Alckmin.
Em outras palavras, tudo indica que Lula fará um governo neoliberal, com fraca inclinação social. Ele fará de tudo para, ao menos, garantir emprego, moradia, salários razoáveis e combate à fome para minimizar os prejuízos na vida do povo mais pobre.
Mas tudo isso será feito nos limites de um neoliberalismo pouco flexível e agravado não só pelas alianças de direita moderada, mas também pela ação de um Legislativo conservador que barrará, direta ou indiretamente, alguma proposta mais progressista. No caso indireto, as alianças com o chamado Centrão farão com que Lula faça muitas concessões, e aí veremos o sepultamento de um projeto progressista de esquerda, tão sonhado há um ano. Não será desta vez que o Brasil vai ser feliz de novo.
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